Você certamente já deve ter ouvido que a China dá certo porque o poder é centralizado em uma pessoa só. A forma como a pandemia foi enfrentada por lá e a própria rivalidade entre China e Estados Unidos são comumente interpretadas como uma oposição entre autocracia e democracia. Contudo, como aponta Yuen Yuen Ang em um artigo para o Project Syndicate, entender a conjuntura atual entre as duas maiores potências do mundo a partir dessa dicotomia é simplista, falho e potencialmente perigoso.

A começar pelas generalizações: nenhum dos dois países deve ser tratado como padrões desses dois regimes. A Coreia do Sul e a Nova Zelândia, por exemplo, são democracias que lidaram muito bem com a COVID-19 sem que a liberdade política fosse limitada. Em segundo lugar, há democracias com características nada liberais e autocracias que podem ser liberais — como é possível ver com as medidas adotadas por Deng Xiaoping. E por fim, a dicotomia falha em perceber os pontos cegos de cada regime e nos impossibilita de pensar em um tipo de governança que pode ser plural e estável ao mesmo tempo.


Aconteceu entre os dias 26 e 29 de outubro a quinta sessão plenária do 19º Comitê Central do Partido Comunista Chinês, onde foi feita uma revisão sobre os resultados do 13º Plano Quinquenal (2016-2020) e discutido os objetivos de desenvolvimento do 14º Plano Quinquenal (2021-2025) que está por vir. Também alinharam metas de longo prazo para consolidar a modernização socialista do país até 2035. Inovação no meio rural e desenvolvimento com baixo impacto de carbono, a estratégia de “dupla circulação”, além de aprofundamento de reformas de mercado e segurança nacional estiveram na mesa. A Folha fez uma matéria resumindo os principais pontos.

Com tantos encontros e planos importantes, é fácil se perder na estrutura de decisão de poder da China. Vale dar uma olhada no vídeo explicativo de Adam Ni para entender tudo isso.


MacroPolo, think tank especializado em assuntos chineses do Instituto Paulson, acaba de lançar o relatório Forecast 2025: China Adjusts Course. No documento, analistas traçam previsões sobre o curso do país ao longo dos próximos 5 anos nas áreas de política, economia, tecnologia e energia, tangenciando assuntos importantes como a evolução do poder e influência de Xi Jinping, os desafios oriundos de hostilidade internacionais e tensões internas, e a modernização da infraestrutura produtiva chinesa. Destaque também para elucidações quanto à continuidade das reformas econômicas no gigante asiático e o início de um processo mais vigoroso rumo à transição para fontes energéticas sustentáveis.


Como andam os esforços do governo chinês para erradicar a pobreza? Dois materiais bem interessantes lançam mais luz sobre essa questão. O primeiro é um webinar organizado pelo Instituto MERICS, especialmente falando sobre o tema de erradicação da pobreza rural até 2020. O segundo link é do China Power, que traz uma série de gráficos, dados e breve análises das políticas nos últimos anos. Bom material para pensar os desafios dos próximos anos que o país enfrenta, em um contexto de desaceleração da economia chinesa e mundial.

Há pouco mais de um mês, um documento contendo teorias conspiratórias sobre laços de Hunter Biden, filho do candidato à Casa Branca Joe Biden, com o governo chinês viralizou em portais de direita pelo mundo, especialmente entre aliados e apoiadores de Donald Trump. Agora, uma equipe de pesquisadores de desinformação revelou que tanto o autor do relatório — um homem suíço supostamente chamado Martin Aspen — quanto a organização à qual ele estaria afiliado são falsos. Após a descoberta, Christopher Balding, crítico de longa data de Pequim e uma das primeiras figuras públicas a compartilhar o relatório, admitiu que Aspen de fato não existe. Balding, que também assumiu escrever partes do relatório, se defendeu das críticas dizendo que estava protegendo sua fonte de “riscos pessoais e profissionais” ao ocultá-la como autora do documento.

E o escândalo chegou também ao jornal Apple Daily, uma das principais vozes de Hong Kong críticas ao governo da China continental. Para além de explicar a sua conexão com o caso, Balding afirmou que o relatório teria sido comissionado pela publicação. Em resposta, Jimmy Lai, bilionário da área do varejo e da mídia e proprietário do Apple Daily, confirmou que seus fundos foram usados para pagar pelo projeto, mas que tudo aconteceu sem seu conhecimento prévio. Jimmy afirma que um executivo sênior da publicação foi o responsável pela transação, mas admitiu que entende ser difícil acreditar que ele de fato não sabia sobre o caso. “Minha integridade foi danificada”, completou.


Davi e Golias? A capacidade de negociação do Djibouti com a China é algo que já foi bem pautado nas relações entre o país asiático e o continente africano. Em 2017, o pequeno país, situado no Chifre da África e que espera se tornar o portão de saída de cargas da região, recebeu a primeira base naval chinesa instalada fora do território da República Popular da China. Entre muitas controvérsias, uma das questões foi que o país, pelo seu tamanho e pouca influência, teria pouca capacidade de dizer “não” para o gigante asiático. Um recente estudo de caso discute que, na verdade, o governo do Djibouti soube usar bem a sua posição geográfica estratégica nas negociações e garantiu concessões da China, apesar da relação assimétrica. Além disso, o país usou a presença chinesa para barganhar com outros países, como França e EUA.

Ainda sobre a presença chinesa no continente africano, uma matéria do South China Morning Post veiculada na última quinta-feira (29) noticiou um acordo comercial firmado entre Tanzânia e China. Wu Peng, diretor de assuntos africanos do Ministério das Relações Exteriores da China, informou que seu país passará a importar soja da Tanzânia. Wu afirmou que o acordo é convergente com o compromisso feito por Pequim de diversificar suas importações oriundas de países africanos, hoje muito restritas ao comércio de recursos naturais. Analistas entrevistados na reportagem apontam para um processo de diversificação no fornecimento de soja ao país asiático. As compras chinesas de produtos agrícolas dos EUA também vêm aumentando, consequência da fase 1 do acordo comercial entre os países. Ambos os movimentos deveriam chamar a atenção do Brasil, maior produtor mundial de soja e grande interessado no mercado chinês.

Angústia. Ansiedade. Uma espécie de luto por tudo que poderia ser, mas que desapareceu em um piscar de olhos. Esses são alguns dos sentimentos compartilhados por milhões de pessoas desde que a pandemia começou, e que a Sixth Tone narra com primor entrevistando 13 recém graduados na China. São jovens de vinte e poucos anos que se viram sem perspectiva de continuar os estudos e emprego depois de formados. Alguns passaram meses vivendo em um campus fechado durante a fase mais dura do lockdown.


Aproximadamente 130 mil pessoas participaram, no último sábado (31), da Parada do Orgulho LGBTQ em Taipei, na ilha de Taiwan. O evento — a maior celebração presencial pró-comunidade LGBTQ no mundo desde o início da pandemia da COVID-19 — reforça a imagem de Taiwan, não somente como um líder da advocacia dos direitos LGBTQ na Ásia, mas também como um dos lugares mais seguros do mundo em meio à persistente propagação global do novo coronavírus. Nessa semana, vale notar, os taiwaneses alcançaram a marca de 200 dias consecutivos sem nenhum caso de transmissão local do vírus, um caso de sucesso que contou, dentre outras medidas, com o exame de passageiros vindos de Wuhan desde dezembro de 2019 e, a partir de março deste ano, com o fechamento quase completo da ilha à entrada de não-residentes locais.

Já as notícias vindas da China continental não são tão positivas assim para a comunidade LGBTQ. Em meio a episódios como o cancelamento da Parada do Orgulho LGBTQ de Shanghai e o fracasso do movimento que buscava incluir o casamento homoafetivo no novo código civil do país, há ainda o problema dos muitos livros didáticos chineses que seguem descrevendo a homossexualidade como um tipo de doença ou infração moral. Apesar da recente derrota na corte, o caso legal aberto pela jovem Ou Jiayong contra uma editora que se referia à homossexualidade como distúrbio mental (comentamos sobre o assunto aqui) reascendeu a discussão sobre o tema na sociedade chinesa. Agora residente em Hong Kong, a ativista não pretende desistir da causa — “Como você pode simplesmente desistir? Você só pode continuar caminhando, este é um caminho sem volta”, declarou.


O ChinaFile lançou um projeto grande e minucioso sobre tecnologia de vigilância na China. A partir da análise de 76 mil documentos de acesso público, inclusive de compras feitas pelo governo chinês, Jessica Batke e Mareike Ohlberg traçam uma história dos últimos 15 anos sobre monitoramento. É uma leitura longa, para aproveitar com um café e doses de paranoia. Elas investigaram também material sobre orçamento para essas compras. Há um sumário útil com os principais pontos para quem ficou com preguiça de ler tudo. Um dos dados mais chocantes? As compras públicas relacionadas a equipamentos de vigilância aumentaram em 1900% na última década. Ah, e não existe um único órgão ou base de dados centralizada de informações coletadas sobre cidadãos.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Música: a rapper 种欣 (Zhong Xin) cativa com suas batidas que dão vontade de ficar de boa o dia inteiro. De Sichuan para o mundo.

Navegar é preciso: conheça nove navios de pesquisa chineses, associados à expansão científica do país para oceanos cada vez mais distantes.

Reflexivo: o professor de Georgetown, James A. Millward, escreveu um texto refletindo sobre o ensino de história contemporânea chinesa e a necessidade de mais criticismo na reprodução de narrativas.

Aliança: você já ouviu falar da Milk Tea Alliance? É um meme que virou símbolo de ativismo contra o nacionalismo chinês em Taiwan, Hong Kong e Tailândia. Vale ler esse fio no Twitter explicando.

Formiga rica: o maior IPO (oferta pública inicial de uma empresa) do mundo parece que não vai vir de Nova York e sim das bolsas de Shanghai e Hong Kong. É do Ant Group, o braço financeiro do Alibaba. Para uma análise detalhada da empresa, aqui é um bom começo.

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