De acordo com dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China, o lucro das firmas industriais do país cresceu 28,2% no último mês de outubro comparado ao mesmo período do ano passado. Esse já é o sexto mês consecutivo em que se registra alta nos lucros das firmas industriais chinesas na comparação anual, e os números positivos alimentam a percepção de que o setor manufatureiro do gigante asiático, apesar do impacto da pandemia da COVID-19, encontra-se em ritmo de plena recuperação. As bolsas de valores da Ásia receberam bem a notícia: em Shanghai, o pregão fechou em alta de 1,14% e, em Shenzhen, 0,668%. Para além da China continental, altas também foram registradas, dentre outros lugares, em Hong Kong, no Japão e na Coreia do Sul.


Quase um ano após a identificação dos primeiros casos de COVID-19 na cidade de Wuhan, o governo chinês parece estar cada vez mais engajado com um esforço para mudar a narrativa em torno da origem da doença. Com ajuda dos grandes veículos da mídia estatal chinesa, tornam-se cada vez mais comuns relatos de que, apesar de ter sido o primeiro país a detectá-lo, a China não seria o local do surgimento do novo coronavírus. A ideia, porém, tem pouco respaldo internacional: Michael Ryan, diretor do programa de emergências de saúde da OMS, disse que os argumentos de que a doença não se originou na China são de natureza altamente especulativa. Outros especialistas, por sua vez, apontam que as pesquisas indicando traços do SARS-CoV-2 em outros lugares do mundo antes do início deste ano são fracas, e ainda afirmam que, dado que o vírus se espalha na maioria dos casos por gotículas respiratórias, é improvável que o surto observado na China tenha se iniciado pela sua introdução via importação de alimentos congelados, por exemplo.


A China tem se esforçado na criação de um mercado interno de cruzeiros, e uma das etapas está em conquistar a sociedade de luxo chinesa. Incorporando um navio cruzeiro construído pelo estaleiro italiano Fincantieri e introduzido à linha da empresa Viking Cruises, os chineses poderão experimentar a combinação de sua cultura com elementos nórdicos a bordo. Vale comentar que, antes da pandemia, o país asiático apresentava um dos segmentos de cruzeiros de luxo que mais cresciam no mundo.


Pode apenas um indivíduo guiar a mudança da política doméstica chinesa sobre o meio ambiente? Esse é o argumento sobre Xie Zhenhua, que foi vice-diretor da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC, em inglês) e o principal negociador da China nos fóruns multilaterais sobre mudança climática. Ao longo dos anos, Xie teria impulsionado a liderança do país a desistir do argumento de “direito de emissão” de dióxido de carbono para se focar no desenvolvimento com baixa emissão. Ele esteve também no centro da discussão sobre a China atingir a neutralidade de carbono até 2060 e é um dos arquitetos do Acordo de Paris.

O Brasil não sai da seção de Cenário Internacional da Shumian – pena que por razões preocupantes: mais uma vez, o deputado federal Eduardo Bolsonaro fez declarações atacando a China. Dessa vez, o enredo foi o apoio do governo brasileiro à Clean Network, o que ensejou comentários do parlamentar acusando o Partido Comunista Chinês de espionagem. A Embaixada da República Popular da China revidou prontamente com uma nota publicada no Twitter – que já foi deletada. Para o ex-embaixador Roberto Abdenur, a postura do Brasil é contraproducente: é preciso entender que não somos tão insubstituíveis assim, e que a China tem procurado diversificar seus fornecedores de soja e outras commodities há algum tempo. Foi o mesmo argumento que a nossa editora sênior, Júlia Rosa, falou em entrevista ao Nexo.

Da parte do empresariado brasileiro, no entanto, o tom é outro: o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) publicou uma estratégia de longo prazo do Brasil para a China. A ideia é incentivar que mais brasileiros encarem a China como um lugar de oportunidades e a próxima fronteira para a internacionalização de negócios. O lançamento do estudo contou com a presença do vice-presidente Hamilton Mourão.


Depois do café, existe algum produto que represente mais o Brasil do que o açaí? Conquistando cada vez mais o papel de supercomida por seu rico papel nutricional, a fruta amazônica tem entrado aos poucos no gosto do mercado consumidor chinês. Alguns desafios, no entanto, persistem: o açaí ainda é pouco conhecido na China e carece de uma cadeia produtiva que dê conta da demanda internacional. Na verdade, menos de 1% do que é produzido no Brasil é exportado – a demanda interna já abocanha a maior parte da produção.

Mas, como, afinal, entrar no gosto do paladar chinês? O açaí tem sido promovido por lá desde 2017. Além de uma cadeia produtiva que garanta a demanda chinesa, o pulo do gato pode estar no marketing: para entrar na China, não adianta usar Facebook e Instagram. A batalha está no WeChat e no Weibo.


Tão perto, mas tão distante: as tensões comerciais entre China e Austrália, que já comentamos aqui e aqui, alcançaram uma nova indústria: a dos vinhos. Seguindo as medidas de barreiras de importação ao cobre e ao carvão australianos, Pequim está mirando uma relação comercial bilateral cujo valor ultrapassa 800 milhões de dólares, no caso dos vinhos. A disputa é contextualizada, pelo Ministério do Exterior chinês, devido à visão australiana de que a ascensão da China significa uma “nova Guerra Fria”, ideia propagada principalmente por analistas dos Estados Unidos.

O ocorrido segue a esteira de diversas tensões. As relações conflituosas entre os países do Pacífico já estão, inclusive, se expandindo para outras arenas, como a de mídia e segurança internacional. O governo australiano exigiu que Pequim se desculpasse por uma postagem oficial do governo, numa rede social, de uma foto falsa sobre supostos crimes de guerra cometidos por Camberra no Afeganistão.

E se as relações com a Austrália não andam bem, as com a Índia também estão longe de quaisquer ares de normalidade. Na última semana, Nova Deli aprovou o banimento de mais uma série de aplicativos chineses, dando continuidade à tendência de tensionamento que vem marcando as interações entre os dois países ao longo do último ano. A decisão, conforme alega o governo indiano, foi novamente baseada em considerações de segurança nacional. Em resposta, a embaixada chinesa no país acusou a Índia de práticas discriminatórias que violam as normas da OMC e completou, afirmando que a China é uma oportunidade para os indianos, não uma ameaça.


A corrida pela produção de vacinas é uma das maiores preocupações da comunidade científica mundial. Já falamos aqui como uma “Rota da Seda da Saúde” está muito nos interesses do governo chinês. Pequim prometeu que, uma vez que as vacinas estejam prontas, advogará pela distribuição em massa com a coalizão Covax, consórcio da OMS para que a vacina seja um “bem público global”. Assim, garantirá que países africanos recebam as doses com custos acessíveis. Várias nações da África e pesquisadores já demonstraram preocupação de que só receberão a vacina após os países ricos – ou seja, daqui a 2 ou 3 anos. Acordos, tanto bilaterais quanto com a União Africana, podem surgir para a compra de alguma das vacinas em produção e há certo ceticismo sobre a promessa de Pequim. É a tal da diplomacia da vacina em vigor e deve aparecer pela América Latina também.

Ao longo do último mês, milhões de trabalhadores percorreram as ruas chinesas para capturar mudanças demográficas e construir o novo censo do país. A ocasião é vista com especial importância pela comunidade LGBTQ da China, que entende o momento como uma oportunidade de reverter a invisibilização de seus membros no país. Com a campanha intitulada “Ele(a) não é meu(minha) colega de quarto, é meu(minha) parceiro(a)”, a Rights Advocacy China, da cidade de Guangzhou, lidera o esforço. Peng Yanhui, diretor da organização, espera que “através disso, o governo considere as necessidades da comunidade LGBTQ como parte da população chinesa quando formular políticas públicas no futuro”.


Planejamento urbano é uma pauta importante na China – o que não é surpreendente, considerando a rápida urbanização que se viu nos últimos anos. Dois especialistas no tema, sendo um deles o ex-diretor da Academia de Planejamento Urbano e Design de Pequim (entre 1986 e 2001), Ke Huanzhang, discutem a definição de uma “cidade habitável” e de um bom planejamento urbano. A discussão de Ke com Liu Thai Ker (ex-CEO do Conselho de Desenvolvimento Habitacional em Singapura e que apoiou projetos em Fujian, por exemplo) é rica para se aprender um pouco mais sobre as mudanças urbanas e notar o quão a sério o assunto é levado em Pequim e na China em geral.

E, cada vez mais, o país deve se tornar referência nas questões de desenvolvimento de cidades inteligentes. Um exemplo estudado é Hangzhou, sede da Alibaba, que implantou a plataforma “City Brain”, lançada em 2016, e atualmente trabalha com dados em tempo real para realizar operações públicas pela cidade.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Música: vai um Acid Marie aí? Calma, é a banda de R&B e Soul 微酸瑪莉 de Taiwan. Aproveite.

Adiós, 马拉多纳: a morte do ídolo do futebol mundial não passou em branco na China. Milhões lamentaram a morte de Diego Maradona no Weibo e no WeChat, e ressaltaram como o artista do futebol argentino marcou a geração da década de 1980.

Podcast: este episódio do podcast Policy, Guns & Money, do think tank Australian Strategic Policy Institute (ASPI), discute o “Xinjiang Data Project”. É um projeto que reúne dados abertos, imagens de satélites e pesquisa empírica para investigar os abusos de direitos humanos na região de Xinjiang.

Hey: a história de uma mulher da minoria bouyei que, 35 anos atrás, foi sequestrada da sua vila, levada para longe, vendida e forçada a casar, ganhou destaque nas redes chinesas. A história de Hey, que não fala mandarim e apenas esse ano conseguiu reencontrar a sua família, é contada pela sua filha, e lança luz sobre o sério problema de tráfico humano. O texto em mandarim foi traduzido para o inglês.

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