Fotografia em cores de detalhe de um telhado no Museu do Palácio em Pequim. Vê-se uma fileira de pequenas esculturas, sendo um dragão e, à sua frente, quatro criaturas menores.

Foto de Tao Yuan via Unsplash

Edição 247 – Líderes europeus visitam Xi em meio a tensões com EUA

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

O futuro do socialismo com características chinesas. Na última quinta (30), o presidente chinês Xi Jinping fez um discurso sobre a necessidade de estudos sobre o futuro do socialismo na China. Mais especificamente, como mostra o Tracking People’s Daily, o líder fez uma campanha para defender os estudos e a implementação do Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era, um conjunto de seus pensamentos e visão política. Vale ler o destrinchamento da fala do presidente feita pela newsletter tomando como base — como sugere o próprio nome da publicação — o destaque dado pelo Diário do Povo, principal jornal do Partido Comunista Chinês. 

O aplicativo chinês Pinduoduo é suspeito de espionagem. Uma reportagem investigativa conduzida pela CNN com participação de pesquisadores revelou que o app é capaz de monitorar as atividades de outros aplicativos, ler mensagens privadas e mudar configurações, contornando definições de segurança de celulares Android e dificultando sua desinstalação – características típicas de malwares. O aplicativo de compras tem mais de 750 milhões de usuários mensais. De acordo com atuais e ex-funcionários, esses recursos seriam utilizados para espionar concorrentes e aumentar as vendas. A Google Play, loja de aplicativos para aparelhos Android, removeu o Pinduoduo de seu catálogo, embora as versões contendo malware sejam disponibilizadas em outros sites. Por enquanto, as acusações não impactam o Temu, versão internacional do Pinduoduo que se tornou o app de compras mais baixado nos Estados Unidos no final do ano passado.

Liberdade de imprensa. A Hong Kong Journalists Association (HKJA) denunciou a perseguição de profissionais de diversos veículos. Os relatos são referentes ao final de março, quando jornalistas teriam sido seguidos por homens não identificados. Dias antes, o jornal digital Hong Kong Free Press havia denunciado que uma repórter fora seguida a caminho do trabalho. A suspeita da organização é de envolvimento policial, especialmente porque os relatos vêm de profissionais que se dedicam a cobrir casos judiciais, especialmente o julgamento de jornalistas. A polícia chamou as acusações de especulação não verificada que prejudica a imagem da mídia. A HKJA, maior associação profissional de jornalistas do território, sofre intimidações do governo desde as manifestações de 2019. Segundo uma pesquisa divulgada em 2022, 97% dos profissionais associados à organização acreditavam que a liberdade de imprensa local havia piorado muito em relação ao ano anterior.

Xi e os líderes europeus. A agenda do presidente Xi Jinping anda cheia. Na semana passada, ele recebeu o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, que fez um apelo para que Xi converse com Vlodomyr Zelensky, presidente da Ucrânia. Esta semana é a vez do francês Emmanuel Macron e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se reunirem com o mandatário chinês. A viagem de Macron teve início nesta quarta, e na quinta (6) os três viajam juntos à cidade de Guangzhou, no Sul da China. Os encontros acontecem num momento de tensão entre Ucrânia e Rússia e pouco depois de Xi ter ido a Moscou, onde se reuniu com Vladmir Putin. Os europeus têm mantido um discurso de disposição da Europa de manter laços com a China, em que pesem as divergências do país asiático com os EUA, seja por questões comerciais, seja pelo posicionamento em relação ao conflito Ucrânia-Rússia. 

Sem Lula, mas com câmbio direto. A aguardada visita do presidente Lula à China gerou frustrações com o adiamento de última hora. Mesmo assim, houve alguns avanços na negociação bilateral. Foi anunciada na semana passada a criação de uma espécie de “câmara de compensação” para que China e Brasil façam transações diretas entre real e renminbi, sem precisar envolver o dólar estadunidense. A medida é importante para que os negócios entre os parceiros não tenham possíveis influências dos Estados Unidos. Entre as expectativas para a visita, que ficou para o dia 11 deste mês, há a possibilidade de o Brasil aderir à Iniciativa Cinturão e Rota. Na lista de preocupações, este artigo de opinião do Diálogo Chino fala sobre a necessidade de regulação do couro brasileiro exportado para os chineses. Vale ouvir esta edição do podcast Antes que o Mundo Acabe, em que Aline Tedeschi analisa a visita da comitiva brasileira à China e discute o significado da ida de Lula a Pequim.

Outro encontro importante é o da líder taiwanesa Tsai Ing-wen com o presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Kevin McCarthy previsto para esta quarta-feira (5) na Califórnia. Na semana passada, durante uma passagem por Nova York, Tsai se reuniu com um grupo de senadores que expressaram apoio ao estreito. A China está observando atentamente o teor das declarações feitas na sequência dessas reuniões e já anunciou que pode tomar contramedidas.

Sexismo e a cidade. O Hong Kong Free Press fez uma longa reportagem com especialistas explorando a misoginia na sociedade e a forma como o feminicídio é representado no noticiário local. Embora Hong Kong seja considerada uma das cidades mais seguras do mundo, a violência doméstica é um grande problema: entre 2016 e 2020, 45% dos homicídios de mulheres foram cometidos por parceiros ou familiares. Na mídia, muitas vezes esses casos são representados de modo a deslegitimar a vítima, seja na forma como ela é descrita, nas fotos escolhidas para ilustrar as matérias e até pelo excesso de detalhes sobre os atos de violência. Um caso que ganhou fama internacional e preenche todos esses quesitos foi o assassinato de Abby Choi. A análise inteira vale uma leitura – e uma reflexão sobre as semelhanças com o noticiário brasileiro.

De volta ao futuro. Os assuntos que ganham repercussão na Internet podem dizer muito sobre o momento que vive uma sociedade. Esta semana, mostra o What’s on Weibo, os internautas chineses viralizaram uma capa de um jornal publicada há duas décadas. Isso mesmo: há 20 anos, o jornal Qilu Evening News trazia na capa uma notícia de que, em 2022, a China teria um saldo líquido de zero entre mortes e nascimentos. Bem, o futuro chegou e a realidade é um pouco pior, com os dados mostrando encolhimento da população chinesa no ano passado. Será que vasculhar mais acervo de jornais nos trará pistas dos próximos anos?

Tudo pode ser (rede social), só basta monetizar. Apesar dos tabus que ainda persistem em torno da menstruação, um aplicativo para registrar ciclos menstruais se tornou uma plataforma social com mais de 300 milhões de usuárias na China. Como conta a Rest of World, o Meet You oferece todo tipo de produto relativo a saúde sexual e reprodutiva, além de possibilitar o agendamento de consultas médicas. Ele também conta com espaços de discussão onde usuárias abrem o coração e, cada vez mais, se juntam para repetir o mantra jieyima (接姨妈), ou “receber a tia”, um pedido para que a menstruação chegue antes de um bebê. Afinal, tem ficado mais difícil realizar um aborto na China e, como já comentamos por aqui, foi apenas no final de 2020 que a educação sexual se tornou obrigatória nas escolas.

reforma electoral en Hong Kong

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Inteligência artificial: quer praticar o seu mandarim? Experimente o ChatGLM-6B, um raro e avançado chatbot aberto em língua chinesa (e inglês também).

Mais IA: o podcast Ginger River Review conversou com o cientista Yihan Zhou sobre os desafios da China para alcançar e ultrapassar o ChatGPT.

Ainda mais IA: como seria se Donald Trump tivesse decidido se aposentar na China? Um usuário do Weibo pediu para o Midjourney criar imagens com base nessa premissa. Mas não adianta pedir pra ver Xi aposentado nos EUA: como declarou o CEO da ferramenta, Xi Jinping é um termo censurado.

Games: entre os anos 1990 e começo dos 2000, a China lançou mais de 200 RPGs para computadores. O pesquisador Felipe Pepe conta a história deles neste fio.

Jay Chou: o álbum mais vendido de 2022 é Greatest Works of Art, do taiwanês Jay Chou. Se você ainda não conhece, dá pra curtir aqui.

Festival de Qingming: chegou aquela época do ano de presentear os antepassados e garantir boas condições para eles no além-vida. A Sixth Tone explica a tradição de queimar dinheiro para os espíritos.

 



Em fevereiro, o pesquisador de sexualidade e estudos de gênero Fang Gang realizou um curso em Pequim para ensinar homens a refletirem sobre a masculinidade e serem melhores parceiros. O canal Yi Tiao conversou com alguns participantes.

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