Edição 301 – China lança iniciativas para salvar mercado imobiliário
Socorro ao mercado imobiliário. Esta semana, o governo central anunciou um ambicioso pacote de medidas para tentar tirar o setor de uma crise que já dura anos. A medida acontece após ação que levantou 1 trilhão de renminbis na sexta-feira (17). O cerne da política é a compra de imóveis de incorporadoras para convertê-los em habitação social e, para isso, o Banco Central chinês liberou 300 bilhões de renminbis (cerca de 210 bilhões de reais) para emprestar a estatais. O programa é baseado num piloto de sucesso implementado na cidade de Hangzhou, no Sul do país. Também faz parte do pacote a redução do valor mínimo de entrada para quem visa à aquisição de imóveis pela primeira vez. A redução das taxas de juros setoriais não foi incluída nas medidas, elas permaneceram intocadas, decepcionando investidores.
A reestruturação da economia está em foco na China e o assunto foi destrinchado no China Policy, que destacou que Pequim não está interessada em estímulos, mas sim em reformas estruturais que resolvam o problema pela raiz. O governo agora se volta para as “novas forças produtivas”, das quais fazem parte “novos materiais” — ou “materiais do futuro” —, como já abordamos por aqui. O grafeno é um desses novos materiais e a Jamestown Foundation publicou uma análise sobre como ele se encaixa nessa nova estratégia chinesa.
Lai Ching-te assume a liderança de Taiwan. A um dia da posse, no domingo (19), cidadãos taiwaneses foram às ruas reclamar da política interna, como reporta o HKFP. Entre as principais queixas estão os elevados custos de vida alta taxa de desemprego e o descumprimento de promessas feitas pelo governo. Com panorama desanimador, Lai Ching-te tomou posse na segunda (20), assumindo o lugar ocupado por Tsai Ing-wen, que ocupou o cargo por dois mandatos seguidos. Em seu discurso, Lai criticou Pequim e pediu que sejam interrompidas ações militares intimidadoras. Apesar da fala, o novo líder também ponderou que busca uma relação amistosa com a China continental, reforçando a necessidade de respeito à autonomia da ilha. Para ir mais fundo, o Council of Foreign Relations publicou um texto analisando o discurso de posse. Pequim criticou a fala de Lai, classificando-a de “separatista” e falou em possíveis respostas.
Quem é a esquerda chinesa? Em momentos de um mundo fortemente polarizado, a discussão sobre direita e esquerda segue em alta, inclusive na China, onde o PCCh é hegemônico há décadas. David Ownby — professor e tradutor do Reading the China Dream — escreveu um texto que vale ler com calma para o China Books Review. Com base numa conversa com um intelectual chinês que se manteve anônimo, Ownby conta sobre a crise da esquerda chinesa e faz um apanhado de livros que podem ajudar quem se interessa pela temática. Passe um bom cafezinho para ler porque vale muito a pena.
Depois das visitas de Xi à Europa, foi a vez de Vladimir Putin pousar em Pequim. Esta foi a primeira viagem do líder russo após ele assumir o quinto mandato como presidente russo. Na recepção, Xi Jinping o cumprimentou por isso e lembrou os 75 anos de relações entre China e Rússia. O Tracking The People ‘s Daily fez um detalhado texto sobre o comunicado conjunto entre os dois líderes. Não precisamos nem mencionar que a cobertura da imprensa Ocidental foi bastante crítica, especialmente levando em conta o contexto da invasão da Ucrânia pela Rússia, que se estende por mais de dois anos. A The Economist apontou que os dois países têm uma relação que não se trata de um casamento de conveniências. A BBC levantou questões sobre as intenções de Xi. As relações sino-russas vão além de questões geopolíticas, já que o comércio do setor energético segue em alta num momento de vários mercados se fechando para Moscou. O SCMP escreveu ainda que Putin e Xi devem se reunir novamente em julho, no Cazaquistão.
ONU. Após uma visita de 12 dias, Alena Douhan, Relatora Especial das Nações Unidas ONU sobre medidas coercitivas unilaterais e direitos humanos, fez um relato preliminar sobre a situação na China. Desde 2017, o país asiático sofre com sanções impostas unilateralmente pelos EUA, sobretudo no contexto de graves acusações de violações de direitos humanos na província de Xinjiang. Para Douhan, as sanções têm um impacto negativo significativo no desenvolvimento local e afetam sobretudo comunidades marginalizadas. O relato é de perda de empregos e ausência de novas oportunidades de trabalho , comprometendo seus direitos humanos. A relatora observou que as medidas coercitivas unilaterais também afetam países vizinhos por deixarem de participar de cadeias de valor regionais. Douhan também destacou que, além de ilegais, as sanções unilaterais comprometem os direitos humanos de maneira geral, sem distinção entre os supostos violadores de direitos humanos e a população civil. Além disso, ela apontou que a ação viola o princípio da presunção de inocência no caso de empresas específicas.
Em tempo: uma investigação do Senado dos EUA alega que as montadoras BMW, Jaguar, Volkswagen e Land Rover vêm usufruindo de trabalho forçado chinês na produção de algumas peças de seus carros.
Mais Brasil na China. Uma comitiva brasileira que inclui o vice-presidente Geraldo Alckmin deve visitar a China entre os dias 1 e 7 de junho. A viagem é motivada pela VII Sessão Plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN) e conta também com a participação de ministros como da Casa Civil, Planejamento, Desenvolvimento Agrário e Micro e Pequena Empresa, além do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – ministério de Alckmin. A visita se dá a pouco mais de um ano da bem-avaliada passagem do presidente Lula pela China, reforçando a relação entre os dois países.
Recordações de um passado pandêmico recente. As imagens de uma Wuhan vazia seguem no imaginário do mundo todo, mas a cidade é conhecida também por sua vida universitária. O professor Lü Dewen escreveu sobre o modelo atual da sociedade chinesa, falando sobre um “efeito silo”, de isolamento, vigilância e autoproteção. Para ler melhor sobre o trabalho de Dewen, vale uma leitura atenta e cheia de exemplos deste trabalho do Pekingnology.
Uma das cenas mais impactantes dos efeitos da globalização na China é a imagem de migrantes internos voltando para suas casas no feriado do Ano Novo Lunar, ou as cenas de centenas ou milhares de pessoas vivendo nos arredores de fábricas de Guangzhou e Shenzhen. Essas imagens foram divulgadas e reprisadas em livros, filmes e documentários ao longo dos anos. Mas quem é a força de trabalho de migrantes chineses hoje? Segundo o Relatório de Monitoramento do Trabalhador Migrante, feito anualmente desde 2009, em média esse trabalhador se tornou mais velho e com maior nível de escolaridade. O que define um trabalhador com este perfil, para a produção do documento, é alguém que tenha migrado para cidades com um hukou (uma espécie de passaporte interno) da zona rural. O Sixth Tone fez uma reportagem sobre o documento mais recente.
Podcast: neste episódio do Sinica, Kaiser Kuo fala com seu irmão, Jay Kuo, sobre a cena LGBTQIA+ na China. A transcrição e o áudio estão disponíveis aqui.
Fotografia: O China Digital Times compartilhou parte de um ensaio fotográfico do veículo Why Not sobre a perda de poder de compra dos trabalhadores precarizados na China.
Minissérie: To the Wonder é o novo sucesso da TV chinesa. Uma ficção em lindos cenários do interior do país, cultura cazaque e boas personagens femininas. Dá pra assistir (com legendas em inglês) aqui.
Cinema: a Radii fez um compilado de filmes chineses participando do Festival de Cannes 2024, dos diretores mais prestigiados aos novos talentos.
É quase verão no hemisfério norte, época em que todo mundo busca alimentos frescos. Escolhemos esse vídeo sobre melancia (西瓜) para refrescar a todos.