Fotografia em cores da Porta de Tiananmen com bandeiras chinesas

Foto de Markus Winkler via Unsplash.

Edição 307 – Consumo patriótico, mas não muito

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Consumo patriótico. Essa é uma das chaves para explicar como a Huawei conseguiu superar os impactos das sanções estadunidenses a diversas tecnologias utilizadas em produtos da empresa. O Asia Times conta que, apesar do baque inicial nas receitas da Huawei, seu balanço voltou a subir rapidamente. Um dos fatores que explica isso é o aumento de consumo de produtos da marca por chineses, como uma forma de patriotismo. Somam-se a isso as medidas de incentivo do governo, que já ultrapassam os 30 bilhões de dólares (cerca de 150 bilhões de reais) — além da proibição do uso de equipamentos estrangeiros (como Apple e Samsung) em repartições públicas. De fato, a empresa parece ter dado a volta por cima da crise acarretada pelas sanções mundo afora (lideradas pelos EUA) e, com mais de 55% de seus funcionários trabalhando em pesquisa e desenvolvimento, aproxima os negócios cada vez mais da vanguarda tecnológica. Saiu pela culatra.

Consumo não muito patriótico. Nada de BYD: foram carros da Tesla (empresa estadunidense de Elon Musk) que entraram na lista de veículos elétricos (VEs) que podem ser comprados pelo governo da província de Jiangsu, no sudeste da China. De acordo com a CNN, citando sites estatais chineses, esta é a primeira vez que um VE não chinês entra na lista de compras do estatal. O assunto — como quase tudo que envolve Musk – deu o que falar nas redes. Há quem critique e diga que carros estrangeiros não deveriam ser usados para fins governamentais. Por outro lado, trata-se de mais um episódio de proximidade de Musk com o governo chinês. Seria essa uma abertura para outras estrangeiras? 

A Terceira Plenária finalmente tem data. Adiada sem muitas explicações no fim do ano passado, a Terceira Plenária deve acontecer entre 15 e 18 de julho. A reunião leva esse nome por ser o terceiro encontro do alto escalão do comitê do partido (num mandato de cinco anos). Como conta este texto do Atlantic Council, as reformas esperadas como resultado do encontro estão voltadas ao cenário de competição tecnológica de ponta com os Estados Unidos. O Japan Times também não traz um cenário muito promissor em termos de expectativas de reformas para melhorar o clima interno do país. Como já contamos aqui, a newsletter Pekinology tem feito uma série explorando expectativas para o encontro.

Não está fácil para a indústria chinesa no Norte Global. Foi a vez de a União Europeia elevar tarifas para produtos do país asiático, desta vez com foco nos carros elétricos. Uma reportagem da BBC mostra que os aumentos ficarão entre 17,4% e 37,6%, somados a uma cobrança de 10% sobre o valor de todos os veículos elétricos chineses. Isso vai tornar os veículos chineses menos acessíveis, bloqueando o mercado europeu, algo que Xi Jinping tentou evitar com sua visita ao continente em Maio.

Desmatamento na Amazônia. Muito se discute sobre o papel da China na conservação da maior floresta tropical do mundo e a responsabilidade que carrega com a rápida conversão florestal do bioma. E faz sentido – até certo ponto. Se é viável traçar uma correlação entre o desmatamento na Amazônia e a demanda por soja da China e dificuldades com rastreabilidade, a mesma lógica não se aplica completamente à carne bovina, outra commodity responsável pela mudança florestal na região e frequentemente associada à demanda chinesa. Em artigo publicado recentemente na revista Nature Sustainability, pesquisadores brasileiros apontam como a demanda de carne de regiões mais ricas do Brasil contribui muito mais com desmatamento da Amazônia do que a demanda vinda de outros países. De acordo com o estudo, quase 60% do desmatamento detectado na Amazônia Legal tem como origem a demanda pela commodity pelas regiões centro-sul do país, enquanto que os mercados internacionais são responsáveis por 23,49% do desmatamento na Amazônia.

Cidade global da Ásia, Hong Kong não é lugar para asilados políticos, como mostra um rico infográfico publicado pelo South China Morning Post. A cidade, que recebeu 15.207 imigrantes ilegais em 2023, não é signatária da Convenção de Genebra de 1951, então é apenas uma parada para quem busca asilo em outros país. Cabe ao governo, não à ONU, avaliar cada caso em um processo que leva cerca de dez semanas, período no qual o requerente tem o direito de viver em Hong Kong, uma das cidades mais caras do mundo, mas não de trabalhar – o que cria condições propícias para a exploração dessas pessoas, que recebem do governo o equivalente a U$D 13 diários. Depois da avaliação, casos rejeitados levam à deportação, e casos bem-sucedidos podem, muitas vezes, resultar em anos de vida precária na cidade, já que muitos refugiados não têm como viajar novamente.

Todo ano o noticiário se repete, e enchentes no Sul da China tomam conta do noticiário. As temperaturas mais altas, a mudança climática e um sul mais pobre do que o norte somam à repetição da tragédia. A Sixth Tone conta como condados na província de Hunan (de onde veio Mao Zedong) buscam desesperadamente por ajuda. As pessoas perderam suas casas, seus bens e estão desalojadas.

O que os olhos não vêem… O grupo de cibersegurança canadense Citizen Lab realizou um estudo sobre censura em ferramentas digitais de tradução na China. Os serviços foram testados com textos contendo palavras sensíveis, como Tiananmen, críticas ao governo, nomes de dissidentes, temas religiosos e pornografia. A ferramenta do Bing, da Microsoft, se destacou por não traduzir nenhuma palavra em textos que continham conteúdo polêmico, enquanto os competidores locais Baidu, Alibaba, Tencent, e NetEase ignoram apenas os trechos problemáticos ou apresentam mensagens de erro. Segundo um especialista consultado pela Rest of World, a estratégia de censura total é mais transparente do que a censura a trechos selecionados, uma vez que o usuário talvez não perceba a diferença de conteúdo em relação ao original. No ano passado, o Citizen Lab apontou que o serviço de busca da Microsoft também é mais linha dura do que os concorrentes chineses.

reforma electoral en Hong Kong

História. Publicidade, carteis, lâmpadas que duram demais ou de menos e a China: tem um pouco de tudo neste fio do Museum Of Foreign Brand Advertising In The R.O.C. 

Trânsito. A Sixth Tone traz um interessante texto sobre como é dirigir por Shanghai a partir do ponto de vista de um taxista. Apertem os cintos e naveguem na leitura!

Ocidente e Oriente se encontram: o Radii China mostra como a artista chinesa Shuang Cai achou o espaço para sua arte na galeria LATITUDE, em Nova York. 

Newsletter. A Sinification explorou como a política externa indiana é vista pela China.

 

A vida de crianças de cidades rurais nas províncias de Yunnan e Gansu foi retratada por meio de 40 mil fotos registradas pelos próprios pequenos.

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