Fotografia em cores de pessoas em plataforma de trem na China, comefeito de luz sobre o trem que parece passar em alta velocidade

Edição 318 – O sucesso econômico dos trens chineses

Política e economia

Trem bão. O China State Railway Group, operador da malha ferroviária chinesa, reportou 1,7 bilhão de renminbi de lucro líquido (R$1,33 bilhão) no primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O número se torna muito mais expressivo se comparado com um prejuízo de 11 bilhões de renminbi na primeira metade de 2023, segundo o SCMP. Os desafios superados não foram poucos: entre 2020 e 2022, o operador penou com a pandemia e com a redução do número de passageiros. Para tentar elevar a receita, em 2023 a empresa estatal aumentou os preços nas principais rotas de trem bala, e criou serviços mais caros, como setores VIP. O setor sofre ainda com capacidade ociosa em linhas menos demandadas, e a empresa fechou algumas poucas estações (menos de 30). Tudo isso para reduzir a dívida brutal de mais de 6,1 trilhões de renminbi. E é questão de honra também: a expansão ferroviária é um grande ponto de propaganda para o governo chinês, que abriu mais de 28 mil rotas desde 2008, como conta o New York Times. A expansão ferroviária chinesa também vai além das fronteiras do país, chegando até o Brasil. O China State Railway Group foi fundado em 2019, a partir da reestruturação da China Railway Corporation frente a uma nova legislação.

O que é jornalismo sedicioso? É o que o jornal Hong Kong Free Press tentou descobrir analisando os argumentos do juiz Kwok Wai-kin para justificar a condenação, no dia 5 de setembro, de dois jornalistas e uma empresa responsável pelo jornal Stand News. A corte avaliou 17 textos publicados pelo veículo (que encerrou operações em 2021), considerando 11 deles sediciosos. Entre eles, estão nove artigos de opinião críticos ao governo local e à Lei de Segurança Nacional imposta em 2019. Segundo a corte, os textos teriam causado “dano potencial” à segurança nacional por conta da atmosfera política “extremamente acalorada” da época. Contrariando seu próprio veredito em um caso passado, o juiz defendeu que não é necessária a intenção de incitar a sedição se os profissionais forem descuidados a respeito das consequências dos textos.

Kwok afirmou ainda que os casos devem ser avaliados à luz das circunstâncias, considerando se elas indicam um momento em que “uma faísca explodiria um paiol de pólvora” – citando uma frase registrada em um julgamento de sedição de 1909. Jornalistas de Hong Kong não são condenados por “conspiração para publicar e reproduzir materiais sediciosos” desde 1997, ano em que a soberania da região foi transferida do Reino Unido para a China.

Tudo igual, mas diferente. As fronteiras entre a China continental e Taiwan não são assunto pacífico, e um acontecimento recente embaralhou esse tema ainda mais. Um executivo da Formosa Plastic Group foi impedido de deixar a China continental e cruzar o estreito de Taiwan para voltar para casa., Segundo o governo taiwanês, o empresário (que não foi identificado pela mídia) teria chegado no aeroporto de Hongqiao, em Shanghai, em 1° de setembro, passado por questionamentos e depois liberado. Em uma nova abordagem, seu embarque foi recusado. Até o momento, não há informações sobre os motivos que teriam levado ao impedimento de viagem e nem sobre as tratativas do assunto. O tema esquentou o noticiário das relações inter estreito e aumentaram o temor sobre viagens entre um ponto e outro.

Internacional

A guerra dos chips não para. É chover no molhado falar aqui que os EUA tentam restringir seu mercado para chips chineses. A novidade agora, segundo o Financial Times, seria um acordo entre Tóquio e Washington para conter a atuação chinesa no mercado global. A notícia é creditada a uma fonte anônima da Casa Branca sobre um acordo que estaria prestes a ser firmado. No texto, o FT aponta ainda o receio do governo japonês em ir adiante com as tratativas por temer retaliações de Pequim – o que, aliás, já está acontecendo, como mostra a Bloomberg. O objetivo dos estadunidenses é alcançar um possível acordo antes das eleições de novembro.

Representantes de Brasil e China devem voltar a defender sua proposta de paz na Ucrânia na 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), que acontece entre os dias 21 e 25 deste mês em Nova York. Como explicou a Folha de SP, a proposta (apresentada em maio deste ano) foca na desescalada do conflito, condena os ataques a civis, pede aumento do auxílio humanitário no conflito, rejeita o uso de armas de destruição em massa e ataques a usinas ou outras instalações nucleares.

Sociedade

Não é só por meio do trabalho que idosos chineses movimentam a economia. Depois de se aposentarem – mesmo que agora leve um pouco mais de tempo, como explicamos na edição passada –, homens e mulheres acima dos 65 anos (14,2% da população em 221) representam uma parcela considerável do consumo do país, superando as crianças. Uma reportagem recente do The New York Times mostra como as empresas de serviços e consumo do país estão se adaptando: algumas escolas infantis se tornam centros de atividades para aposentados; relógios digitais criados para que pais pudessem monitorar crianças agora são vendidos para filhos adultos monitorarem seus pais; e até a Nestlé reduziu seu foco em leite para bebês, substituído por fórmulas voltadas para as necessidades musculares de pessoas mais velhas. Em 2022, o mercado de serviços de cuidados de idosos na China movimentava 10 trilhões de renminbi (R$7,82 trilhões) e a expectativa é de que o número dobre até 2030.

Em rara entrevista, Kuo Zhang, CEO do Alibaba.com, falou com a Rest of World sobre a expansão para os Estados Unidos. Chamou atenção o fato dele comentar a guerra comercial com o país, as tarifas impostas no governo Trump, e a desviada de pauta sobre a saída da IBM e Microsoft da China.

Zheng He

Mandarim: depois da Taylor Swift, agora viralizaram nas redes chinesas vídeos de políticos dos EUA falando a língua, entre eles, os candidatos à presidência Kamala Harris e Donald Trump. Atenção, é só mais um produto de inteligência artificial (IA).

AIlucina: este texto do China Media Project trata da alucinação de IAs a partir de um caso com o bot Qihoo 360. O cenário mistura a Grande Firewall, acesso a dados, regulação firme, pressão política para o desenvolvimento próprio de sistemas e o medo da IA lançar críticas a figuras políticas e ao Partido.

Discurso: a newsletter Sinica publicou um relatório da China Media Project analisando o discurso da mídia estatal chinesa sobre a Terceira Plenária.

 

Este vídeo em português conta a história da BYD, a empresa de carros elétricos que parece que está dominando o mundo.

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