Edição 328 – Biden e Trump não pretendem pegar leve com Pequim
Representatividade feminina no setor de energia renovável. A importância da igualdade de gênero e as contribuições das mulheres na luta contra as mudanças climáticas estiveram entre as muitas pautas da COP29. Embora representem cerca de 27% dos empregos no setor de energia na China (maior que a média global de 22%), as mulheres continuam com dificuldade para avançar na carreira, segundo a Dialogue Earth. O setor de renováveis já é um pouco melhor, com 30-35% de funcionárias. Os desafios vão além de gênero, já que faltam profissionais qualificados na economia verde, mas os dados oferecem uma oportunidade para investigar o que está mantendo mulheres fora desse mercado e definir políticas para capacitá-las nas áreas de engenharia (que possuem melhor chance de ascensão no setor).
Até abril de 2026, as 457 empresas chinesas campeãs de emissões devem passar a publicar relatórios ESG conforme requisito das principais bolsas de valores do país, o que está aumentando o acesso a informação sobre a força de trabalho e gênero. Um exemplo é a LONGi – gigante da tecnologia solar chinesa –, que divulga dados detalhados sobre representação de gênero e têm estabelecido metas de inclusão feminina dentro de seus projetos. Apesar disso, uma análise dos relatórios de 1000 empresas mostrou que o número de mulheres atuando no setor vem diminuindo.
A expansão de projetos de energia renovável da China em países do Sul Global pode ser uma oportunidade única de alinhar metas e a transição energética a um enfoque de justiça social e de gênero. Investimentos em capacitação de mulheres e práticas corporativas que promovam equilíbrio têm sido vistas não apenas como uma melhora na competitividade, mas também como meio de gerar impacto positivo nas comunidades locais e na reputação das empresas chinesas.
Na reta final da presidência, Joe Biden decidiu na segunda (02) expandir as restrições às importações chinesas e da venda de equipamentos e software para o país, especialmente da indústria de semicondutores. Pequim criticou e retaliou logo em seguida, na terça (03), com a proibição da exportação de minerais terras raras, mais especificamente gálio, germânio e antimônio, como contou a AP. Eles são minerais necessários para a produção de tecnologia de ponta, inclusive para a produção de equipamentos de uso dual (civil-militar).
Nem chegou ainda, mas já está causando. O presidente eleito dos EUA Donald Trump anunciou no final de novembro que vai impor uma série de tarifas em bens da China, do Canadá e do México já em janeiro. Para a China, seria 10% acima das tarifas já existentes – sob o argumento de que precisa parar o tráfico de drogas para os Estados Unidos. A Rest of World fez um trabalho completo de mapear quais outros países estão impondo tarifas à China, especialmente na frente de tecnologia.
A China, na contramão dos EUA, anunciou que zerou as tarifas de importação para 100% dos produtos provenientes dos países em desenvolvimento. A medida que foi anunciada em setembro e implementada no começo do mês de dezembro tem como foco central aprofundar as relações sul-sul. Essa decisão tem gerado boas discussões, uma vez que ao eliminar as tarifas de aproximadamente 33 nações africanas a China se aproxima bastante das práticas da União Europeia. Somado a isso, também foram feitas promessas de um financiamento de R$310 bilhões e a expansão de projetos de infraestrutura na África, que fecham com chave de ouro o pacote de iniciativas.
A guerra dos chips na América Latina. Os Estados Unidos cercam o acesso chinês a seus semicondutores, a China avança em sua missão de autossuficiência, e o resultado disso são questionamentos sobre a soberania nacional e a política externa brasileira. Na última semana de novembro, a China Nonferrous Trade comprou uma mineradora peruana que atua no Amazonas na exploração de estanho – mineral essencial para a fabricação de semicondutores. Essa operação estratégica chinesa no Brasil, além de não agradar os vizinhos do norte, reforça a preocupação de que o país se torne dependente da China em minerais raros. Mais do que isso, pode ser fonte de interferência de empresas chinesas no país: como conta uma reportagem da Dialogue Earth, o Estado colombiano está sendo processado pela Zijin Continental Gold, administradora chinesa de uma mina colombiana, por falta de segurança para operações.
Denúncia. A planta da fábrica da BYD em construção na Bahia foi denunciada por violações trabalhistas, conforme contou a Agência Pública. Segundo a matéria, os relatos incluem violência física, alojamentos e banheiros sujos, rotinas de 7 dias por semana e 12 horas de duração. As vítimas das violações seriam 470 construtores chineses terceirizados de três diferentes empresas, não os funcionários brasileiros. O Ministério Público do Trabalho abriu uma investigação para apurar a denúncia com base nos vídeos e relatos recolhidos pela Agência Pública. A BYD disse que não aceitará esse tipo de situação e que irá afastar os agressores, bem como prestar apoio às vítimas. As operações da fábrica, a primeira a produzir veículos elétricos no Brasil, devem se iniciar em janeiro, conta o G1.
O que o mundo pensa sobre a China? O Asia Society’s Center for China Analysis acaba de publicar a Global Public Opinion on China (GPOC), um agregado de resultados de pesquisas de opinião pública sobre a China realizadas em mais de 160 países. Os pesquisadores destacam algumas conclusões gerais: o número de pesquisas desse tipo cresceu vertiginosamente nas duas últimas décadas; a pandemia de Covid-19 afetou negativamente a percepção do país em partes do Sul Global; e a popularidade chinesa está em crescimento na África Subsaariana. Como mostrou o pesquisador Neil Thomas em um fio no Bluesky, é possível chegar a outras conclusões interessantes usando a ferramenta de manipulação e visualização de dados disponibilizada no site do GPOC.
Imposto rosa. Desde o início de novembro, mulheres chinesas estão protestando nas redes pelo tamanho de absorventes vendidos por uma série de marcas do país, conta o Sixth Tone. Os produtos eram menores do que diziam ser, com diversos vídeos e fotos de mulheres postando provas no Weibo, com diferenças de 10mm, e criticando o valor alto dos absorventes. As empresas tiveram que fazer pedidos de desculpas públicos – mas teve um representante da ABC que disse que era normal a diferença (e, de fato, a legislação deixa até 10-15mm). Ele foi, obviamente, bem criticado e a empresa teve que pedir desculpas duas vezes.
Diretoras: o The World of Chinese comenta três lançamentos recentes dos cinemas que focam em histórias de mulheres chinesas – inclusive o documentário Chinatown Cha-Cha da diáspora dançarina nos EUA.
Podcast: a especialista Fabiana D’Atri esteve no Olhar de Especialista para falar sobre as perspectivas econômicas da China, cobrindo diversos temas desde o mercado de carros elétricos até a confiança no governo Xi.
Economia: falando nela, a rede Observa China lançou a 5ª edição do Boletim Economia e Mercado que analisa a situação interna econômica, no âmbito privado e público da China com demais países da lusofonia. O acesso é para membros.
Falecimento: a escritora Chiung Yao (pseudônimo de Chen Che) morreu na quarta (04), em Taiwan, aos 86 anos. Ela escreveu livros populares – especialmente de histórias de romance e melodrama -, ainda sem tradução para o português. Ela também roteirizou séries e filmes, e seus livros foram adaptados mais de 50 vezes para as telas. Confira uma lista de 10 obras.
A Sixth Tone conversou com Zhou Zhengwu, um ferreiro da cidade de Longquan que se dedica a manter a tradição local de fabricação de espadas.