Foto em preto e branco do exército de Terracota chinês

Edição 335 – China constrói o maior centro de comando militar do mundo

Política e economia

Faraônico. Amparado em análises de imagens de satélite e investigação in loco, o Financial Times noticiou que o governo chinês estaria construindo o maior centro de comando militar do mundo — cerca de 10 vezes maior do que o Pentágono, nos EUA — 30 km ao sudoeste de Pequim. Especialistas ouvidos pela publicação dizem que provavelmente se tratam de instalações militares capazes de resistir a uma guerra nuclear, devido à presença de um grande número de construções subterrâneas numa área que soma 5 km². Mas nem todo mundo concorda: Hsu Yen-chi, analista do Council on Strategic and Wargaming Studies em Taipei, acredita que o tamanho da obra aponta mais para um centro administrativo ou zona de treinamento militar do que para um bunker.

Taxação x sagacidade. Alguns vendedores chineses da Temu descobriram um jeitinho de manter os preços ultra baixos nos EUA: nada mais, nada menos, que fraudar as etiquetas de envio do serviço postal estadunidense. Segundo investigações, as etiquetas eram vendidas em redes sociais chinesas pela bagatela de 3 reais. O golpe já causou milhões de dólares em prejuízo aos serviços postais norte-americanos, que agora têm reforçado a fiscalização. O risco é relativamente alto: nos casos mais graves, operadores logísticos fraudadores podem pegar até 10 anos de prisão. Mas para quem lucra mais do que perde, parece valer o jogo. Tudo isso por causa da recente revogação da isenção de tarifas para pacotes abaixo de US$ 800, impulsionada pela Casa Branca.

Deu ruim para (um)a IA. Nesta semana, a Corte de Internet da cidade de Hangzhou decidiu que uma empresa responsável por um serviço de geração de imagens por inteligência artificial “contribuiu para a violação dos direitos de divulgação” na web. Dá pra ler um resumo do caso em inglês aqui, mas o básico é: a empresa de IA faz dinheiro com um modelo que seus usuários treinaram a partir de imagens do Ultraman, refinado para ser capaz de reproduzir com qualidade essa propriedade intelectual alheia; ao invés de coibir esse uso, a empresa divulga as capacidades do modelo em seu site usando o nome Ultraman. Como resultado, os responsáveis pela ferramenta devem interromper suas atividades e compensar os donos dos direitos por perdas econômicas e gastos em torno de 30 mil renminbis – mas ainda cabe recurso. Vale observar que o caso não foi julgado como violação de direitos autorais, mas de direitos de divulgação, e aguardar a repercussão desse veredito em outros casos envolvendo IA.

Internacional

Espionagem cibernética sem freio (estávamos com saudades). Mesmo após ter sido exposto globalmente e sancionado pelo governo dos EUA, o grupo chinês de hackers Salt Typhoon – também conhecido como RedMike – continua invadindo redes de telecomunicações e universidades ao redor do mundo. O mais recente relatório da Recorded Future revela que, entre dezembro e janeiro, os hackers comprometeram pelo menos cinco empresas de telecomunicação e provedores de internet, incluindo duas nos EUA, além de universidades em mais de 10 países. Dessa vez, os ataques exploraram vulnerabilidades em roteadores da marca Cisco, permitindo acesso privilegiado às redes-alvo. Com isso, os invasores podem interceptar comunicações em tempo real, reforçando preocupações de espionagem digital. 

Zonas cinzentas. Nesta quinta-feira (13), o TikTok voltou a ser oferecido nas lojas de aplicativos de celulares dos Estados Unidos. Isso aconteceu depois que Donald Trump assegurou, por meio da procuradora-geral Pam Bondi, que não puniria Apple e Google por permitirem novos downloads e atualizações do app. A mudança se dá quase na metade do prazo de 75 dias estabelecido pelo presidente para que a ByteDance venda parte do controle do produto para uma empresa estadunidense. Como conta a NPR, há um grupo de investidores e empresas como Oracle e Microsoft trabalhando em uma oferta sob orientação da Casa Branca, mas nada de concreto foi apresentado ao público. Não é apenas o futuro do TikTok que segue nebuloso: a autorização presidencial desta semana não anula a decisão do Congresso, de modo que Apple e Google ainda podem ser multadas pelo retorno do aplicativo às suas lojas.

Sociedade

Economia grisalha. Com os números apontando para um envelhecimento cada vez maior da população chinesa, o governo tem apostado em uma nova forma de estimular o consumo dessa parcela da sociedade: trens! A recém anunciada rede Silver Trains promete cobrir todo o país até 2027, oferecendo infraestrutura adaptada e atendimento médico. A medida faz parte de uma estratégia muito maior para fortalecer o que é chamado de silver economy, um setor que movimenta um trilhão de dólares por ano e deve triplicar até 2035. Com um sistema de aposentadoria generoso, essa parcela da sociedade tem gastado cada vez mais.

Tá de brincadeira! Na província de Henan, Zhang Yazhou, a proprietária de um carro Tesla Modelo 3 viu seus pais se ferirem em um acidente após seu pai alegar falha nos freios do carro. Após buscar esclarecimentos e expor publicamente sua frustração sem muito sucesso (incluindo um pequeno protesto em frente à montadora da Tesla em Zhengzhou), Zhang foi processada pela empresa por difamação e condenada pelos tribunais a se retratar publicamente e a pagar 170 mil renminbis para compensar custos legais e eventuais danos à imagem da Tesla. Essa história foi contada em matéria da Associated Press, que mostra como a empresa tem adotado uma postura agressiva na China, processando clientes e jornalistas que criticam seus veículos por difamação. Essa estratégia, combinada com a proximidade de Elon Musk ao governo chinês e ao novo governo de Donald Trump nos EUA, levanta preocupações sobre transparência, responsabilização e a crescente influência política de Musk para beneficiar seus negócios.

Quebrou tudo: lá em 2019, uma animação chinesa chegou fazendo sucesso nas bilheterias – era a história de Ne Zha, um jovem com os super poderes de uma lenda chinesa. A continuação acabou de estrear e está arrasando, se tornando o primeiro filme não-Hollywoodiano a arrecadar mais de 1 bilhão de dólares na bilheteria (já está em 1,39 bilhão), ultrapassando os números de A Batalha do Lago Changjin (de 2021) em apenas nove dias de exibição. O Sixth Tone contou como uma comunidade online de pessoas que advogam pela racionalidade científica, o rejuvenescimento da nação chinesa e amam o Cixin Liu (autor de O Problema dos Três Corpos) ajudaram a puxar esses números para cima. O diretor da animação, Jiao Zi, é uma figura proeminente na discussão de nova ficção científica chinesa e uso de talentos nacionais – em vez de contratar empresas externas para fazerem os efeitos especiais. Dá pra conferir aqui o trailer do filme com legendas em inglês.

Zheng He

Para todos os gostos. Quadras de basquete são onipresentes em Hong Kong, e uma delas é facilmente a quadra mais fotografada do mundo. Mas o fotógrafo Austin Bell decidiu mostrar várias outras para o mundo, e dá pra conferir suas fotos aqui.

Simpatias. No horóscopo chinês, o ano da serpente de madeira é regido pela divindade tai sui, o Grande Duque de Júpiter, o que é não é boa notícia para alguns signos. O SCMP ensina alguns truques para evitar o azar e se proteger.

Força irresistível. Estadunidenses que estudam China não têm conseguido evitar comparar o momento atual do seu país com o passado chinês. Nem sempre o resultado é bom, mas vale ler este relato de um comício do Trump sob as lentes da Revolução Cultural.

O jornal South China Morning Post fez um vídeo sobre a tendência entre consumidores chineses, nos últimos anos, de privilegiar marcas locais em ao invés das estrangeiras.

 

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