Começa no início do próximo mês em Pequim o Congresso Nacional Popular (National People’s Congress) da China, evento anual que reúne na capital do gigante asiático os agentes públicos e privados mais importantes do país e que tradicionalmente serve de palco para importantes anúncios políticos — na edição do 2018, por exemplo, foi anunciada a mudança constitucional que removeu o limite do número de mandatos da chefia de Estado chinesa. Neste ano, as atenções devem estar voltados à economia da China, cuja recente desaceleração já foi destaque aqui na Shūmiàn em diversas edições, e também a questões pertinentes à guerra comercial com Washington, como leis de proteção à propriedade intelectual e transferências tecnológicas forçadas.


Foi condenado à prisão perpétua na última semana Fang Fenghui, ex-chefe da equipe conjunto da exército da China e figura influente no círculo político de alto escalão do país. Feng perdeu seu posto oficial em 2017 após acusações de enriquecimento ilícito e recebimento de propina. O ocorrido é mais um episódio nos esforços anti-corrupção da administração Xi Jinping, que já levou a prisão de diversos agentes públicos — em particular militares — chineses.


Asia Society lançou um relatório sobre governança corporativa na China. Ele trata de questões importantes no âmbito da internacionalização das estatais chinesas. Como sempre, depende muito do alinhamento e equilíbrio entre prioridades econômicas e forças políticas. As SOEs (state-owned enterprises) acumulam dívidas crescentes nos últimos anos e são uma importante fonte de verba para os governos locais e central.


O que o maior prédio chinês pode nos dizer sobre a economia da República Popular da China? Um ensaio de Simon Rabinovitch para o The Economist discute como o prédio (que tem o tamanho de 246 campos de futebol) em Chengdu incorpora questões de corrupção, dívida e infraestrutura, remoções forçadas, desigualdade, setor privado vs. setor público, e inovação. Uma leitura importante.

O prazo para chegar a um acordo da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China estava chegando1º de março. Agora, é provável que seja adiado até o dia 2. As negociações seguem e permanecem tensas. Com uma promessa de que após a meia-noite, os EUA aumenta as tarifas de 10% para 25% em 200 milhões de dólares de importados. Ao que tudo indica os memorandos de entendimento sendo feitos cobrem propriedade intelectual, transferência de tecnologia, cibercrimes, questões monetárias, e agricultura. Além das promessas, o que falta também é garantir que serão cumpridas. As novas negociações parecem prever a possibilidade das acusações criminais contra a Huawei serem abandonadas pelo governo de Trump.

Aliás, essa história toda da Huawei está incomodando até os aliados dos EUA, que insiste que a origem militar de certos funcionários e tecnologias é um indício de perigo (mas o que dizer da ARPANET — precursora da internet e financiada com dinheiro do Departamento de Estado dos Estados Unidos?). De todo modo, o Reino Unido, a Índia e a Alemanha parecem um pouco reticentes com um banimento total da tecnologia da Huawei, especialmente na área do desenvolvimento de 5G, informa Bill Bishop do Sinocism.


Em documento oficial, o governo chinês declarou que pretende otimizar a expansão dos Institutos Confúcio pelo mundo. A iniciativa, lançada em 2004 com o objetivo de promover o ensino da língua e da cultura chinesa ao redor do planeta, já foi alvo de críticas e até mesmo banida de algumas universidades estadunidenses (como a Pennsylvania State University e a Chicago University) por supostamente se engajar com espionagem e propagação de propaganda política de Pequim. As acusações, porém, sempre foram negadas tanto pelos institutos quando pelo governo chinês, e, dado o último anúncio, a iniciativa seguirá no centro dos esforços educacionais internacionais do gigante asiático.

Lembra do polêmico caso de edição genética de bebês com tecnologia CRISPR na China no ano passado? Na última semana, uma nova pesquisa trouxe o episódio novamente aos holofotes da comunidade científica internacional. Inicialmente, as gêmeas Lulu e Nana haviam recebido alterações no gene CCR5 que as tornariam imunes à infecção pelo vírus do HIV. Agora, presume-se que, acidentalmente, o procedimento também tenha melhorado as capacidade cognitivas e de formação de memória das crianças. As implicações éticas de experimentos genéticos com seres humanos, porém, assim como as consequências em grande medida ainda imprevisíveis de tais iniciativas, resultaram em contundentes críticas ao episódio tanto dentro quanto fora da China.


Influencers se tornaram um mercado mundial. Não é diferente na China, onde em Guangzhou (conhecida em português como Cantão), existe literalmente uma fábrica para influencers. Com cerca de 40 funcionários, reúne cerca de 100 live-streamers, que trabalham cerca de 8h por dia. É praticamente um sistema fordista e ao que indica, com grande rotatividade, visto que a vida útil da maioria desses jovens não ultrapassa os seus 20 e poucos anos.


Cultos assustadores e um enigmático apartamento jogado às traças na Taiwan de 1980: estes são os principais ingredientes do jogo mais popular e polêmico do mês   Devotion ( 还愿, em chinês). Rico em referências ao folclore taiwanês e visto por alguns portais de entretenimento como uma mistura de Silent Hills The Haunting of Hill House, a trama do jogo se resume, sem grandes spoilers, em uma família arruinada pelas tentativas desesperadas de salvar a filha pequena de uma doença misteriosa.

O sucesso do game — que já acumulava mais de 120 milhões de menções no Weibo   viu-se, no entanto, em maus lençóis quando jogadores mais  atentos encontraram mensagens subliminares com críticas ao presidente Xi Jinping. Com trocadilhos como “Xi Winnie the Pooh Moron” (Xi Ursinho Pooh Idiota, tradução livre) e até referências de que o presidente teria cometido crimes no passado, não demorou muito para o jogo ser bloqueado na China Continental e revoltar os jogadores chineses por desrespeito ao líder do país.


Acaba de ser publicado o primeiro relatório governamental sobre saúde mental no Império do Meio. Financiado pela Comissão Nacional de Saúde da China e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, o documento aponta casos crescentes de ansiedade e depressão no país, além de ter apontado que pelo menos 16% da população chinesa já sofreu algum tipo de doença mental na vida. Em um país em que ainda é um estigma falar sobre saúde mental e com pouquíssimos psiquiatras disponíveis (1.7 para cada 100.000 habitantes, bem abaixo de 12 psiquiatras pela mesma proporção nos Estados Unidos), o relatório deixa claro o recado: “o governo chinês precisa prestar mais atenção à saúde mental da população”. Você pode acessar o documento completo aqui.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Falando em propriedade intelectual: um artigo novo na MIT Review analisa como a superioridade militar dos EUA poderia, na realidade, nem ser tão ameaçada pela engenharia reversa chinesa já que está tornando-se cada vez mais complexa a tecnologia desenvolvida.

Narrativas chinesas: já conhece o Chinarrative? É uma plataforma que coleta contos e histórias de cidadãos chineses e traduz para o inglês. A última edição é contada por um policial envolvido em uma investigação de homicídio.

E o Oscar vai para…: o último filme chinês indicado ao Oscar foi “Herói”, de Zhang Yimou, em 2003. Este ano, a sino-canadense chamada Domee Shi está indicada pelo curta “Bao”, da Pixar. Entretanto, por trás das câmeras — mais especificamente no bolso — a China tem uma presença muito maior nos filmes que fazem parte da cerimônia.

Desmistificando o Black Mirror chinês: quer entender o Sistema de Crédito Social da China para além da narrativa distópica da mídia ocidental? O South China Morning Post teajuda.

Tibete para Millennials: já imaginou ver hipsters usando roupas tradicionais tibetanas? Calma, é por um bom motivo. Essa é a estratégia de uma loja de roupas de Chengdu para manter viva as tradições culturais do Tibete e, ao mesmo, mostrar aos jovens que é possível ser moderno sem deixar suas raízes de lado.

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