O mundo parece estar em polvorosa. De Hong Kong à Bolívia, conflitos urbanos que nascem de protestos estão cada vez mais violentos. Durante a última semana, ocorreram confrontos dentro da CUHK (Universidade Chinesa de Hong Kong), enquanto a polícia tentava adentrar o campus — diversas pessoas foram presas portando armamentos caseiros para enfrentar as forças policiais que, pela primeira vez, violaram o que era visto como um espaço seguro. Protestos menores ocorreram em outras universidades, inclusive na famosa Universidade de Hong Kong. Muitas universidades estão encerrando o semestre mais cedo, com os protestos chegando no sexto mês. O acirramento vem após um manifestante de 22 anos morrer ao cair fugindo de gás lacrimogêneo, além de dois manifestantes atearem fogo em um homem que se manifestava a favor do governo. O fato de eleições locais estarem previstas para 24 de novembro também tensiona tudo. Após a morte do manifestante, até banqueiros do distrito financeiro têm se juntado às manifestações durante o intervalo do almoço em apoio.


As previsões de retomada do crescimento acelerado da economia chinesa estão cada vez mais pessimistas, já que os números esperados para o trimestre não foram alcançados. O avanço no setor industrial foi inferior ao dos últimos anos (4,7% em comparação com o agora saudoso mediano de 5,4%) e a quantidade e volume de investimentos e consumo também ficaram abaixo do previsto. Apesar disso, as vendas no 11/11 foram muito bem, obrigado. O impacto é global, tamanha a importância da economia chinesa como consumidora de bens importados do mundo inteiro.

O momento econômico pode não ser excelente mas, quando o assunto são as indústrias do futuro, a China segue firme na luta pela liderança mundial. Através de políticas de longo prazo fundamentadas em investimentos públicos volumosos e estratégicos, o Império do Meio se consolidou como um ator fundamental em áreas como 5G e pagamentos eletrônicos — ambas peças fundamentais da chamada 4ª Revolução Industrial. Seria o sucesso chinês a prova cabal de que políticas industriais estado-cêntricas funcionam e que outros países, portanto, deveriam copiá-las? Vale a pena refletir sobre o assunto.

Assim como esperado, Xi Jinping visitou o Brasil na última semana em ocasião da 11ª Reunião da Cúpula dos BRICS. O grupo, formado por cinco das principais economias emergentes do planeta, iniciou-se de maneira informal em 2006 e reúne-se regularmente desde 2009. A edição deste ano, sediada em Brasília, contou, é claro, também com a presença de Jair Bolsonaro, assim como a dos líderes da Rússia, da Índia e da África do Sul. Na pauta, destaque para discussões sobre a importância da cooperação entre o grupo de países para o fortalecimento político comum e a construção de uma nova “década de ouro” de crescimento econômico.

Durante o evento, Xi defendeu o multilateralismo e afirmou que a ascensão do protecionismo comercial corrói os investimentos e fluxos de mercadorias entre os países — crítica compartilhada também pelo presidente russo Vladimir Putin. O líder chinês ainda propôs que os BRICS impulsionem, diante das novas mudanças globais, um novo ciclo de inovações científicas e industriais. Já Bolsonaro salientou a importância dos BRICS no cenário mundial, mas destacou que a política externa de sua administração tem o Brasil em primeiro lugar. “A política externa do meu governo tem os olhos postos no mundo, mas em primeiro lugar o Brasil, para estar em sintonia com as necessidades da nossa sociedade”, declarou.

Em reunião fechada entre os demais líderes do grupo, contudo, o presidente brasileiro preocupou-se em se retratar pelas críticas feitas ao gigante asiático durante sua campanha presidencial, garantindo que as afirmações do passado não refletem mais a realidade. O encontro, que para alguns marcou a recuperação das relações sino-brasileiras, serviu de contexto para a assinatura de uma série de acordos e memorando de entendimento entre os dois países em áreas de política, economia e comércio, dentre outras. Paulo Guedes, ministro da economia da administração Bolsonaro, falou até mesmo em um acordo de livre comércio sino-brasileiro. A aproximação é um alívio especialmente para o Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial e ator fundamental na manutenção dos superávits de sua balança comercial.


Mais uma semana, mais indícios de que a guerra comercial sino-estadunidense pode estar próxima de uma resolução. De acordo com a mídia estatal do gigante asiático, China e Estados Unidos tiveram, no último sábado (16), uma discussão construtiva sobre um possível acordo comercial de primeira fase entre os dois países. A conversa teria abordado as principais preocupações de Pequim e Washington e, ainda, firmado o comprometimento com a continuidade do diálogo entre as ambas as partes. Vale lembrar, porém, que os últimos estágios da formulação de acordos comerciais podem ser difíceis e um retorno à estaca zero não seria um desenvolvimento inédito.

The New York Times publicou o que seriam documentos oficiais vazados do governo chinês sobre a detenção de cidadãos uigures, minoria étnica e religiosa do noroeste do país, em Xinjiang. Nas 400 páginas há detalhes sobre o planejamento das ações, desde 2014, sob ordens de Xi para enfrentar o que era visto como crescente terrorismo islâmico na região. O governo chinês afirma que os campos de detenção são espaços de reeducação e vocacionais para as minorias e matérias na mídia estatal vêm enfatizando que a mídia ocidental está errada. O famoso jornal estatal Global Times publicou um texto bastante crítico ao material do The New York Times, que estaria incentivando o caos na região.


Pesquisadores de Xangai começaram a usar inteligência artificial para detectar doenças genéticas em recém-nascidos. Através de um escaneamento facial, será possível identificar se o bebê possui alguma condição genética específica — como Síndrome de Down e a Síndrome de Cornelia de Lange — ambas com características faciais distintas já nas primeiras semanas de vida. A base de dados ainda está sendo aprimorada com registros médicos passados (fotos e vídeos), mas já é possível reconhecer pelo menos 100 doenças hereditárias.


Falamos em edição passada sobre como a China está investindo em parques nacionais e preservação de áreas com fauna e flora rica. Bom, agora o governo quer criar a versão chinesa do parque Yellowstone, que fica nos EUA. A ideia é abertamente inspirada em Yellowstone, com delegações visitando o parque e conversando com autoridades estadunidenses sobre o tema.


O inverno na China tem mostrado com cada vez mais clareza não apenas as desigualdades regionais, mas também as de renda mesmo dentro de uma mesma cidade. É sabido que apenas a porção norte do país recebe aquecimento central e subsidiado — uma herança de um planejamento arbitrário da Era Mao da década de 1950. As maiores cidades acima da “Linha Qin-Huai” têm infraestrutura para receber aquecimento central; as abaixo, não. Então cidades como Xangai, Hangzhou e Chengdu precisam recorrer a outras alternativas para se manterem aquecidas no inverno, como aquecedores movidos a óleo, ar-condicionados, pisos aquecidos, unidades isoladas de aquecimento central — por apartamento, o que encarece a implementação em larga escala, e certamente encarece a conta no fim do mês — ou simplesmente vestir várias camadas de roupa ao mesmo tempo.

Essa sempre foi uma das maiores diferenças entre as porções norte e sul, ao lado do sotaque carregado no “R” de Pequim e “Xis” em Xangai. No entanto, essa também pode ser uma distinção marcante dentro de uma mesma cidade — a depender em que distrito você mora. Em Pequim, por exemplo, casas localizadas no sexto anel em diante (indo em direção às partes rurais e mais pobres da cidade), podem não ter acesso ao aquecimento no inverno de -10°C da capital.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Fotografia: as imperdíveis fotos de Zhan Youbin, trabalhador de fábrica e fotógrafo nas horas vagas, que documentou 20 anos da força de trabalho por trás do made in China.

Podcast: inspirado pela reunião dos BRICS a entender melhor as relações entre Brasil e China? Ouça então a edição do Ao Ponto sobre os possíveis impactos de uma maior aproximação comercial entre os dois gigantes do mundo em desenvolvimento.

Mais um podcast: a autora Elizabeth Köll discute o seu novo livro sobre o papel das ferrovias na transformação da China neste episódio de New Books in East Asian History.

Hoje é dia de R&B, bebê: uma batida suave faz de Julia Wu aquela voz que você quer ouvir logo de manhã ao acordar.

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