O maior mercado agrícola de Pequim é o mais novo epicentro de COVID-19 na cidade. Responsável por 80% do fornecimento de vegetais e carnes da capital e centro de distribuição para outras quatro províncias, o mercado Xinfadi foi interditado às 3 da manhã de sábado após testes terem apontado que uma tábua de corte de salmão continha resquícios do novo coronavírus. A suspeita é de que o salmão importado tenha sido a origem da nova infecção, já que se trata do mesmo tipo encontrado na Europa. Até o fechamento desta edição, 90.000 pessoas foram testadas desde domingo em Pequim em decorrência do novo foco de infecções. Um outro mercado, localizado no distrito de Haidian, em Pequim, também se tornou um novo foco de infecções. Segundo epidemiologistas locais, os casos têm relação com os de Xinfadi. Até o momento, cerca de 21 comunidades residenciais (小区) foram isoladas.

Com este mais recente incidente, sobe para 79 o número de casos na capital, todos com ligação ao mercado.


Já comentamos diversas vezes aqui na Shūmiàn sobre a moeda digital chinesa, cuja implementação está atualmente em fase de teste em cidades como Shenzhen e Chengdu. Sabemos que a iniciativa promete importantes ganhos à Pequim, que passará a ter mais controle sobre a circulação de dinheiro no país. Que diferença ela fará, porém, à população geral? Não muita. Dado que a China já detém uma infraestrutura avançada de pagamentos digitais, usuários comuns devem notar pouca ou qualquer diferença em sua vida diária com a introdução da nova moeda, já que o uso deve lembrar bastante aquele das carteiras digitais do WeChat e do Alipay (as duas mais populares do país).


Iniciativas para reanimar a economia chinesa parece que agora irão incluir a economia informal, por meio de incentivos para vendedores ambulantes. No início do mês, o primeiro ministro Li Keqiang elogiou a atuação desses empreendedores e prometeu apoio do governo, especialmente pelos esforços em meio à crise de desemprego que o país enfrenta, por ser importante fonte de renda para cidadãos das classes baixas. Algumas cidades estão oferecendo áreas designadas para esse tipo de comércio, com destaque para comida de rua. A relação das autoridades com a economia informal para o desenvolvimento no país é complexa, tal como no Brasil, como conta Rosana Pinheiro-Machado (em 2017). Alguns dias depois da fala de Li, a opinião em jornais estatais é de que é preciso uma padronização, supervisão inteligente e gestão baseada em evidências dessa informalidade no espaço urbano. Mas a discussão segue confusa, com termos relacionados sumindo das redes sociais chinesas.


Na semana passada, comentamos uma tradução de um texto da influente ex-professora Cai Xia falando sobre valores democráticos-liberais no futuro da China. O nome dela voltou para as discussões essa semana com um suposto áudio de 20min vazado de uma palestra privada, sem muitos detalhes — talvez do ano passado. No áudio, transcrito e traduzido para o inglês pelo China Digital Times, fortes críticas foram feitas ao sistema e à teoria de governança do país. Comentários bastante negativos são feitos ao governo Xi e ao Partido Comunista da China, que ela afirma ter virado um “zumbi político” nas mãos de um “chefe da máfia”, com reformas políticas e econômicas que seriam vazias. Acusações também são feitas ao abandono das ideias fundamentais do maoísmo. Alguns apontam que pode indicar disputas grandes dentro do Partido.

Agora é oficial: o leilão do 5G no Brasil vai contar com limitações à participação da gigante chinesa Huawei. Após meses deliberando a participação ou não da empresa de Ren Zhengfei na construção da tecnologia que será essencial para a quarta revolução industrial, Bolsonaro declarou nesta quinta-feira (11) que levará em conta questões de política externa e soberania em sua decisão final. Conforme apurado pela Folha, o chanceler Ernesto Araújo já teria inclusive avaliado possíveis retaliações do lado de Pequim, ao avaliar que o Brasil não sofreria sanções comerciais decorrentes disso.

Apesar de não ser uma decisão final, o governo brasileiro tem mostrado cada vez mais predileção aos caminhos traçados pelos Estados Unidos. Caso o Brasil decida seguir sem a Huawei, é possível que venha a se alinhar com a Aliança D10 — um projeto embrionário liderado pelo Reino Unido e que contaria com a participação da Índia, Austrália, Estados Unidos, Coreia do Sul, França, Canadá, Japão e Itália como alternativa à Huawei.


E no embalo das relações entre Brasil e China, uma longa matéria de Melissa Chan e Heriberto Araujo para o South China Morning Post discute a dependência chinesa pela soja e o impacto desse apetite na vida e no ecossistema da Amazônia brasileira.


Pesquisa de Harvard — que ainda não foi aprovada para publicação, ou seja, não teve revisão de outras pessoas da área para confirmação das conclusões — indicaria que o novo coronavírus estaria se espalhando desde agosto de 2019 a partir de uma busca por palavras associadas aos sintomas da doença (apesar da palavra “pneumonia” não ser uma delas) e trânsito em torno de hospitais importantes em Wuhan. Donald Trump compartilhou e muita gente que quer culpar a China pela pandemia também entrou na onda. Contudo, o governo chinês e muitos analistas questionaram as suspeitas e não conseguiram replicar os resultados de busca (importante para a garantia de que não houve manipulação na conclusão da pesquisa científica).


Sob acusação de tráfico de drogas, um homem australiano foi condenado à morte por uma corte da cidade de Guangzhou, no sul da China. A decisão, que ocorre justamente em tempos de deterioração das relações de Pequim com Camberra, foi enquadrada por alguns observadores como uma retaliação pelo lado chinês. O próprio governo australiano, porém, foi rápido em declarar que este não é necessariamente o caso. A China, afinal de contas, está entre os países que mais aplicam a pena de morte no mundo e essa não é a primeira vez que um estrangeiro também é submetido à punição.


Uma pesquisa do centro Macropolo sobre Inteligência Artificial ganhou as redes essa semana. O mapeamento dos principais cientistas da área foi feito com base em conferências importantes sobre o tema e encontrou que 29% dos pesquisadores têm diplomas de graduação da China, mas 56% deles estão na verdade trabalhando nos EUA. Vale pensar quais os impactos disso para a relação entre os dois países, se piorar a ponto de ser mais difícil a cidadania ou vistos para chineses, e também para a “guerra tecnológica”, que pode ter mais interdependência do que previsto.


Falando em EUA, é possível que os ventos mudem em breve na relação sino-estadunidense? Aparentemente, uma conversa foi marcada para quarta-feira (dia 17) entre o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o diretor do Escritório de Assuntos Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista da China, Yang Jiechi. Entre 2007 e 2013, Yang esteve à frente da política externa, como ministro das relações exteriores. O governo chinês ainda não confirmou a reunião.

A famosa plataforma de videoconferências Zoom, que viu seu número de usuários saltar de 10 milhões para 300 milhões em questão de meses durante a pandemia, causou preocupação ao censurar contas de vários ativistas e eventos online que discutiam os “incidentes” ocorridos em 1989 na Praça da Paz Celestial em Pequim. Segundo a própria plataforma, as ordens vieram da China sob justificativa de violação de leis locais —  ainda que os ativistas estivessem nos Estados Unidos.


explosão de um caminhão tanque carregado de gás liquefeito na província de Zhejiang, sudeste chinês, deixou 19 pessoas mortas e 170 feridas no último sábado (13). As causas do acidente ainda não foram esclarecidas e estão sob investigação por parte de autoridades locais. Ocorrências como essa não são incomuns. Cerca de 200 mil pessoas morrem por ano em acidentes em estradas no país, fazendo da segurança rodoviária uma tema de preocupação governamental conforme a China expande suas redes de transporte.


E como notícia ruim nunca vem desacompanhada, o sul da China vem sendo severamente atingido por enchentes que já deixaram centenas de milhares de pessoas desalojadas. Em resposta, o Ministério de Recursos Naturais do país enviou, na última terça-feira (09), equipes de especialistas para as províncias mais atingidas para contribuir com os esforços locais de contenção de desastres. Não bastasse isso, é provável que outras localidades mais ao norte da China — como as províncias de Hubei e Shaanxi — também passem a ser atingidas conforme as chuvas de verão progridem no país.


O filósofo chinês Yuk Hui fala, em recente entrevista, sobre “tecnodiversidade”, desenvolvimento tecnológico e modernização na China. Seu livro de 2016, “Question Concerning Technology in China: An Essay in Cosmotechnics” apresenta uma análise do pensamento chinês junto com discussões históricas e metafísicas da tecnologia atual, e a relação com o Ocidente. Ele veio ao Brasil, pela primeira vez, em 2019.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Um pouco mais acadêmico: o pesquisador brasileiro Victor Carneiro Vieira discute a raiz do separatismo uigur, na região de Xinjiang, aqui neste artigo, bem como as políticas do governo chinês para lidar com a questão.

Fotografias antigas: projeto da Universidade de Bristol, aqui tem um ótimo site que guarda diversas coleções de fotografias históricas da China. São de fotógrafos amadores de famílias estrangeiras que viveram no país, sejam eles missionários, empresários, estudantes.

Podcast 1: a China tem mesmo influência na Organização Mundial da Saúde (OMS)? Jeremy Youde discute neste episódio do China Power.

Podcast 2: hora de pegar os fones de ouvido e ouvir Evan Osnos falando desde as narrativas chinesas sobre o Black Lives Matter nos Estados Unidos as comparações entre Deng Xiaoping, Mao e Trump. Dá para ler a transcrição aqui.

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