Na última terça-feira, Pequim aprovou, como esperado, a controversa lei de segurança nacional para Hong Kong. Para o governo central chinês, a lei é necessária para lidar com separatismo e interferências externas na região administrativa especial. Críticos, porém, alegam que a decisão de implementá-la destruirá as garantias de autonomia concedidas a Hong Kong quando do retorno da cidade à soberania da China continental em 1997. Leia aqui o texto completo da nova lei (divulgado em inglês por autoridades locais).

E não demorou para que impactos pudessem ser vistos sobre a cidade. Já na quarta-feira, menos de 24 horas após a sua aprovação, as primeiras detenções foram realizadas sob acusações de supostas violações às previsões da lei. Ademais, relatos de livros escritos por figuras pró-democracia sendo censurados ou recolhidos de bibliotecas de Hong Kong alimentam os temores de que a legislação comprometa as liberdades civis locais. É difícil, mesmo para apoiadores, negar que a nova lei muda substancialmente a relação da cidade com Pequim. Resta agora aos moradores aprender a navegar as implicações dessa importante mudança em suas vidas.


2020 era o ano em que Xi Jinping planejava anunciar o fim da pobreza absoluta na China, cumprindo assim uma de suas promessas enquanto líder do país e, ainda, uma das principais missões por trás da fundação do Partido Comunista Chinês. As implicações da pandemia da COVID-19 sobre a economia do gigante asiático, porém, podem ter jogado um balde de água fria sobre essa aspiração: o país, que ao longo das últimas décadas retirou mais pessoas da pobreza que qualquer outro, vê alguns de seus avanços na área se dissolverem em meio a dificuldades para iniciar um processo de recuperação econômica sustentado. Ainda assim, alguns mantêm-se otimistas: “Desde que o nível de emprego se recupere até o fim do ano, eles [os chineses] estarão muito próximos de atingir suas metas relacionadas à pobreza”, afirma Scott Rozelle, da Universidade de Stanford.


Uma empresa de Wuhan usou barras de ouro falsas como seguro em uma série de empréstimos totalizando 20 bilhões RMB (ou cerca de 2 bilhões USD) em bancos e instituições financeiras chinesas durante 5 anos. A história está atraindo muita atenção, já que outro grande escândalo de ouro falso aconteceu há pouco tempo, em 2016. A empresa, Wuhan Kingold Jewelry Inc, é uma das maiores empresas privadas de processamento de ouro no país e está no centro do escândalo, apesar de negar sua participação. O problema também remete a uma questão central no sistema financeiro — o shadow banking na Chinaou seja, companhias de crédito ou instituições financeiras que realizam empréstimos com regulação diferenciada por não serem bancos. Nos últimos anos, o governo chinês tem feito esforço maior para regular a sua atuação.


A construção de grandes hidrelétricas definiu por muito tempo o crescimento chinês, especialmente com a representação da China Three Gorges Corp (CTG, na sigla). Contudo, parece que os ventos estão mudando da energia hidrelétrica para a solar e a eólica — devido à falta de espaço — e o sistema tem se expandindo para o exterior. A CTG entregou essa semana a primeira parte dos geradores da gigantesca hidrelétrica de Wudongde, em Yunnan. Junto com Baihetan, que entra em funcionamento em 2021, as duas encerram um ciclo de construção de mega hidrelétricas no país: a China terá cinco das maiores usinas do mundo.


Já comentamos na Shūmiàn as crescentes sanções impostas tanto por Pequim quanto por Washington a jornalistas: nos Estados Unidos, barraram-se repórteres de mídias estatais chinesas, enquanto na China a censura recaiu sobre profissionais do Washington Post e do New York Times. O circo está se fechando ainda maisAssociated Press, UPI, CBS e NPR tiveram que entregar, no prazo de 7 dias, informações sobre sua equipe, finanças, operações e propriedades sob ordem do governo chinês. O escrutínio vem em resposta à decisão do Departamento de Estado dos Estados Unidos em incluir canais como China Central TelevisionChina News Service, People’s Daily Global Times na lista de mídias estatais como entidades estrangeiras, o que as colocaria à mercê de regras mais rigorosas de segurança e vistos.

Um texto interessante sobre a atuação de ONGs internacionais em parceria com empresas estatais chinesas em países em desenvolvimento, com forte atuação no continente africano. O argumento defende que a situação é vantajosa para os dois lados — as empresas ganham com reputação e oferecem boas verbas para as ONGs internacionais atuarem em projetos de desenvolvimento. É uma parceria que devemos ver mais no futuro. Vale relembrar também esse episódio do The China in Africa Podcast de 2018 com Shantha Bloemen sobre a atuação da China em ações de ajuda humanitária na África.


O professor da FGV, Oliver Stuenkel, escreveu sobre a questão da Huawei no Brasil e o leilão do 5G. Ele pondera sobre o que está em jogo para a empresa, para a China e para o Brasil, que se vê no meio de uma disputa geopolítica sino-estadunidense.


Sinovac Biotech, uma das maiores companhias farmacêuticas da China, recebeu o sinal verde da Anvisa para realizar novos testes com uma nova vacina contra o coronavírus no Brasil. O pedido, realizado pelo Instituto Butantan, prevê o teste em 9 mil pessoas em diferentes estados do país.


Nas últimas semanas, o debate em torno das disputas territoriais da China com alguns de seus vizinhos voltou à tona graças aos choques com a Índia na região dos Himalaias. Um recente anúncio por parte de Pequim trouxe à luz outra importante indefinição nas fronteiras do país. De acordo como o Ministério das Relações Exteriores da China, o gigante asiático nunca definiu seus limites geográficos com o Butão, também nos Himalaias, e cercado por território chinês ao norte e por indiano ao leste, sul e oeste. A conclusão do órgão afirma que terceiras partes não devem se envolver em suas negociações com o pequeno país — uma possível referência à declaração do primeiro-ministro indiano Narendra Modi de que a “era expansionista da China acabou”.

Uma disputa trabalhista envolvendo uma mulher transsexual e uma das gigantes do e-commerce na China chamou a atenção dos internautas chineses nesta semana. Após ter realizado uma cirurgia de redesignação sexual, Gao teve o contrato trabalhista anulado pela empresa DangDang (当当网), onde trabalhava como Diretora de Produto. Gao, então, entrou com um processo contra a empresa, alegando discriminação no local de trabalho. A decisão veio nessa semana, e surpreendeu: o Tribunal Popular Intermediário No. 2 de Pequim exigiu que a empresa mantivesse o contrato e que permitisse que Gao usasse o banheiro feminino.

Mais do que isso, o veredito ganhou notoriedade por defender que a tolerância é um dos fundamentos de uma sociedade avançada e que é preciso adotar visões diversas para a harmonia social. “Somente ao tolerarmos um modo de vida pluralista seremos capazes de ter um conceito cultural mais rico e lançar as bases para uma sociedade tolerante governada pelo Estado de Direito.”


 

Um relatório do antropologista alemão Adrian Zenz indicaria uma política estatal de esterilização forçada em Xinjiang, focada no controle populacional da minoria uigur. Segundo o autor, o relatório usa dados e documentos oficiais do governo da região, além de entrevistas com mulheres do grupo étnico que declararam terem sido ameaçadas para respeitar limites de filhos, multas exorbitantes e inserção forçada de DIUs (dispositivo intrauterino). Políticos dos EUA e outros países já pediram por uma investigação independente liderada pela ONU, uma vez que essa “política” se encaixa em definições de genocídio. Zenz já foi criticado pelos jornais estatais chineses CGTN e Global Times por sua visão política: ele é abertamente de extrema direita e anti-comunista. A crítica feito pelos chineses, incluindo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Zhao Lijian, também nega os resultados da pesquisa, afirmando que é financiada pelos EUA e reafirmando que os campos são centros vocacionais de treinamento.

O relatório foi lançado em conjunto com o aniversário de 11 anos dos protestos na capital de Xinjiang, Urumqi, que ocorreram em 5 de julho de 2009, e terminaram com mais de 1600 feridos e quase 200 mortos. Os protestos haviam se iniciado devido à morte de dois trabalhadores uigures na província de Guangdong, ao sul, resultado de uma briga entre a minoria étnica e os hans (maioria do país) em meio a acusações de assédio sexual por parte dos homens uigures.


A partir desta entrevista, com Zhang Yiming, o CEO e fundador da ByteDance, é possível aprender mais sobre ele e a empresa dona do TikTok —  uma das startups mais promissoras do mundo. A Paindaily/China Tech Buzz está traduzindo e disponibilizando a entrevista de 2 horas que ocorreu na Universidade de Tsinghua em 2018 — incluindo ótimos comentários para o público entender contexto e explicações. Não esqueça de ver também a parte 1 e a parte 2. Yiming compartilha na entrevista sua história, inspirações, visão para a empresa, cultura corporativa e internacionalização. Vale pegar o café.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Documentário: Um longa sobre Wuhan — antes, durante e depois da COVID-19 — conta com entrevistas de 10 famílias da cidade, que relembram as memórias de um período de confinamento e a esperança pela vinda de um novo normal.

Um pouco mais acadêmico: leia a pesquisa do think tank CitizenLab sobre censura no WeChat durante as Duas Sessões. Os resultados indicam que comentários positivos e neutros também caíram na filtragem — e que o papel da censura feita pela empresa não está totalmente claro.

Tipografia e moda: você já parou para pensar na relação entre caligrafia chinesa e marcas de alta costura? A gente nunca tinha pensado nisso até ler este texto aqui.

Podcast: Kevin Desouza conversou no podcast do CSIS, ChinaPower, sobre a nova moeda digital chinesa. Ouça aqui.

Seriado: acabou de assistir a Dark e está procurando uma nova série mais sombria para acompanhar? O drama chinês The Bad Kids (nome oficial em inglês) está no auge de sua popularidade e recebendo diversos elogios do público. Os episódios foram lançados na plataforma iQiyi.

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