O Congresso Nacional do Povo lançou o rascunho da nova legislação sobre segurança de dados para comentários públicos até final do mês. Ainda em 2020 deverá ser lançado também o rascunho de uma lei de proteção de dados individuais. É parte de um novo desenho de legislação chinesa sobre uso de dados e segurança nacional e que começa a ganhar fôlego com a criação do órgão Cyberspace Administration of China (CAC), em 2014, e a Lei de Cibersegurança, em 2016. Também demonstra uma estratégia que coloca big data no centro da atuação do governo. Algumas das críticas são que o rascunho ainda é bastante vago, com falta de discernimento entre diferentes indústrias e que a falta de clareza abre espaço para ampla interpretação de questões importantes. A versão integral da tradução (feita pelo DigiChina) pode ser conferida aqui.

No texto do New America, os analistas destacam cinco pontos importantes: classificação dos dados, centralizados de cima para baixo (definir categorias padrões em vez de deixar para cada empresa); empresas privadas e governo (situações para compartilhamento de dados, novas autoridades regulatórias e regimes jurídicos para empresas podem surgir); criação de mercados de dados, com transações legais; delineamento de atuação dos órgãos relacionados; relacionamento no âmbito dos dados entre a China e outros países.


Em carta ao Global CEO Council, o líder chinês Xi Jinping prometeu a grandes executivos de todo o mundo que a China está comprometida com o desenvolvimento pacífico e com o avanço da reforma e abertura de sua própria economia. Mais do que mera formalidade, as palavras são uma tentativa de preservar expectativas e tranquilizar a comunidade de investidores e empresários internacionais em meio à crise da pandemia da COVID-19 e das tensões com Washington. Citando o crescimento do PIB chinês no segundo trimestre deste ano, Xi ainda destacou a determinação do país em construir um melhor ambiente de negócios tanto para iniciativas domésticas quanto estrangeiras, clamando pela defesa de ganhos mútuos e melhor comunicação com empresas da China.


O porta-voz oficial do Partido Comunista Chinês (PCCh) acusou o Partido Progressista Democrático de Taiwan (PPD), que controla a coalizão na presidência da ilha, de interferir nos assuntos de Hong Kong. Em comentário publicado no último domingo (19) pelo estatal People’s Daily, o PPD foi descrito como responsável por desempenhar um “papel vergonhoso” nas agitações sociais que recentemente tomaram conta da cidade. Supostamente em cooperação com forças separatistas tanto de Hong Kong quanto dos Estados Unidos, o partido teria contribuído com uma força que, de acordo com a versão do PCCh, “ameaça a soberania nacional e a integridade territorial da China”. O PPD, por sua vez, ainda não respondeu às alegações.


Já comentamos aqui na Shūmiàn sobre as fortes chuvas que têm causado verdadeiros estragos ao longo do Rio Yangtze; até o momento, 44 milhões de pessoas foram evacuadas e os custos decorrentes das cheias já ultrapassaram 12 bilhões de dólares. A preocupação, no entanto, não se limita a isso: a inundação de terras somada às perdas econômicas decorrentes da pandemia do novo coronavírus gerou uma alta no preço dos alimentos que alarma o governo central. O preço de produtos frescos aumentou em 9%, e o preço da carne de porco continua subindo. Segurança alimentar é essencial para a estabilidade social, sobretudo no ano em que o PCCh estipulou como meta a eliminação da pobreza no país.


Um discurso de Xi Jinping sobre o Partido Comunista da China foi publicado na revista Qiushi. Por enquanto está disponível apenas em mandarim. A edição inteira é focada em socialismo com características chinesas — que, segundo Xi, tem a liderança do Partido como principal característica. Ele enfatiza que é o respeito ao Comitê Central do Partido o que determina a autoridade do Partido em todos os outros níveis pelo país em última análise.

Um estudo conduzido por pesquisadores do Center for Global Development apresenta dados sobre como a liberalização comercial entre China e EUA, após a entrada, em 2001, do país asiático na Organização Mundial do Comércio (OMC), levou a um aumento de mais de 500% no número de estudantes chineses indo para universidades estadunidenses. Representam, desde 2009, a nacionalidade mais presente entre estudantes internacionais nos Estados Unidos. Os autores fazem um contraponto com a redução de empregos no setor da manufatura devido à importação de produtos, considerada sempre como consequência principal dessa liberalização — e apontam que esse aumento de estudantes vindos da China rende para os Estados Unidos principalmente em (altas) taxas de anuidade para universidades e escolas. Assim, a guerra comercial pode levar a uma perda de 1,15 bilhão de dólares nos próximos dez anos, ou até mais, com a restrição de vistos. Por sinal, muitos estudantes chineses estão preferindo ir para o Reino Unido por causa das tensões.


Donald Trump assinou, conforme esperado, uma ordem executiva acabando com o tratamento comercial preferencial desfrutado por Hong Kong perante os Estados Unidos. Conforme comunicado proferido pelo próprio presidente estadunidense na Casa Branca, a cidade passará a partir de agora a ser tratada da mesma maneira que a China continental, “sem privilégios, sem tratamento econômico especial, sem exportação de tecnologias sensíveis”. Em resposta, Pequim prometeu retaliações contra Washington que protejam os interesses chineses do que classificou como tentativas grosseiras de interferências externas nas questões domésticas do país.


A situação em Hong Kong, mais as crescentes alegações de violações de direitos humanos em Xinjiang têm colocado membros do Partido Comunista Chinês (PCCh) em escrutínio internacional cada vez maior. Da parte britânica, o Reino Unido estuda aplicar sanções à China ou tomar ações conjuntas com aliados em resposta ao que classifica como um  genocídio do grupo étnico uigur. Da parte estadunidense, cogita-se proibir a entrada de membros do PCCh e até mesmo seus familiares nos Estados Unidos, o que poderia atingir mais de 270 milhões de chineses. Sobre membros do PCCh: vale lembrar que se trata majoritariamente de um grupo com alto nível educacional e elitizado, muitos dos quais são empresários, cientistas e políticos importantes que movimentam as relações entre os dois países.

Caso a medida seja concretizada, será mais um passo em falso da administração Trump ao lidar com Pequim. A crescente animosidade entre os dois países têm consequências diretas na vida das pessoas: não deixe de ler o tocante relato do sinologista Ian Johnson que, depois de 20 anos morando na China, foi expulso com a onda de vistos negados a jornalistas estadunidenses no país em março deste ano.

E a carta de Johnson não foi o único episódio do crescente desconforto no campo da mídia e do jornalismo entre Estados Unidos e China nesta última semana. Após um de seus principais jornalistas ter seu visto rejeitado para permanecer em Hong Kong, o The New York Times anunciou que irá mover boa parte de seus escritório e equipe na cidade para Seoul, na Coreia do Sul. A decisão se dá após a imposição da nova lei de segurança nacional em Hong Kong, cujas disposições despertaram preocupações entre as organizações de imprensa — especialmente as estrangeiras — em operação na região administrativa especial.


O embaixador chinês para o Reino Unido, Liu Xiaoming, deu uma entrevista na BBC sobre a nova legislação de segurança nacional em Hong Kong, a crise que a Huawei se encontra no Reino Unido e o vídeo que andou rodando pela internet que afirma ser de transporte de prisioneiros uigures — em imagens que foram comparadas às viagens de trem de prisioneiros durante o Holocausto. A Huawei foi banida das empresas de telecomunicações usando 5G no Reino Unido e, de acordo com o The Guardian, por questões geopolíticas também.

É comum pensar que e-commerce é coisa de empresa grande, mas você sabia que a prática também pode ajudar nos esforços de redução da pobreza? É o que a Pinduoduo, uma das gigantes do e-commerce voltadas para cidades de pequeno e médio portes está provando em uma das localidades mais pobres da China. Ao ensinar agricultores a como vender seus produtos na internet – desde a criação da lojinha na plataforma Pinduoduo, campanha de marketing e até mesmo como fazer live streaming – agricultores que antes viam a venda limitada à região próxima agora podem contar com o mercado consumidor do país inteiro, além de cortar custos de intermediação.

Em uma só tacada, a prática de incentivar e-commerce em zonas rurais da China tem o potencial de levar infraestrutura para as regiões pobres, incorporar pequenos produtores na economia do país e incluir mais pessoas das classes C e D no mercado consumidor nacional.


Após o recente impulso do movimento Vidas Negras Importam ao redor do mundo, grandes marcas de beleza, como L’Óreal e J&J, anunciaram o fim de várias de linhas de produtos de embranquecimento de pele. Bem recebida em diversos lugares, a mudança não agradou a vários na China. A idealização de peles claras no país é antiga — há registros da tendência já no Livro dos Cânticos, escrito há milhares de anos — e tem base em um sistema de discriminação de classe que reverencia a estética aristocrática em detrimento da pele bronzeada dos trabalhadores do campo. Dada a extensão desse padrão, portanto, é mais provável que a interrupção do fornecimento de cosméticos ocidentais clareadores, ao contrário de contribuir com avanços, simplesmente incentive consumidores chineses a optar pelas abundantes alternativas japonesas e sul-coreanas com o mesmo propósito.


Planejar a aposentadoria já é a realidade de muitos jovens chineses olhando para a situação econômica do país e pensando na próxima crise que pode vir. O estilo “FIRE”, que em inglês significa Financial Independence, Retire Early (independência financeira, aposentadoria cedo), ficou popular nos EUA com um livro, lançado em 1992 e repetido exaustivamente por gurus da área financeira. Agora, virou moda na China também. Economizar em gastos com itens de roupas e eletrodomésticos, comer mais em casa, não pedir tele-entrega e similares para economizar mais de 60% do salário são alguns dos objetivos dessa juventude que ganha salários bons (especialmente da área de tecnologia), quer largar o boom do consumismo para se aposentar cedo e viver do rendimento das suas economias. Contudo, inflação e instabilidade da rede de proteção social podem colocar muitos deles em risco lá na frente.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Podcast: aumente o volume, que o episódio do China Talk com a professora Yuen Yuen Ang está imperdível. Como entender o paradoxo chinês de vasta corrupção e, ao mesmo tempo, impressionante crescimento econômico? Ouça aqui.

Mais podcast: ao Café da Manhã, da Folha de São Paulo, Tatiana Prazeres fala sobre os rumos da dita “Nova Guerra Fria” entre China e Estados Unidos. Vale conferir.

Azul é a cor mais etérea: conheça Han Qin, uma artista visual fascinada pela relação transitória e, ao mesmo, duradoura, entre pessoas e lugares. Ainda que focado em migrações, o trabalho de Han também dialoga com a inércia do momento atual.

Uma jornada: fotografias pelo caminho do maior rio da Ásia, o Yangtze, sustento de diversas partes da China há séculos e fonte de inspiração de artistas. A foto abaixo é um desses lindos registros.

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