Em novo surto na província de Hebei, ao sul de Pequim, cerca de 400 pessoas testaram positivo para o novo coronavírus. A proximidade da localidade com a capital do país foi suficiente para que soassem os alarmes entre as autoridades chinesas: antes mesmo que os casos chegassem na casa das centenas, o governo central já havia imposto um lockdown na região, com efeito imediato sobre mais de 10 milhões de pessoas. A reação pode ter sido rápida, mas ainda assim há quem tema que o episódio possa afetar novamente as tradicionais viagens do Ano Novo Lunar, principal período festivo chinês que, no ano passado, já foi celebrado de maneira atipicamente silenciosa graças ao então estado da pandemia na COVID-19 no país.

Por falar em COVID-19, autoridades de saúde chinesas confirmaram na última semana que o país disponibilizará gratuitamente vacinas contra o novo coronavírus (assim que elas estiverem disponíveis para uso em massa) para toda sua população. Zheng Zhongwei, da Comissão Nacional da Saúde, lembrou que há custos associados a produzir,  transportar e aplicar essas vacinas, mas afirmou que a China tem condições de provê-las gratuitamente aos cidadãos chineses. Lembrando que, assim como comentamos na semana passada, no fim de dezembro o país concedeu registro condicional à sua primeira vacina — desenvolvida pela estatal Sinopharm — e que há a expectativa de em breve a vacina da SinoVac — testada no Brasil em parceria com o Butantan — também seja aprovada para uso por lá.

Prisões em massa em Hong Kong. Ao todo, 55 pessoas — políticos bem estabelecidos, advogados e jovens ativistas — foram presos sob a acusação de terem violado a Lei de Segurança Nacional para Hong Kong, por tentarem organizar uma primária não oficial para lançar um candidato de oposição. A maioria das pessoas já foi solta após o pagamento da fiança, mas analistas preveem que elas sejam presas novamente, assim como aconteceu com Jimmy Lai, dono do Apple Daily, famoso jornal local de oposição à Pequim.

As prisões não passaram despercebidas pelo mundo: Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e Canadá condenaram a ação, apontando para a violação de direitos humanos e censura na cidade. Membros do Parlamento Europeu seguiram com as críticas, fazendo menção a cláusulas de respeito a direitos básicos preconizados no Acordo China-União Europeia aprovado recentemente. A China reagiu às críticas estadunidenses comparando a invasão ao Capitólio —  condenada por boa parte do establishment de Washington —  aos protestos em Hong Kong que, para Pequim, seriam igualmente nocivos à segurança nacional.

Parece que vai ter ban mesmo. Ou pelo menos é o que o Trump vai deixar no colo do Biden. A proposta é que 7 aplicativos, como CamScanner e apps de pagamento, como Alipay e WeChat Pay, sejam proibidos nos EUA sob acusação de ameaça à segurança nacional. Contudo, a ordem executiva só entra em vigor em 45 dias, após a tomada de posse do novo presidente, então vai ser uma decisão dele se coloca ou não em prática. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, criticou a decisão, afirmando ser hipócrita a acusação, dado o histórico de espionagem do governo sobre os seus cidadãos.

Ainda sobre os Estados Unidos, o secretário de Estado da administração Trump, Mike Pompeo, anunciou na última quinta-feira (07) que enviará Kelly Craft, embaixadora estadunidense à Organização das Nações Unidas, em viagem à ilha de Taiwan. De acordo com Pompeo, o motivo da visita é mostrar “o que uma China livre pode conquistar”. O anúncio, é claro, não pegou bem em Pequim: a missão do país na ONU respondeu imediatamente, afirmando que se opõe firmemente à decisão e relembrando sua posição oficial de que há somente uma China no mundo e que Taiwan é parte inalienável do território chinês. “Gostaríamos de lembrar os Estados Unidos de que quem brinca com fogo pode se queimar”, completaram.

E ainda um pouco mais de EUA e China: obviamente que a invasão ao Capitólio no dia 6 de janeiro em Washington não ia escapar da mídia e atenção dos chineses. Como já falamos acima, foram feitas críticas ácidas ao fato de que parlamentares estadunidenses haviam elogiado os protestos em Hong Kong. Mas também surgiram comentários em mídias estatais como o Global Times e em redes sociais questionando a democracia no país norte-americano e até falando que era “carma” pela hipocrisia na sua postura ao lidar com outros países. Teve muita piada também, como ofertas para comprar o pódio que foi roubado do prédio.

O analista Jude Blanchette escreveu sobre as mudanças no capitalismo de estado chinês que ele diz que sai do “China, Inc.” para o “CCP, Inc.” em referência ao maior papel do Partido nas empresas chinesas com atuação global, inclusive no âmbito regulatório. Em seu texto para o China Leadership Monitor, Blanchette analisa como muitas das falhas de expansão apontadas por especialistas ocidentais já eram visíveis para Pequim, que tomou medidas para mitigar tornando-se um “Estado investidor”, após a crise de 2008 e especialmente durante o governo Xi Jinping. Vale guardar uns minutos para a leitura.

Após inúmeras críticas pela demora num acordo, o governo chinês autorizou especialistas internacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS) a entrarem no país para investigar as origens do novo coronavírus. Eles chegarão na quinta-feira (14) e ficarão durante uma semana. Pequim está investindo pesado em pesquisa sobre o surgimento do vírus, mas segundo a AP, também está controlando as informações sobre o que é divulgado. O diretor da OMS, Tedros Adhanom, havia criticado a China pelo atraso em concordar com a missão —  o que andava gerando ainda mais especulação sobre a questão.

Há mais de dois anos, a jornalista He Qian apresentou acusações de assédio sexual contra Deng Fei, seu ex-chefe e repórter da revista Phoenix Weekly. O episódio ganhou repercussão nacional e contribuiu com a ascensão do movimento #MeToo no país. A decisão publicada pela corte responsável pelo caso na última semana, porém, ilustra bem as dificuldades enfrentadas por mulheres que acusam homens proeminentes de má conduta sexual: para além de decidir em favor de Deng, alegando que He não apresentou provas suficientes para comprovar suas acusações, o tribunal ainda ordenou que a jornalista arque com taxas legais e danos ao acusado por supostamente violar leis de difamação ao ter tornado o caso público.

Trabalhar das 9 às 9, 6 dias por semana (a cultura 996) é brutal. Já falamos aqui antes sobre as críticas e protestos ao modo de trabalho imposto por muitas empresas chinesas de tecnologia. O tema voltou a ressurgir com força, após a morte de dois funcionários da plataforma de e-commerce Pinduoduo nas duas últimas semanas. Uma das mortes foi a de uma mulher de 22 anos em Xinjiang, que colapsou no chão após terminar seu turno no dia 29 de dezembro. Apesar de não existirem provas ou causa da morte divulgada, as autoridades lançaram uma investigação sobre as práticas trabalhistas da empresa. A Pinduoduo comentou em uma plataforma com uma mensagem, que foi rapidamente apagada (afirmando ser a opinião de um funcionário), dizendo que “estamos numa época em que as pessoas se esforçam ao custo da própria vida” e que “as pessoas podem controlar o quanto de esforço elas dedicam”. A outra morte foi um suicídio, no sábado (9). Desde então, a empresa disse que abriu canais de acompanhamento psicológico para funcionários.

Além disso, um desenvolvedor da empresa divulgou em um post que viralizou que um colega foi hospitalizado por excesso de trabalho. Ele foi posteriormente demitido e contou em vídeo que é esperado que os funcionários trabalhem ao menos 300 horas por mês. As discussões geraram comoção nas redes sociais, com muitas pessoas questionando o modelo de trabalho e “dar a sua vida por dinheiro”. Colin Huang, fundador da Pinduoduo, se tornou recentemente o segundo homem mais rico da China —  aumentando seu patrimônio em 25 bilhões de dólares em 2020, aos 40 anos.

Foi condenado à morte Lai Xiaomin, ex-chefe de uma estatal e integrante do Partido Comunista Chinês (PCCh). Acusado de receber mais de 200 milhões de dólares em suborno, além do crime de bigamia, o caso de Lai não é só mais um caso de um empresário que enriqueceu de maneira ilícita; ele era um membro do Partido, e a severidade de sua punição reflete diretamente isso. Não é comum que crimes de enriquecimento ilícito e corrupção recebam a sentença de morte. Normalmente, a pena é reduzida no fim. O julgamento de Lai é visto por alguns como Pequim enviando uma mensagem muito clara aos membros do PCCh e setor privado: nada está acima do Partido, não importa o quão grande você seja.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Fotografia: saiba mais sobre a história da fotografia contemporânea chinesa, que começou lá no fim da década de 1970 e que reflete com maestria os maiores eventos políticos e mudanças sociais do país desde então.

Música: conheça o pop bem eclético de Yo Lee, com músicas que incorporam congas, violino e efeitos eletrônicos. Vale muito a pena ouvir!

Documentário: pelos olhos do diretor Li Yifan, conheça a história da estigmatizada subcultura chinesa shamate (transliteração da palavra em inglês smart, ou inteligente), surgida no fim da década de 2000 e hoje já quase em extinção.

Comida: 5 litros de bubble tea, um gato cozinheiro ou tele-entrega de hot pot? Essas foram algumas das tendências na pauta de comida dos chineses no ano que passou.

Cerâmica: um podcast em 8 episódios curtos sobre histórias da famosa cerâmica chinesa, suas origens e desafios ao longo dos séculos. Confira o My Stories of Chinese Porcelain.

Arquitetura sino-africana: isso mesmo. Confira fotos e informações sobre alguns edifícios em solo africano feitos com investimento chinês, como o famoso prédio da União Africana em Addis Ababa e o parlamento do Zimbábue.

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