A vacina chinesa CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac Biotech e testada aqui no Brasil pelo Instituto Butantan, foi finalmente aprovada para uso pelas autoridades de saúde da China. A vacina já vinha sendo usada no plano de vacinação chinês, mas agora, após a aprovação oficial, espera-se que sua distribuição se torne mais célere. Além da CoronaVac, a China também já havia aprovado, ainda em dezembro, outra vacina contra a COVID-19 — desenvolvida por um instituto de pesquisa de Pequim junto à farmacêutica Sinopharm — e aguarda a aprovação de mais uma, também desenvolvida pela Sinopharm. O ritmo de vacinação no país, contudo, permanece aquém do esperado. Apesar da capacidade logística do Estado chinês e da produção local das vacinas, até agora apenas cerca de 2 em cada 100 chineses receberam o medicamento (a título de comparação, Israel, que é líder mundial dentro desse esforço, já vacinou 60 de cada 100 habitantes do país).

Acusações de estupro e tortura em campos de Xinjiang ganharam destaque na semana que passou, a partir de uma matéria publicada pela BBC com entrevistas feitas pelo jornal britânico com ex-prisioneiras, ex-funcionárias e um homem identificado como ex-guarda. Segundo as testemunhas, a violência contra as mulheres ocorreu de maneira sistemática ao longo de meses. O campo identificado por uma das prisioneiras é listado como uma escola, e desde 2017 o prédio ganhou adaptações. Alguns especialistas afirmam que as políticas estão diretamente ligadas a Xi Jinping. O governo chinês respondeu de maneira contundente contra as alegações, afirmando que preza pelos direitos das minorias étnicas e das mulheres, e acusou algumas das testemunhas de serem atrizes. O Ministério das Relações Exteriores relembrou, em coletiva de imprensa, que diversos países apoiam “os esforços de contraterrorismo e desradicalização” na região autônoma.

Em tempos de vazamentos de dados no Brasil, o governo chinês está caindo em cima do setor de crédito no país — mais especificamente, das empresas que oferecem informação aos bancos sobre o score de um indivíduo (algo parecido com o SERASA). Segundo matéria da Caixin, um rascunho de legislação está saindo do forno sobre uma regulação para o setor. Aberto para comentários públicos até o dia 10 de fevereiro, há definições como o que é informação de crédito e quais dados podem ser coletados, guardados, processados e também usados pelas empresas. Fintechs ou empresas que usam esses dados para oferecer score de crédito também serão responsabilizadas na nova legislação — que cita o princípio de coletar o mínimo possível e apenas o necessário, além de exigir maior transparência, incluindo quais dados foram usados para a avaliação. Analistas enxergam ser também um dos caminhos para a elaboração de um sistema de avaliação de crédito nacional, o que hoje é realizado de maneira dispersa e pouco organizada.

Por falar em quem é dono de dados, a batalha judicial entre as gigantes Tencent e Bytedance também cobre esse tema. A Bytedance acusa a Tencent de práticas de monopólio, impedindo compartilhamento de conteúdo do app Douyin (o TikTok na China) nos apps “tencentianos”, como WeChat e QQ. Para a dona do Douyin, os dados são dos usuários e eles devem poder compartilhar onde quiserem. Não é a primeira vez que a competição entre as duas empresas vai para os tribunais: em 2018, ambas acusavam uma à outra de competição desleal. O processo pode ajudar nos argumentos do governo chinês em favor da lei antimonopólio (da qual já falamos aqui).

Diretor da Comissão Central de Relações Internacionais do PCCh, Yang Jiechi não pegou leve em sua primeira ligação ao novo Secretário de Estado estadunidense, Anthony Blinken. Em tom assertivo, Yang, que é considerado uma das principais figuras da diplomacia chinesa, afirmou que os Estados Unidos devem “corrigir seus erros” e trabalhar junto com Pequim para desenvolver uma relação entre os dois países que seja pautada por um espírito de respeito, contrário a conflitos e confrontamentos e favorável a ganhos mútuos. O diplomata ainda reiterou que os dois países devem se ater a cuidar de seus próprios assuntos domésticos e, em linha com a postura internacional do gigante asiático, completou declarando que a China continuará seguindo o caminho do socialismo com características chinesas e que “não há quem possa parar o grande rejuvenescimento da nação chinesa”.

Após a divulgação dos relatos sobre Xinjiang pela BBC, a Austrália solicitou que a ONU realizasse uma investigação oficial sobre os abusos. O pedido inclui uma mensagem para que a própria China autorize a entrada de observadores internacionais, como a da Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, a ex-presidenta chilena Michelle Bachelet. De acordo com um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Pequim, Bachelet já foi convidada para visitar Xinjiang e as partes estão em negociação para que a ação aconteça. Já falamos desse vai e vem desde 2018. A solicitação australiana marca mais um passo no aprofundamento de tensões entre os países, como temos relatado nos últimos meses.

A Guiana cancelou a abertura de um escritório de representação de Taiwan em Georgetown na última quinta-feira (4), horas depois que Pequim pediu para que o país sul-americano tomasse medidas para “corrigir seu erro”. O Ministério das Relações Exteriores da Guiana comunicou a revogação do acordo firmado em janeiro deste ano e que continuará a aderir à política de “Uma China”. O embaraço se insere na disputa mais ampla por reconhecimento diplomático, travada por Pequim e Taipei desde 1949. A ilha de Taiwan possui hoje relações diplomáticas formais com apenas 14 países, incluindo quatro nações caribenhas. Nos últimos quatro anos foram três os países da América Central e Caribe que alteraram seu reconhecimento diplomático: PanamáRepública Dominicana e El Salvador.

O International Service for Human Rights (ISHR, na sigla em inglês) preparou um relatório em conjunto com um coletivo de ONGs sobre a atuação de empresas chinesas na América Latina. Com 8 estudos de caso que incluem o projeto Trem Maia (México) e o Porto de São Luís (Brasil), o material aborda o estado de garantia de direitos sociais, culturais e ambientais em jogo em megaprojetos de empresas chinesas, que se concentram principalmente no setor da mineração, do petróleo e das hidroelétricas. Boa parte desses projetos estão localizados em zonas indígenas e de proteção ambiental, incluindo áreas de patrimônio natural e cultural reconhecidas pela UNESCO. O relatório avalia o cumprimento, ou não, de empresas e linhas de financiamento chineses com acordos ou instrumentos internacionais, como a Convenção 169 da OIT e a necessidade de consulta livre, prévia e informada, que deve ser feita com as populações locais. A avaliação gera uma lista de perguntas que deve ser encaminhada ao governo chinês. O relatório está disponível para download aqui.

E falando no projeto do Porto de São Luís (que apareceu também na edição passada), vale a pena se informar sobre o avanço da empresa chinesa CCCC (China Communications Construction Company) no Brasil. Gigante do setor de infraestrutura, a CCCC comprou 80% de participação na empresa brasileira Concremat, e tem buscado outras inserções no mercado. No fim de 2019, ganhou leilão para construir e operar a maior ponte da América Latina, na Bahia, e já começou em 2021 colocando em ação as obras do terminal portuário privado também em São Luís. É importante ficar de olho.

Ao longo de 2020, o uso da internet na China passou por importantes transformações. Em relatório recentemente divulgado sobre o tema, a Administração de Ciberespaço do país mostra que a pandemia do novo coronavírus não freou a expansão do acesso à internet por lá — ao contrário, parece ter contribuído para acelerar o processo. Em dezembro do ano passado, o país já contava com 989 milhões de usuários. O número, que deve ultrapassar a marca de 1 bilhão ainda em 2021, vem sendo alimentado por uma série de fenômenos também observados em outros países, com destaque para a popularização do trabalho remoto e do uso de serviços governamentais via aplicativos móveis.

A animação durou poucoClubhouse, a rede social para conversas por voz que é a queridinha do momento em diversos países, foi bloqueada hoje (8) na China. Para fazer parte dela, era preciso ter um celular com sistema iOS e receber um convite para se inscrever. Estava rolando solta a venda de convites pelo Taobao. Na China, temas sensíveis encontraram espaços abertos no app, que agora nem com VPN vai permitir novos acessos. Há grupos discutindo questões identitárias, como a hegemonia Han sobre as demais minorias étnicas, protestos em Hong Kong, discussões sobre a eficácia do governo central chinês em combater a pandemia e violação de direitos humanos em Xinjiang, com participantes uigures e da diáspora chinesa. Sobre esse último grupo, vale dar uma olhada no fio no Twitter que Kaiser Kuo fez sobre a conversa que rolou por lá.

Por ora, a elite chinesa é quem costuma ter mais acesso ao app, como pessoas de grandes empresas de tecnologia, ativistas, jornalistas e dissidentes.

O domingo (07) marcou o aniversário de um ano da morte do médico Li Wenliang, famoso por ter sido uma das primeiras pessoas a alertar autoridades locais de Wuhan sobre a existência de um novo coronavírus. Inicialmente, Li foi acusado de espalhar “rumores falsos” e obrigado a se retratar. Em questão de dias, com o espalhamento da doença pela cidade, o alerta de Li começou a ser levado mais a sério pelas autoridades governamentais. Milhões de chineses protestaram online contra a forma com que o governo local silenciou o médico e clamou por mais liberdade de expressão. Inúmeros posts e hashtags em apoio a Li foram censurados na época. O médico morreu de COVID-19 no dia 7 de fevereiro de 2020. Neste domingo, milhares de chineses prestaram homenagens online a Li Wenliang, e flores foram colocadas em frente ao Hospital Central de Wuhan, onde o médico trabalhava.

Quer saber mais? Então não deixe de ouvir o excelente podcast do What’s On Weibo sobre o assunto.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

LGBTQIA+ em Hong Kong: conheça três relatos de pessoas LGBTQIA+ de Hong Kong e suas lutas em prol da defesa de minorias. Dentre elas, está Joanne Leung, expoente da comunidade trans e conhecida escritora e política da cidade.

Música: aumenta o volume e confira a nova música de 告五人 Accusefive, uma das queridinhas da Shūmiàn!

E por falar em música: em muitos países, o hip hop é dominado por homens. Na China, porém, várias das vozes mais empolgantes dessa cena cultural são femininas. Entenda como, aqui.

Fotografia: conheça o trabalho de Tommy Fung, um fotógrafo honconguês que retrata a cidade natal com altas doses de surrealismo.

Relatório: confira esta publicação de verdades e mitos sobre a estratégia de fusão civil-militar chinesa, que preocupa tanto os EUA, de autoria de Elsa B. Kania e Lorand Laskai.

Guinness: por aqui somos fãs da Li Ziqi, a blogueira que faz vídeos calmos na China rural. Pois, ela acabou de bater o recorde de youtuber em mandarim com mais seguidores no mundo (14,2 milhões). Quer uma dica? Confira esse vídeo sobre a vida do trigo, que ela começou a filmar em 2019 e publicou em maio de 2020.

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