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Novos casos de Covid e o papel da China no Afeganistão

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Novos casos de Covid-19 em Taiwan e na província de Anhui. Depois de mais de 20 dias sem transmissões locais, a China registrou no fim da semana passada casos não importados de Covid-19. Na parte continental, o vírus foi encontrado na província de Anhui, na região central do país. Entre quinta-feira (13) e sábado (15), cinco pacientes testaram positivo, e no domingo não houve novas detecções. As autoridades locais estão promovendo testagem em massa, segundo a Xinhua.

Já em Taiwan, onde a pandemia vinha bem controlada, novos casos fizeram com que autoridades locais elevassem o grau de alerta e mudassem alguns dos protocolos de segurança para evitar a dispersão do vírus. A ilha, que registrou 12 mortes desde o início da pandemia, viu o número de resultados positivos para o coronavírus passar de 200 — um recorde local. De acordo com o Centro de Controle de Doenças, 333 casos locais e 2 importados haviam sido confirmados até o fechamento desta edição.

Hong Kong é, cada vez mais, um lugar apenas para “patriotas”. As notícias mais recentes sobre a Região Administrativa Especial da China envolvem novas reviravoltas para os movimentos da corrente intitulada pró-democracia, com condenações de políticos, banimento de livros na rede de bibliotecas públicas e renúncias de mandatos e cargos públicos. Sob o argumento da pandemia de Covid-19, o governo proibiu (pelo segundo ano consecutivo) homenagens aos mortos nos protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989. Contudo, manifestações individuais devem ocorrer no dia 4 de junho.

O governo da Chefe Executiva Carrie Lam assinou um contrato para filmar 40 episódios educativos sobre a nova legislação para a TV. Mas a mídia de oposição segue na mira: Jimmy Lai, dono do jornal Apple News, que vem sendo investigado por conta da Lei de Segurança Nacional, teve suas contas bancárias locais congeladas. E, na semana passada (11), uma jornalista do Epoch Times, um veículo crítico a Pequim, sofreu um violento ataque por um homem anônimo à luz do dia, perto de sua casa.

Os episódios se somam às muitas preocupações com a liberdade de expressão, crescentes desde a aprovação da nova lei, e trazem consequências: pais, alunos e professores planejam deixar a região, e o mesmo acontece com profissionais da saúde e expatriados estadunidenses; ao mesmo tempo, pilotos estrangeiros que querem estender seus vistos têm encontrado dificuldades. Esse êxodo já era esperado por Pequim, que vem se opondo às oportunidades de imigração oferecidas por outros países, como já comentamos aqui. Isso não afeta apenas Hong Kong: uma grande universidade de Londres publicou novas diretrizes para pesquisadores focados em China e Hong Kong e pediu que professores evitem gravar suas aulas sobre esses assuntos para não expor a si mesmos e aos alunos. Resta ver como isso deve impactar a economia local no longo prazo, já que, apesar de tudo, houve crescimento de 7,9% no primeiro trimestre deste ano.

Em visita de inspeção, o presidente Xi Jinping foi às instalações do maior projeto de correção hídrica do mundo para verificar o andamento das obras. O megaprojeto consiste em redirecionar parte das águas da porção Sul do país para o Norte e, assim, diminuir o estresse hídrico de províncias como Hebei, Henan e Shandong. O empreendimento, conhecido em inglês como South-to-North Water Diversion Project, foi idealizado ainda nos tempos de Mao Zedong em 1952 e é visto como estratégico para garantir a segurança hídrica dos arredores de Pequim. Uma vez completa (a previsão de término de todos os trechos é 2050), a obra será capaz de redirecionar quase 45 bilhões de m³ de água ao Norte da China, ao conectar o rio Hai aos três maiores rios do país — Yangtze, Amarelo e Huai. Como é de se esperar, um projeto de tamanha proporção preocupa pelos impactos sociais e ambientais, como pessoas realojadas sem indenizações adequadas, efeitos na qualidade da água e perturbações no ecossistema.

Uma esperança no hidrogênio? Esta reportagem do Asia Times destrincha os planos dos chineses para uma eventual  adoção e disseminação dessa fonte de energia mais limpa. O processo parece mais avançado em Shandong, onde autoridades centrais e locais firmaram um pacto recentemente para fazer um projeto piloto na província de 100 milhões de habitantes. A ideia de difundir o uso do hidrogênio como combustível inclui a construção de gasodutos, instalação de postos e renovação da frota de automóveis. Em março, o site também noticiou como os caminhões movidos a hidrogênio estão potencialmente revolucionando a indústria de transportes rodoviários.

Os mercados online e a entrega de comida do Alibaba entraram no novo teste do plano de moeda digital chinesa, inclusive nos aplicativos Ele.me (para entrega de comida) e Tmall (e-commerce). Reportagem da Caixin conta como usuários cadastrados no Alipay (app para pagamentos da gigante de tecnologia) poderão selecionar uma opção de “renminbi digital”. Devido ao enorme alcance do app, agora 1 bilhão de pessoas terão acesso a essa modalidade de pagamento. A Tencent deve se juntar ao programa em breve. No final do ano passado, um projeto piloto em Shenzhen disponibilizou 10 milhões de renminbi em cupons, como contamos aqui. O Ant Group, braço financeiro do Alibaba que opera o Alipay, firmou acordo técnico com o instituto de pesquisa vinculado ao Banco Central da China com foco em moedas digitais.

Com a saída dos EUA do Afeganistão, será que é a vez da China? Esse tema passou a ser relembrado na mídia após o anúncio da retirada de tropas estadunidenses do local, depois de duas décadas de ocupação. A discussão em si circula há alguns anos, mas só agora a presença de soldados chineses no país vizinho ressurgiu como uma possibilidade mais concreta. O maior engajamento entre China e Afeganistão vem também no contexto de aproximação regional, com a Iniciativa Cinturão e Rota, e diante do medo do governo chinês de haver radicalização que afete Xinjiang. Contudo, por enquanto, a resposta chinesa tem sido de criticar a saída abrupta dos EUA, afirmando que ela pode piorar a situação. Argumento ecoado em artigo de opinião no Global Times, de que seria intenção criar instabilidade no entorno da China. Enquanto isso, uma alternativa provável, como levantada no texto do SCMP, seria buscar estabilidade e mediação por meio da ONU, em uma possível operação de paz. Como escreve também o acadêmico Ma Hayun sobre essa possível missão das Nações Unidas, a saída dos EUA gera expectativa de que o governo chinês e outros poderes regionais se tornem mais presentes no processo de paz afegão.

O fim do governo Trump trouxe boas notícias para a Xiaomi, que foi retirada da lista de empresas proibidas de receber investimento de firmas estadunidenses. A restrição vinha do argumento de que a Xiaomi teria vínculos com as Forças Armadas chinesas. Segundo a CNN, a medida demonstra uma inesperada redução das tensões entre a China e os EUA. Outras sete empresas permanecem na listagem, mas devem disputar a questão. Enquanto isso, ganha força a especulação de que a equipe de Pequim responsável pelas tratativas da guerra comercial fará algumas trocas. Matéria do Wall Street Journal comenta sobre a substituição parcial de Liu He (que também é vice-Primeiro Ministro) por Hu Chunhua.

O que direitos de propriedade intelectual (IPs, na sigla em inglês) têm a ver com o acesso a medicamentos e geopolítica? Tudo. Em um working paper digno de um bom cafezinho, a pesquisadora sênior da Academia Chinesa de Ciências Sociais Han Bing explica qual é a perspectiva chinesa sobre o assunto. Em linhas gerais, Pequim é a favor de leis de IPs mais rígidas para incentivar a inovação da indústria farmacêutica nacional e para melhorar o acesso aos genéricos, segundo a autora. Mas há um problema: as legislações desse tipo impedem a comercialização e aprovação de genéricos por seis anos, o que dificulta o acesso a medicamentos baratos e à saúde pública. É uma faca de dois gumes. O trabalho de Han também nos ajuda a entender a complexidade da discussão acerca da quebra de patentes de vacinas, apoiada na semana passada pelos Estados Unidos, e hoje (17) pela China.

Depois do algodão, Xinjiang volta à pauta com painéis solares. A província do Noroeste da China voltou a ser debatida essa semana após a publicação de um novo relatório que vincula a cadeia de produção do setor ao trabalho forçado da minoria uigur. As suspeitas não são exatamente inéditas, e no começo do ano isso foi reportado pelo The New York Times. Mas novas evidências foram levantadas por um trabalho recente feito por uma pesquisadora da Universidade Sheffield Hallam, do Reino Unido, e de uma analista de cadeia de suprimentos que morou em Xinjiang por 19 anos. O governo chinês segue negando as acusações de violação de direitos humanos e, em entrevista recente, a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores disse que se trata de uma mentira ultrajante.

Por falar em Xinjiang, o embaixador brasileiro Paulo Estivallet visitou a província a convite do governo chinês. O assunto é reportado pelo jornal O Globo em um texto que indica que o novo chanceler, Carlos França, teria dado aval para a viagem. Isso seria uma mudança de postura em relação ao que fez Ernesto Araújo, que vetou a ida de Estivallet à região do Tibete recentemente. A reportagem lembra que o governo brasileiro nunca se manifestou sobre a situação de Xinjiang.

Logo depois de publicarmos nossa edição passada, a China divulgou os resultados de seu censo. Decidimos voltar ao tema para enfatizar alguns pormenores da pesquisa. O dado que mais chamou atenção foi o crescimento populacional, passando de 1,339 bilhão  para 1,412 bilhão de pessoas. Embora os números desmintam as especulações internacionais, como as que comentamos aqui, essa é a menor taxa de crescimento nacional em mais de 50 anos. Vale a pena destacar, como fez a plataforma Radii, que a população chinesa está atingindo níveis educacionais mais altos e que o analfabetismo caiu. A China permanece um país com desproporção entre os gêneros masculino e feminino e apenas duas províncias possuem mais mulheres do que homens. E, em um momento em que a redução da taxa de natalidade preocupa, ficou claro que o afrouxamento da política do filho único trouxe resultados na demografia: 50% dos recém-nascidos são o segundo filho de um casal. Como de costume, houve quem levantasse suspeitas sobre os números, especialmente o de nascimentos após o ano de 2016: os dados seriam convenientes para a política governamental de estímulo à natalidade.

Há algumas semanas, trouxemos para os nossos leitores cinco questões de interesse, levantadas pela Caixin, a serem respondidas pelo censo. Algumas respostas para quem ficou curioso: sim, a porcentagem da população da etnia Han diminuiu de 91,51% para 91,11% do total e, conforme especulado, a população na região Nordeste da China de fato diminuiu 1,2% de 2010 para cá. Questões sobre as regiões de Chengdu-Chongqing, Guangdong, Shanghai e Liaoning ainda são um mistério, porque os dados regionais são de responsabilidade de suas respectivas localidades e devem ser lançados apenas nos próximos meses. Fica aí a oportunidade para novas apostas.

Uma tragédia que virou um debate sobre transparência na China. A morte de um adolescente em Chengdu, capital da província de Sichuan, tornou-se alvo de protestos e pedidos de mais transparência das autoridades locais. Lin Weiqi morreu no dia 8 de maio, horas depois de ter sido levado à escola em que estudava. A instituição avisou a família do jovem que ele teria cometido suicídio; contudo, sua mãe seguiu cobrando autoridades por mais informações e queixou-se de ter sido comunicada apenas duas horas depois do incidente.

O caso não ficou restrito à família e ganhou as redes sociais chinesas, como o Weibo. Na imprensa estrangeira, o caso também ganhou notoriedade pela falta de informações disponibilizadas ao público e falta de liberdade de imprensa na China. Os veículos citam como exemplos o fato de a polícia ter dispersado protestos que clamavam por “verdade” em frente à escola onde Weiqi morreu. A mídia estatal chinesa também entrou na história. A CCTV fez um comentário criticando o estabelecimento de ensino por ser um “mau exemplo” de compaixão à dor dos familiares. O texto dizia que a escola deveria colocar em prática o slogan que está em suas paredes, “procure a verdade, seja gracioso”. Já o Global Times publicou um texto insinuando que as manifestações tinham motivos obscuros.

Como responsabilizar menores? Após uma série de crimes violentos cometidos por crianças e adolescentes ter ganhado as manchetes do país, a China alterou a idade mínima de responsabilidade juvenil, de 14 para 12 anos para casos de crimes hediondos. Como Sam Davies explica em uma ótima reportagem para o The World of Chinese, há um padrão visto nessa demografia que tem aparecido tão cedo nas páginas policiais: cerca de 83% dos jovens são de zonas rurais, e 66% são “crianças deixadas para trás” enquanto os pais buscam uma fonte de renda em cidades urbanas. Também há um outro recorte: 95% são do gênero masculino. A lei entrou em vigor em março de 2021 e é vista com ressalvas por especialistas, que acreditam que a solução deveria passar por mais atenção a redes de proteção social e centros de recuperação juvenil menos punitivistas.

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Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Vozes Negras na Sinologia: chegou mais um artigo exclusivo para o site da Shūmiàn! Desta vez, temos Tiago DeFerreira, integrante do Vozes Negras na Sinologia, falando sobre a importância geopolítica das terras raras para a China. Confira aqui.

Uma enciclopédia de vegetais: tocado por Jamie Pea, uma chef e escritora que hoje reside em Shanghai, o projeto propõe a criação de uma enciclopédia, destacando receitas vegetarianas, do imenso universo de deliciosos vegetais chineses desconhecidos por muita gente no Ocidente e até na própria China. A matéria é de Lu Zhao para o Radii.

Registro histórico: confira este ensaio fotográfico da construção de quatro represas no rio Mekong no trecho em que ele passa pela província de Yunnan, entre 2011 e 2019. Para refletir sobre o desenvolvimento chinês e seu impacto ambiental.

Acaba de sair do forno: um artigo acadêmico em que Xiaojun Li, professor da Universidade da Colúmbia Britânica, analisa a adoção da Lei de Investimentos Estrangeiros. O autor argumenta que, apesar da recentralização de poder no Executivo no governo Xi Jinping, os procedimentos legislativos permanecem fortemente institucionalizados e seguindo seus próprios ritos.

História do chá: o historiador Laszlo Montgomery, do famoso China History Podcast (CHP), lançou uma versão revisada da sua série sobre a antiga história dessas deliciosas folhinhas em podcast focado no tema. Saiu apenas um episódio por enquanto. A temporada que existia no CHP não está mais disponível.

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No dia 20 de maio (20/05) é celebrado (mais um) Dia dos Namorados na China. Wǔ èr líng é uma gíria da internet chinesa porque lembra um pouco a sonoridade de 我爱你 (Wǒ ài nǐ), que significa “eu te amo” em chinês.

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