Edição 213 – Economia chinesa enfraquece e mercado imobiliário tem alerta
Sinais de crise por aí? O impacto dos sucessivos lockdowns em cidades chinesas, sobretudo em megalópoles como Shanghai, já começa a ser sentido nos indicadores do país. Isso foi visto no resultado do PIB do segundo trimestre deste ano: a segunda maior economia do globo expandiu apenas 0,4% entre abril e junho, enquanto analistas esperavam alta de 1%. Outro alerta vem do mercado imobiliário, setor impulsionador da economia chinesa e sempre bastante sensível aos primeiros sinais de que as coisas não vão bem: a Bloomberg mostra que hipotecas não estão sendo pagas devido ao atraso em construções, já que elas exigem trabalho presencial. Como a coisa não tá fácil, o South China Morning Post mostra que, em alguns casos, imóveis estão sendo pagos parcialmente com melancias, alho e até pêssegos. Isso vem acontecendo porque proprietários de imóveis não podem baixar o valor de suas propriedades (o que, segundo o governo, acentuaria a crise no mercado). A solução encontrada para driblar a lei e atrair compradores foi negociar descontos em trocas de frutas e legumes.
O mundo está mais quente, e a China está na dianteira em energia solar. Este texto da The Wire discute a adaptação chinesa às mudanças climáticas e relata visitas recentes de Xi Jinping a locais de produção de energia de origem solar. O SupChina trouxe na semana passada uma conversa com a especialista Paula Mints sobre a liderança chinesa neste setor e os desafios que isso apresenta para os Estados Unidos. Para saber mais, vale dar uma conferida neste fio da pesquisadora Yan Qin sobre o plano do governo central de instalar painéis fotovoltaicos em pelo menos 50% de todos os novos prédios públicos a partir de 2025 e também nesta análise das políticas públicas implementadas pelo governo em parceria com o setor privado para estimular a energia solar no interior do país feita pelo especialista David Fishman.
E por falar nisso, assim como em outros países do hemisfério norte, uma onda de calor atinge cidades chinesas. As temperaturas acima do comum já geraram alertas e deixaram mortos. Uma reportagem da Sixth Tone conta que antigos abrigos antibomba na cidade de Nanquim estão sendo usados por moradores para se proteger do calor acima do solo. Já o The Washington Post fala que as temperaturas elevadas, que ultrapassaram 42 graus em alguns locais, são responsáveis por inundações, que também deixaram vítimas.
Xi viaja outra vez. Duas semanas depois de ter ido a Hong Kong, o líder chinês Xi Jinping foi à região autônoma de Xinjiang, em sua segunda viagem ao local desde que assumiu o governo, em 2012. A turnê de inspeção ocorreu entre terça (12) e quinta-feira (14), com grande destaque para a palavra “estabilidade” nos discursos de Xi. A mídia estatal tratou de mostrar o presidente assistindo a apresentações culturais locais. Diferentemente do que aconteceu em 2014, quando a ida do presidente coincidiu com ataques que deixaram mortos e feridos, dessa vez não foram registrados incidentes. Xinjiang é uma região marcada por denúncias de violações de direitos humanos contra uigures, o que é negado por Pequim.
Confusão dos bancos segue em Henan. Na semana passada, trouxemos aqui um relato sobre como calotes geraram protestos na província chinesa. Como o assunto continua relevante, recomendamos esta entrevista publicada recentemente pelo SupChina com a economista Liqian Ren. Ela explica o que exatamente está em jogo nessa onda de manifestações que está dando dores de cabeça por lá — e fazendo o Weibo rever suas estratégias de controle de conteúdo.
O que a China tem a ver com a crise do Sri Lanka? O país asiático vive uma crise há meses, depois da declaração de moratória em 12 de abril e da fuga do presidente para Cingapura. A situação por lá está difícil politicamente e economicamente e isso tem tudo a ver com Pequim: como explicou o professor Maurício Santoro para o Nexo, a China é a principal credora individual do país e o fluxo de dinheiro chinês para as obras de infraestrutura local contribuiu para a ascensão dos atuais governantes. Assim, reabriu-se o debate sobre uma possível “armadilha da dívida” envolvendo o gigante asiático. A newsletter Panda Paw Dragon Claw tratou das respostas chinesas à crise do Sri Lanka e foi taxativa em dizer que não há armadilha chinesa alguma.
Xi quer se reunir com líderes europeus. Desde que a pandemia de Covid-19 começou, em 2020, o presidente chinês se manteve, assim como seu país, isolado de lideranças mundiais. Xi Jinping não deixou suas fronteiras desde então e se reuniu pessoalmente com pouquíssimos nomes que estiveram em Pequim, como Vladimir Putin e Alberto Fernández, ambos para os Jogos Olímpicos de Inverno, no início deste ano. Não parece que isso vai mudar muito no futuro próximo: o SCMP publicou nesta segunda (15) uma reportagem dizendo que Xi enviou convites para um encontro com líderes como o chanceler alemão Olaf Scholz, o presidente francês Emmanuel Macron, o primeiro-ministro italiano Mario Draghi e Pedro Sánchez, premiê espanhol — chamando todos para Pequim, aproveitando a viagem para o encontro do G20 em Bali, no mesmo mês. De acordo com o texto, não há um retorno sobre a confirmação do encontro, prevista para novembro de 2022, logo após o Congresso do Partido Comunista Chinês. A ver o que acontece até lá.
Tráfico humano de chineses alimenta golpes online. Essa semana, um grupo de chineses vítimas de sequestro no Camboja foi resgatado pelas autoridades dos dois países. Esse não foi um caso isolado: uma recente matéria da Vice contou sobre o aumento de casos de empregos falsos no Sudeste Asiático — os recrutados são atraídos para trabalhar em vagas que parecem ser de empresas reais com negócios legítimos e acabam sequestrados quando chegam ao novo país. Essas vítimas são forçadas a “trabalhar” em centros de “pig butchering” — esquemas que enganam pessoas, criando laços românticos online e manipulando as vítimas para realizar investimentos falsos, entre outras fraudes. Devido aos altos investimentos chineses no Camboja, especialmente na cidade portuária de Sihanoukville, os vizinhos parecem ser uma das principais vítimas visadas por sequestradores. Diversos desses casos se localizam no Camboja, onde até uma ONG foi criada por ex-vítimas (a Chinese-Cambodia Charity Team), focada em ajudar a resgatar pessoas nessa situação. E várias vítimas são adolescentes.
Relatos de casos de chineses sofrendo sequestros (para serem forçados a trabalhar ou “devolvidos” após pagamento de resgate) no Camboja aumentaram nos últimos anos, com a crise econômica que veio a partir da pandemia. Os dois países já criaram uma força-tarefa para enfrentar a questão e câmaras de comércio chinesas se manifestaram no final de 2021 para trabalhar junto às autoridades. Em fevereiro, um caso famoso de um cidadão chinês que afirmava ter sido sequestrado e usado para venda de sangue foi posteriormente negado pela Embaixada da China em Phnom Pehn, que disse que o relato era falso. Isso dificultou o trabalho sério que estava sendo feito e causou desconfiança das autoridades cambojanas.
De mala e cuia: pensando em se mudar para a China? Então você precisa conferir esta pesquisa (em mandarim) das 20 melhores cidades para morar no país. A ganhadora foi Changsha, seguida por Kunming e depois Chengdu. Quase 87% dos respondentes da pesquisa, organizada pelo app Xiaohongshu, são da geração nascida no pós anos 90. Os entrevistados citaram fatores como custo de vida, mercado imobiliário, infraestrutura de transportes e médica, e também diversidade na culinária, ambiente tolerante e clima agradável. A grande maioria disse que já pensou em se mudar para outra cidade no país. Com o aumento da necessidade de trabalho remoto, houve um crescimento dos nômades digitais na China — como conta essa matéria de Luna Sun. Ainda assim, os números são pequenos: segundo pesquisa citada na matéria, apenas 1% dos trabalhadores chineses têm a opção de trabalhar de casa.
Hollywood está tendo um péssimo período na China. Enquanto as salas de cinema brasileiras são dominadas por blockbusters vindos de Hollywood, a situação na China — que já era controlada — parece que apertou o cerco para o domínio dos Estados Unidos no cinema nos últimos dois anos, em meio a tensões geopolíticas. Já se dizia isso no ano passado, como neste texto do Hollywood Reporter. Ao que tudo indica, o caminho segue, já que Thor: Amor e Trovão, o mais recente filme do Universo Cinemático Marvel (MCU), será o sexto filme seguido do estúdio sem lançamento na China. Os críticos acreditam que seja por conter temas LGBTQIA+, mas não há como confirmar ou negar isso, porque dificilmente há justificativas públicas e oficiais pelas autoridades.
Em 2020, o país se tornou a maior bilheteria do mundo e, na expectativa de garantir um quinhão, o estúdio investiu em produtos que pudessem se dar bem com o público chinês. A direção de Chloe Zhao (nascida em Pequim) em Eternos e o primeiro herói asiático do estúdio Shang-Chi (com os astros Tony Leung e Michelle Yeoh, e cenas em mandarim) eram as principais apostas. Não foram suficientes. Antes dos filmes estrearem, Zhao se viu criticada por comentários sobre o país e Shang-Chi desagradou pelo histórico do estereotipado personagem Mandarim, que rendeu acusações de racismo contra a Marvel. Não sobrou só para o MCU: a sequência de Top Gun, o maior blockbuster de Hollywood do ano, também não estreou nos cinemas chineses — possivelmente por incluir uma bandeira de Taiwan na jaqueta de Tom Cruise. Mas nem tudo é fracasso para o complexo industrial de Hollywood, já que o último Jurassic World não apenas estreou, como subiu ao topo da bilheteria. As idas ao cinema na China desaceleraram em 2022, com o avanço da política de Covid Zero.
Balada zero. A estrita política de tolerância zero à Covid-19 adotada pela China trouxe muitas mudanças ao país, já sabemos. Esta reportagem da Al Jazeera conta como os recentes surtos da doença impuseram ainda mais restrições ao setor de bares e festas, que são vistos pelas autoridades como locais e ocasiões de alto risco de transmissão do coronavírus. O texto ainda conta que, se setores como o e-commerce cresceram nessa nova realidade, os comerciantes da área de diversão e shows não se mostram nada otimistas com os negócios.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Acadêmico: como os países do Sul Global são impactados pela ascensão chinesa? Essa é a pergunta norteadora do livro China’s rise in the Global South, de Dawn C. Murphy, que analisa sobretudo o continente africano e o Oriente Médio.
Amo muito tudo isso: a Goldthread publicou um divertido vídeo sobre o que redes globais de fast food fazem para se adaptar ao paladar chinês e atrair o público local. Você aceita um hambúrguer com raiz de lótus?
Apresentação é tudo: não só as combinações de sabores da culinária chinesa são únicas e cheias de história, mas as técnicas de empratamento também. A NeoCha publicou uma matéria cheia de imagens sobre o perfil Chinese Plating no Instagram, que busca resgatar fotos antigas de comida chinesa.
Para ler com pipoca: o renomado cineasta chinês Jia Zhangke concedeu uma entrevista sobre o estado do cinema em seu país. A fala dele já rendeu mais de 10.000 visualizações no WeChat. O Radii China escreveu aqui sobre o tema.
Façam suas apostas: entre especulações bem informadas e chutes, o pesquisador Lee Jonghyuk usou aprendizado de máquina — um tipo de inteligência artificial — para avaliar quantitativamente quais os candidatos mais prováveis de receberem uma promoção no Congresso Nacional do Partido.