Edição 249 – Viagem de Lula reafirma importância da China para o Brasil

A reforma. Como já comentamos, uma série de reformas de governança foram anunciadas nas Duas Sessões. Chamou atenção a reorganização do Ministério de Ciência e Tecnologia (MOST), que fundiu várias agências reguladoras e criou novos órgãos de supervisão. Este texto do Jeffrey Ding, fala sobre algumas das muitas motivações por trás da reorganização do Ministério, entre elas, a necessidade de melhorar a coordenação e a eficiência do governo em meio a desafios econômicos e políticos crescentes, incluindo as disputas comerciais com os Estados Unidos e o impacto da pandemia de Covid-19. Outro artigo para ler mais sobre o assunto é o do DigiChina, que discute o contexto por trás desse processo de reorganização e faz uma descrição de como especialistas do governo chinês veem o progresso do país. Isso inclui sugestões sobre a importância de um Estado facilitador e de um mercado efetivo que apoie e assegure os riscos de pequenas empresas inovadoras de alta tecnologia.

Denúncias anônimas sobre material ilegal na internet. Essa é a nova aposta da agência chinesa reguladora do ciberespaço para coibir postagens e sites que tenham conteúdo político ilegal. O instrumento já é utilizado em diversos sites e redes sociais baseadas na China, mas a Administração Ciberespacial da China (CAC, em inglês) quer fortalecê-lo, tornando o processo de denúncia e averiguação mais consistente. Nos últimos meses, oficiais chineses vêm estimulando a população a denunciar conteúdo que não siga as normas políticas e ideológicas do governo.

Incêndio em hospital particular em Pequim deixa 29 mortos e se torna o mais fatal dos últimos 20 anos, segundo o The Guardian. A tragédia ocorreu na tarde de terça (18) no Hospital Changfeng, no distrito de Fengtai, e diversos vídeos circularam pelas redes sociais antes de serem derrubados nas horas iniciais, segundo o What’s On Weibo. Dentre as vítimas, 26 eram pacientes e há ainda 39 feridos em recuperação, principalmente idosos. O People’s Daily informa que 12 pessoas já foram presas na investigação das causas, incluindo o diretor do hospital e o vice. Pela análise preliminar, foi uma pane elétrica que iniciou o fogo. Familiares criticaram a demora de mais de 7h para receber qualquer informação sobre os feridos e tendo que descobrir sobre o incêndio pelo jornal.

Começou bem, terminou mais ou menos. A viagem de Lula para a China finalmente aconteceu, entre os dias 12 e 14 de abril, foi considerada um sucesso pelo presidente brasileiro (e possivelmente para Xi Jinping) e resultou em 15 acordos de cooperação bilateral, somando mais de 50 bilhões de reais. Os compromissos cobrem diversos temas, tanto no âmbito de pesquisa científica na área de tecnologia da informação e comunicações, saúde, meio ambiente, segurança alimentar, e agronegócio. Também houve acordos firmados entre governos estaduais e entre empresas. O Poder360 compilou o material na íntegra.

O presidente brasileiro iniciou a visita em Shanghai, onde esteve presente para a posse de Dilma Rousseff na direção do Novo Banco de Desenvolvimento e também fez um discurso que gerou discussão ao questionar a dominância do dólar na economia mundial, como explica esta matéria da Headline. Vale resgatar o nosso cafezinho com Alexandre Coelho sobre o acordo feito entre Brasil e China para uso de moedas locais. Na quinta-feira (13), teve uma visita planejada à Huawei (com direito a foto em óculos de realidade virtual) e outros compromissos com empresas chinesas. Na sexta-feira (14), encontrou-se com Xi Jinping em Pequim em reunião aberta, mas também tiveram uma conversa privada (que durou mais do que o planejado). Muita coisa mudou desde o último governo Lula — como bem demonstrado nessa matéria d’O Globo. A nossa gerente de mídias e artigos Aline Tedeschi esteve na CNN Brasil falando sobre o balanço da visita. E sem perder o embalo, aproveite para conferir o documento de propostas para as relações Brasil e China lançado pela Observa China.

A declaração conjunta dos dois países enfatiza a importância da relação nos 30 anos do estabelecimento da Parceria Estratégica. Também teve uma declaração focando no enfrentamento às mudanças climáticas. Na comitiva estavam ministros, governadores, representantes do Legislativo, além de assessores, conforme conta o Poder360. Lula não fez a coletiva com a imprensa brasileira que estava planejada durante a viagem, deixando para a próxima parada, nos Emirados Árabes Unidos — mas deu uma entrevista à imprensa chinesa no dia 13. O assessor do presidente e ex-chanceler Celso Amorim também conversou com o Global Times.

Uma das expectativas do encontro, pelo menos do lado brasileiro, era impulsionar um grupo para mediar o fim da guerra na Ucrânia: faz parte tanto dos planos do Brasil para retomar seu protagonismo, quanto da diplomacia de Xi (ou Xiplomacia). Mas a questão aparentemente não decolou, como discute esta matéria da BBC Brasil. As declarações de Lula sobre o tema, criticando os EUA e a visita do chanceler russo Sergei Lavrov ao Brasil podem ter afetado a opinião pública sobre o saldo positivo da missão para a China.

Além de questões comerciais e direitos humanos, Ucrânia e Taiwan foram as principais pautas entre China e Alemanha na semana passada. Repensando a dependência de Pequim, Annalena Baerbock, ministra alemã das Relações Exteriores, chegou ao país asiático na quinta-feira (13) para uma visita de três dias, na qual se encontrou com seu contraparte Qin Gang. Em coletiva de imprensa em que as diferenças ficaram bastante expostas, Gang afirmou que China e Alemanha devem cooperar e deixar de lado a confrontação em blocos para evitar a repetição de erros históricos. Por outro lado, Baerbock pressionou Pequim a condenar inequivocamente a agressão russa à Ucrânia e a diminuir as tensões no Estreito de Taiwan, cuja estabilidade foi descrita como crucial para Berlim. Diante dos sinais confusos emitidos por lideranças europeias, o repórter William Yang da DW em Taipei conversou com habitantes da ilha para saber o que pensam sobre a política externa europeia para a região e o resultado é que as expectativas estão bem baixas.

O caso das delegacias secretas no exterior voltou à tona. Na segunda-feira (17), autoridades estadunidenses prenderam dois cidadãos chineses acusados de serem operadores de uma delegacia ilegal da China em Nova York. Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, Lu Jianwang e Chen Jinping teriam instituído o órgão, o primeiro nos EUA, na Chinatown em nome da seção de Fuzhou do Ministério de Segurança Pública chinês. Além de Lu e Chen, outros 34 cidadãos chineses também foram indiciados por participarem de campanhas de monitoramento e assédio de críticos ao regime nos EUA.

Associação de Tênis Feminino retoma torneios na China. Em 2021, o caso da tenista chinesa Peng Shuai denunciou abusos cometidos por um ex-líder político em seu país, o que gerou preocupações com sua segurança e com a segurança de jogadoras e funcionários da Associação de Tênis Feminino (WTA). Na época, a WTA anunciou uma suspensão na realização de seus eventos na China em apoio a Peng Shuai e a outras atletas. Após 16 meses, a organização decidiu retomar os torneios na China em setembro. Na nota afirmou que, apesar de não ter alcançado todos os seus objetivos, teve progressos significativos na criação de oportunidades para as mulheres na China ao longo dos últimos 20 anos. Porém, reforçou que a segurança de Peng Shuai e de todas as mulheres atletas é de extrema importância e que continuará a lutar pelos direitos das mulheres em todo o mundo. Este fio do Mark Dreyer comenta um pouco sobre o caso e como parece que a mensagem que fica é de que a China venceu o caso apenas ignorando-o.

O efeito extraterritorial da da lei de segurança nacional chamou a atenção essa semana. O relato do professor Tomoko Ako sobre uma jovem honconguense, que estudava no Japão, e foi presa sob suspeita de violar a Lei de Segurança Nacional ao publicar uma postagem em apoio à independência de Hong Kong no Facebook. O fato ocorreu quando a estudante voltava para casa para renovar sua carteira de identidade. Embora tenha sido libertada sob fiança, ela não pode retornar ao Japão para continuar seus estudos, já que seu passaporte foi confiscado. Em entrevista ao veículo financiado pelo governo dos EUA Radio Free Asia, Tomoko Ako informou que vai ajudar a estudante (que é namorada de um aluno seu) a candidatar-se à universidade para aulas online enquanto está em Hong Kong.

Tempestade de areia na China chega até a Coreia do Sul. O evento sazonal que acontece no deserto de Gobi, localizado na fronteira entre China e Mongólia, é bastante comum, mas está causando cada vez mais incômodos aos países vizinhos. A poeira amarela de partículas finas resultantes das tempestades atingiu o norte da China em março e abril, especialmente na capital. Ela foi então carregada pelos ventos até chegar à península coreana e, neste ano, mais a leste, ao Japão. O acontecimento afeta o cotidiano, agravando a poluição do ar e tornando as pessoas mais propensas a doenças respiratórias. Esta matéria da BBC traz relatos de como a poeira se tornou parte das vidas dos habitantes da Coreia do Sul, observando que não há uma maneira realista de evitar sua exposição. Alguns dos relatos, dos mais idosos principalmente, narram como as tempestades têm se tornado mais frequentes e mais densas ao longo dos anos. Um dos motivos, segundo o governo chinês, tem a ver com o aumento das temperaturas e a queda da precipitação no deserto de Gobi.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

A saga: essa matéria do Rest of World, conta sobre o impacto que o aplicativo Xiaohongshu está tendo em Düsseldorf, na Alemanha. A cidade se tornou um destino popular entre os usuários do app e inspirou uma onda de viagens da diáspora chinesa na Europa em busca de encontrar comidas caseiras do seu país e especialidades regionais.

Paixão: este ano comemora-se o 150º aniversário de Liang Qichao, pioneiro da “Nova Cultura” chinesa apaixonado por ficção científica, e este artigo da Sixth Tone mostra como era sua relação com a literatura sci-fi.

Cinema: as raízes do cinema de Hong Kong antes do surgimento do ídolo Bruce Lee na década de 1970 são o tema desta matéria do South China Morning Post que vale conferir.

Quer academia: o crescente papel da China na indústria dos semicondutores é analisada neste artigo acadêmico publicado no ano passado, de autoria de Seamus Grimes e Debin Du da Universidade Normal do Leste da China.

Pesquisa aberta: a jornalista Alison Killing escreveu para o Bellingcat, site especializado em pesquisa open source — aquela que utiliza fontes e materiais disponíveis, sobre como conduzir esse tipo de investigação sobre a China.

O poder do K: talvez você já saiba que a cultura coreana está num momento de auge mundo afora, mas e como é que a idolatria ao K-Pop se manifesta na China? Esse é o tema desta edição do Active Faults.

Em 2012, o arquiteto Wang Shu se tornou o primeiro chinês a receber o importante prêmio Pritzker. Neste vídeo, ele e a sua esposa e parceira Lu Wenyu contam do projeto de revitalização de casas rurais na China utilizando conhecimento e materiais locais.