Edição 255 – Ativista uigur visita Brasil e critica Pequim
Campanha anticorrupção chega à indústria do tabaco. A China é a maior produtora de tabaco do mundo e uma das maiores consumidoras, com cerca de 300 milhões de fumantes. Desde 2021, o setor tem sido alvo de uma investigação que esse ano chegou a 20 pessoas envolvidas em corrupção, explica a matéria da Caixin. Dentre os nomes estão funcionários das autoridades regulatórias e da empresa estatal China National Tobacco Corporation, que controla 97% do mercado nacional. Já contamos como a China Tobacco estava expandindo sua atuação e como isso levou a acusações de trabalho precário no Brasil.
Sideral. A China enviou três taikonautas para sua estação espacial Tiangong na terça-feira (30) para fazer a troca da tripulação — a anterior estava orbitando a Terra havia cerca de seis meses. Gui Haichao, professor da Universidade de Beihang, tornou-se assim o primeiro tripulante civil a ser incluído em uma missão espacial chinesa, que, como a anterior, deve durar um semestre. Esta é a quinta missão tripulada do país desde 2021 e sinaliza a intensificação das atividades chinesas na área. Um dia antes do lançamento do foguete que levou os taikonautas à Tiangong, na segunda (29), a Agência Espacial da China anunciou novos objetivos na exploração do espaço: pousar um ser humano na lua até 2030 e expandir a estação espacial do país, bem como fortalecer a cooperação internacional na área, inclusive com os EUA, que vetam a participação chinesa no consórcio da Estação Espacial Internacional desde 2011.
Desenvolvimento digital. Ainda disponível somente em mandarim, o Digital China Development Report 2022 traz informações sobre a economia digital do país. O relatório indica que a China tem cerca de 60% dos usuários de 5G do mundo, como resume o Yahoo. Outros dados interessantes são a expansão no âmbito de cibersegurança e que os serviços digitais do governo já tem mais de 1 bilhão de usuários. Não deixe de ler junto com o “Plano para o desenho geral da construção de uma China digital”, lançado em fevereiro. Vale também aproveitar a louça suja para ouvir este episódio do podcast China Global sobre a ascensão do país na ordem mundial digital.
É o fim. Quase um ano após anunciar o fim da comercialização do Kindle na China, a Amazon agora informou que deixará de oferecer seu aplicativo na App Store, disponível para celulares do modelo Android. No mesmo informe, a varejista disse que, contudo, os serviços na Amazon.com seguirão disponíveis.
Brasil é palco de críticas de uigures contra governo chinês. Em sua primeira viagem ao Brasil, o ativista pelos direitos dos uigures Dolkun Isa falou sobre as denúncias de perseguição contra seu povo, uma minoria étnica de origem túrquica, por Pequim. Além da reportagem, a Folha falou sobre o assunto em um episódio de seu podcast diário, com participação da ativista Zumretay Arkin e Raphael Vianna, explicando as denúncias sobre violação de direitos humanos por parte do governo Xi Jinping contra os uigures na província de Xinjiang, no oeste do país asiático. O embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, recebeu espaço na Folha para questionar a acusação.
O assunto anda quente nesta semana e não se restringe apenas ao Brasil. Em Hong Kong, um estudante uigur desapareceu após enviar mensagem dizendo ter sido interrogado pela polícia. Na China, como conta a CNN, milhares de pessoas da minoria hui — outro grupo étnico muçulmano — desafiaram as autoridades chinesas em defesa a mesquitas no país, que estariam sendo descaracterizadas.
Os Brics+. O ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, desistiu de viajar a Shanghai esta semana, onde participaria da reunião do Novo Banco de Desenvolvimento (ou Banco dos Brics). Ele alegou prioridade em assuntos internos para cancelar o compromisso. O encontro aconteceu de forma virtual, na estreia de Dilma Rousseff no comando. A semana no Brasil foi intensa com a visita de líderes sul-americanos a Brasília. Durante o evento, Lula chegou a defender a entrada da Venezuela nos Brics. A situação do bloco e a cúpula dos países na segunda metade do ano foram tema de conversa do presidente brasileiro com Xi Jinping. Segundo a Agência Brasil, os dois falaram ainda sobre a situação da Ucrânia.
Estaria o Quênia na mira de espiões chineses? Deu o que falar a reportagem publicada pela Reuters na semana passada sobre hackers da China que teriam coletado informações de ministérios e instituições estratégicas do governo do Quênia. Conforme a matéria, que contou com análise de dados técnicos, de 2019 a 2022, teria havido, ao menos em parte, um esforço direcionado de espionar órgãos quenianos relacionados à implementação da Iniciativa Cinturão e Rota no país do leste africano. Os indícios que levam a crer que houve espionagem foram discutidos também pelo Nexo. Apesar disso, tanto o governo chinês quanto o queniano negaram que tenha havido espionagem: Pequim rejeitou as acusações dizendo que essa foi uma história fabricada para alimentar a discórdia entre os dois países, enquanto Nairóbi afirmou, inclusive, que a matéria da Reuters se trata de “propaganda patrocinada”. E agora, José?
Vem aí o Mao de Balenciaga? Mais uma inteligência artificial generativa, dessa vez o Midjourney, aterrissa na China. Em vez de texto, como o ChatGPT, o Midjourney é focado em gerar imagens (como aquela do Papa de Balenciaga) e estará disponível ainda em etapas de teste via QQ — o app de mensagens instantâneas da Tencent. A parceria entre os dois é exclusiva, e traz um rival para a IA de imagens da Baidu, a Wenxin Yige, lançada na segunda metade de 2022. Será que vai ter prisão por mau uso do Midjourney também?
Aliás, as autoridades chinesas deletaram mais de 1,4 milhão de postagens em redes sociais e encerraram mais de 60 mil contas, por diferentes motivos, que incluem espalhar desinformação e mentiras, e abusar de identidade falsa, inclusive para monetização. Além disso, mais de 100 mil contas foram apagadas devido ao uso de IA para a criação de notícias falsas. A decisão veio a partir de investigações realizadas nos últimos dois meses. Muito do foco foi a zì méitǐ ou self media — uma categoria que inclui produção independente de notícias fora da mídia estatal, o que também abre espaço para desinformação, como explica o The China Project.
O frio chegou no Brasil, mas quem está discutindo aquecimento residencial é a China. Esta matéria de Niu Yuhan no China Dialogue conta que 2023 é o aniversário de 10 anos do plano do governo chinês de prover aquecimento com energia limpa. Notoriamente, o carvão foi por décadas o principal meio de esquentar as casas, especialmente rurais, mas essa queima realizada em pequena escala é extremamente poluente para os moradores. Assim, desde 2013, uma série de políticas locais, como subsídios e apoio financeiro movimentaram a troca. O texto também aborda alguns dos desafios enfrentados, como o uso de energia solar e a opção por gás natural, a necessidade de isolamento térmico em prédios e o aumento de custo que exigiu adaptações focadas em economia de escala.
Livro: a pesquisadora Yunxiang Gao conversou com Emily Wilcox sobre o seu novo livro Arise, Africa! Roar, China! que vem sendo premiado desde o seu lançamento em 2021 e utiliza fontes chinesas para discutir a relação entre o continente africano e o país asiático no século XX.
Entrevista: nesta conversa a pesquisadora Yuen Yuen Ang fala sobre seu papel enquanto cientista política que analisa China, apresenta os principais pontos dos seus livros e questiona os modelos ocidentais que analisam o desenvolvimento de instituições.
Cannes: artistas chineses marcaram presença no Festival de Cannes, tanto na telona quanto no tapete vermelho. Em 1993, o diretor Chen Kaige foi o primeiro chinês a receber a Palma d’Ouro — prêmio máximo do evento. Confira outros ganhadores de destaque e o compilado feito pelo Gechina dos filmes este ano.
Mais cinema: o crítico de cinema Pablo Villaça publicou uma série de três textos (com imagens) sobre a filmografia do diretor sino-estadunidense Arthur Dong. Imperdível.
Não é o Indiana Jones: a Iniciativa Cinturão e Rota abriu caminho para arqueólogos como Wang Jianxin conduzirem escavações na antiga Rota da Seda para além das fronteiras chinesas em parceria com governos da Ásia Central, conta essa fascinante matéria do Sixth Tone.
Está chegando o inverno no Brasil, você já considerou adotar o hábito chinês de beber água quente? Por aqui, a gente aprova.