Imagem de protesto contra a violência de gênero. Manequins femininos envelopados com plástico amarelo, enrolados com fita plástica laranja com palavras-chave como #MeToo, stalking e justice, com adesivos vermelhos em forma de xis.

Edição 256 – Me Too ganha tração em Taiwan e movimenta cenário eleitoral

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Este ano não teve bolo em forma de tanque, mas houve várias outras formas de tentar esquecer os acontecimentos da Praça da Paz Celestial em 4 de junho de 1989. Como de costume, os preparativos começaram antes da data, como o desaparecimento da ponte Sitong, aquela do protesto, no serviço de mapas da Baidu, além do isolamento e policiamento do ponto histórico em Pequim. Em Hong Kong, a divulgação do resultado de uma pesquisa de opinião foi suprimido; um festival nacionalista foi organizado no parque onde rememorar a data era tradição; uma pessoa foi presa e 23 foram detidas por motivos diversos, desde entoar palavras de protesto a vestir preto e amarelo ou portar crisântemos; e, ao longo da semana, o líder da cidade, John Lee, havia se recusado a responder a jornalistas se gestos pacíficos para marcar a data eram contravenção. Em Taiwan, honconguenses e chineses continentais puderam manifestar seu pesar. No meio disso tudo, é importante não esquecer a razão pela qual a data deve ser lembrada — e não tem nada a ver com o Ocidente.

A cara da liderança. Um relatório das Nações Unidas chamou atenção para a falta de lideranças femininas no centro do poder do governo chinês. O documento foi publicado pelo Comitê para a Eliminação da Discriminação Contra a Mulher. De acordo com o colegiado, a China enfrenta um cenário em que a participação da mulher na vida política e pública aumentou, mas que isso não se refletiu nos cargos mais elevados. Para fazer tal afirmação, o documento mostra que as mulheres correspondem a apenas 26,54% dos deputados no 14º Congresso Nacional do Povo. O comitê pede urgência no aumento da representação feminina em todas as esferas do governo, incluindo o Poder Judiciário e o Serviço Exterior, especialmente nos níveis de tomada de decisão. Ainda é apontado o fato de que desde de outubro de 2022, pela primeira vez em 20 anos, não há nenhuma mulher entre os 24 membros permanentes do Politburo, principal órgão decisório do Partido Comunista Chinês 

Reorientando a urbanização. Desde a crise da Evergrande e a implementação de novas regulações setoriais, o governo mudou o foco do desenvolvimento urbano. Desde 2021, a regra é melhorar a operação dos prédios já existentes em vez de demolir prédios antigos para construir novos em nome da “regeneração urbana”. Como ressalta esta matéria do China Dialogue, isso tem levado a uma transformação do setor imobiliário na China, que, além de enfrentar uma contração, também tem que se adequar à nova realidade. São sinais disso a queda na demanda por aço, a estabilização na produção de cimento e um aumento na procura por painéis fotovoltaicos e em tecnologias modernas de insulamento de prédios antigos.

Oops. Na semana passada, comentamos sobre um estudante uigur que teria desaparecido de Hong Kong após supostamente ser interrogado pela polícia local. Dias depois, a Anistia Internacional afirmou ter cometido um engano no relatório em que denunciou o caso: Abuduwaili Abudureheman, o estudante em questão, vive em Seul há sete anos e não esteve em Hong Kong.

A crise do fentanil e a China. As discussões em torno da produção e distribuição de fentanil no mundo virou quase uma crise diplomática para a China. Reportagens indicam que a substância, um opióide utilizado como medicação para a dor, estaria alimentando os cartéis mexicanos a partir de matéria-prima vinda da China. Segundo a Reuters, produtores chineses teriam recebido pagamentos na ordem de 38 milhões de dólares em criptomoedas. A repercussão chegou até a reunião do presidente mexicano Andrés Manoel López Obrador com o novo embaixador chinês no México. A chancelaria chinesa no país publicou uma nota dizendo que meios de comunicação locais “reproduziram notícias ocidentais como sendo verdade”. O tema está também na mira de congressistas estadunidenses, especialmente republicanos anti-China, como Marco Rubio

O modelo chinês não diz respeito somente a desenvolvimento econômico. Vale ler este texto, do pesquisador Paul Nantulya para o Africa Center, que discute como o modelo de polícias da China também tem feito sucesso no continente africano. Nantulya apresenta como a cooperação bilateral entre polícias e órgãos de segurança tem se tornado mais frequente, incluindo na realização de operações conjuntas e de treinamento oferecido pela contraparte chinesa. Algumas dessas operações, que levaram à extradição de pessoas em busca de asilo humanitário no Egito, foram criticadas por ONGs egípcias. Grupos que atuam com direitos humanos na África demonstram preocupação e cobram atenção das autoridades locais para que haja mais transparência — algo que a força policial chinesa não costuma ter.

Transferência de conhecimento. Segundo a alemã Der Spiegel, três ex-pilotos de caça alemães deram treinamento para a força aérea do Exército de Libertação Popular (ELP) na China. Segundo a reportagem, a capacitação teria incluído táticas operacionais confidenciais e ofensivas aéreas. O Ministério da Defesa alemão confirmou que Pequim tem contratado os serviços de ex-pilotos e instrutores de países membros da Otan.

Me Too em Taiwan e o impacto nas eleições de 2024. Já falamos muito aqui sobre o movimento #metoo na China continental. Agora, o fenômeno ganhou força no estreito por conta de um caso envolvendo inclusive dois pedidos de desculpas públicas da atual mandatária Tsai Ing-wen. Uma ex-assessora do partido de Tsai, o Partido Democrático Progressista, fez um post no Facebook dizendo ter sido vítima de assédio. Isso automaticamente gerou repercussão no cenário político taiwanês, que passará por eleições em janeiro de 2024. Este fio conta como o movimento ganhou força na região e como isso tem permeado o debate político-eleitoral. Chama atenção o fato de que uma série da Netflix, Wave Makers, tem sido apontada como o pivô para essa onda de denúncias.

Meu escritório é na praia. A pandemia ampliou o conceito de nômade digital, a pessoa que pode trabalhar remoto, de qualquer lugar do mundo, e diversos governos vêm incentivando vistos e desenvolvimento de negócios para receber esse pessoal — normalmente rico. O podcast NüVoices entrevistou a jornalista Crystal Tai para falar sobre o crescimento dos nômades digitais chineses. Tai escreveu duas matérias para o Jing Daily sobre a questão, focando na necessidade de fugir da rotina 996. Um dos destinos mais populares dentro do país é a pequena cidade de Dali, na província de Yunnan. Um clássico hipster, que já recebeu há uns anos o apelido de “Dalifornia” pelo clima agradável durante o ano todo. O LA Times também discutiu o fenômeno.

Dilemas da juventude chinesa. Começou hoje o Gaokao, conhecido por aqui como o Enem da China. Esse importante passo na definição do sucesso profissional dos jovens está sendo oferecido, este ano, a 13 milhões de pessoas. Segundo dados recém publicados pelo governo, 20,4% dos chineses de 16 a 24 anos estão desempregados. Esse recorde é resultado de um longo processo que tem levado jovens e profissionais a estender seus anos de estudo e mudar radicalmente seu estilo de vida. O Reading the China Dream trouxe duas reflexões sobre algumas aflições que os nascidos na década de 1990 têm enfrentado: a percepção de que não há mais oportunidades de mobilidade social e a deterioração da saúde mental. Vale fazer um chazinho pra ler com calma.

reforma electoral en Hong Kong

História: se você ainda não sabia, nunca é tarde pra aprender a relação entre China, Reino Unido, Hong Kong e o ópio. E, se quiser aprofundar, The Opium War: Drugs, Dreams and the Making of China, da Julia Lovell, é sempre uma boa recomendação.

Registro histórico: o Photography of China fez um compilado de bases de fotografias tiradas durante os protestos da Praça da Paz Celestial.

Poder da agulha: este texto de Emily Baum conta como a acupuntura — e a medicina chinesa de forma ampla — foram parte da expansão da China moderna para o mundo, especialmente a partir dos anos 1970 e 1980. 

Grande sereio: não é só no Brasil que tem sereio. Na China, um grupo de homens vem desafiando estereótipos de gênero com apresentações em aquários — um tipo de entretenimento ganhando força entre jovens, com direito a competições. 

Feminismo: neste sábado às 10h, o Observa China recebe a ativista Lü Pin para conversar sobre o movimento feminista chinês. Vai ser imperdível, inscreva-se!

 

Você conhece o metrô de Shanghai? Comemorando os 30 anos desse serviço, a Sixth Tone fez um especial sobre o funcionamento do modal, incluindo o vídeo acima e outras reportagens — recomendamos em especial uma sobre as vozes por trás dos anúncios sonoros.

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