Fotografia em cores de mãos manipulando um celular.

Foto de Gilles Lambert via Unsplash

Edição 257 – Investigação sobre vídeos de assédio aponta para cidadãos chineses

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

on? A porta de entrada para empresas de tecnologia ocidentais que desejam testar o mercado chinês sem se preocupar com o Grande Firewall parece estar se fechando: como aponta um artigo do The Wall Street Journal, nem Google nem OpenAI lançaram seus chatbots em Hong Kong, menos atrativa depois da aprovação da Lei de Segurança Nacional. A Google já se viu envolvida com a polêmica da canção de protesto Glory to Hong Kong, que aparecia como resultado nas buscas pelo hino local; agora, a empresa aguarda o julgamento, previsto para o final de julho, sobre o pedido do governo para banir a canção, incluindo sua distribuição digital. Após essa medida, a música se tornou novamente um sucesso de vendas no iTunes, voltou a ser entoada em espaços públicos e… desapareceu de iTunes, Apple Music, Spotify, Facebook e Instagram.

on. Um ex-executivo da ByteDance, dona do app TikTok, alegou que membros do PCCh têm acesso “divino” ao aplicativo, podendo consultar dados como a localização dos usuários ou IPs de qualquer lugar do mundo. Esse poder teria sido usado para espionar ativistas políticos em Hong Kong antes do TikTok ser banido na região em 2020. Segundo a empresa, as alegações do ex-funcionário não têm fundamento. De todo modo, o caso se soma a uma situação já complicada para a ByteDance nos Estados Unidos, onde enfrenta banimento local e possíveis restrições em nível nacional.

Não tá on. As autoridades chinesas reguladoras do ciberespaço propuseram novas regras para a regulação de serviços similares ao AirDrop, recurso da Apple para compartilhar arquivos e fotos de forma facilitada usando bluetooth ou Wi-Fi. O China Law Translate traduziu para o inglês o rascunho público aberto para comentários – as propostas se desenham de forma similar a outras previsões para serviços de internet no país. Como resumiu Jeremy Daum, essas regras incluem a necessidade de consentimento das partes envolvidas para o envio (inclusive para a visualização de preview). Um dos focos é a disseminação de notícias falsas e preocupação com a segurança nacional. Um momento curioso, já que contamos sobre o ShareIt, aplicativo similar chinês, algumas semanas atrás. Também vale lembrar que o AirDrop foi bastante utilizado durante os protestos pelo fim das restrições de Covid Zero no ano passado e em Hong Kong em 2019.

Notícia com delay. No dia 8 de junho, The Wall Street Journal deu um suposto furo jornalístico: segundo militares estadunidenses, a China teria fechado um acordo de bilhões de dólares com Cuba para a instalação de uma base de espionagem contra os Estados Unidos. No mesmo dia, o Pentágono afirmou que a notícia seria “imprecisa”. A resposta evasiva foi esclarecida dias depois, quando um representante do governo Biden declarou que Pequim já teria uma base em Cuba ao menos desde 2019. Ainda segundo os EUA, outras localizações foram avaliadas pelos chineses, como a região do oceano Atlântico e do Indo-Pacífico, América Latina, Oriente Médio, Ásia Central e África, na mesma época em que a operação em Cuba recebeu aprimoramentos. O governo chinês nega

Estabelecendo laços. Na esteira da decisão hondurenha de reconhecer Pequim como representante legítima da China ao invés de Taiwan, a presidenta do país, Xiomara Castro, fez uma visita oficial de seis dias ao gigante asiático — dias depois de a China inaugurar sua embaixada no país centro-americano. Castro chegou na sexta-feira (10) em Shanghai, onde reuniu-se com Dilma Rousseff, atual presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), e solicitou formalmente a adesão de Honduras à instituição dos BRICS (a ampliação do grupo é pauta do governo Lula). No fim de semana, a líder inaugurou a embaixada hondurenha no país asiático. Já na segunda-feira (12) foi a vez de Xi Jinping encontrar-se com Castro. Na reunião, além da assinatura de 19 acordos bilaterais, Xi reforçou a importância do princípio de uma só China para a estabilidade regional e Castro declarou apoiar a reunificação chinesa, conforme divulgou a Xinhua. Entre os próximos passos anunciados por ambos, está a negociação de um tratado de livre comércio.

A China está atuando nos bastidores para evitar sanções da UE. Conforme matéria da Bloomberg, diplomatas chineses estariam há algumas semanas reunindo-se com representantes do bloco europeu e de países membros para fazer lobby contra  a aplicação de sanções a empresas chinesas fornecedoras de tecnologia de uso dual (civil e militar) para a Rússia. Segundo relatos, seriam ao todo oito empresas chinesas indiretamente auxiliando o esforço de guerra russo na Ucrânia. Pequim já condenou a suposta medida e pediu que a UE apresente provas das alegações — do contrário, retaliações são esperadas. Em contraste, os sinais de divisão entre países da UE parecem estar ficando cada vez mais visíveis conforme se aproxima a publicação da nova estratégia do bloco para a China, como assinala o South China Morning Post. O European Council of Foreign Relations também analisou a questão.

O assédio sexual é transnacional. Uma equipe investigativa da BBC conseguiu descobrir o homem por trás de uma série de vídeos de mulheres no Leste Asiático sofrendo assédio sexual, principalmente no transporte público, que circulam e são vendidos online. O documentário e a posterior matéria mostram como a investigação durou mais de um ano, encontrando três sites que produzem e vendem esses vídeos, ligados a três homens chineses que residem em Tóquio. Um deles, que se autodenomina Tio Qi, comanda um grupo de 15 pessoas, das quais 10 estão na China, produzindo vídeos para mais de 10 mil assinantes pagantes, a maioria homens chineses. A repercussão nas redes sociais chinesas foi grande, conta o The China Project. Contudo, explica o China Digital Times, várias postagens sobre o caso foram deletadas ou tiveram alcance limitado, tanto as críticas aos donos das plataformas quanto as que cobravam as autoridades chinesas para atuarem de forma assertiva.

Não chega a ser surpresa, mas é notícia: o número de casamentos ocorridos na China em 2022 foi o menor já registrado desde 1986. O total de 6,83 milhões de uniões é apenas metade do número registrado há uma década (que foi um recorde de alta). Assim como com a queda no número de nascimentos, a explicação oferecida por especialistas é a falta de perspectivas financeiras animadoras para os casais que desejam engatar uma vida juntos. Outro número baixo que causa preocupação é o de estrangeiros de países ricos vivendo na China, como ressaltou Wang Wen, reitor executivo do think tank Chongyang Institute for Financial Studies, durante palestra em maio. Segundo Wang, fatores como a pandemia de Covid-19, as tensões com os Estados Unidos e um ambiente sócio-cultural que não acomoda estrangeiros seriam os responsáveis por esse cenário. O discurso pode ser lido em sua tradução para o inglês, na íntegra, na newsletter Pekinology.

Sem Rio x SP, aqui é Pequim x Shenzhen. A Ginger River fez uma edição focada em discutir qual a cidade que é o verdadeiro hub de tecnologia da China. De um lado, Shenzhen, que fica ao sul do país e há anos é um centro de produção de hardware – chegando a fabricar mais de 90% dos gadgets do mundo, dizem. Do outro, a capital Pequim, berço do “Vale do Silício” chinês: Zhonguanccun. Vale ler o texto da Ginger River e descobrir quais são as conclusões, mas o resumo é que as diferenças de foco são mais complementares do que competidoras na criação de um país inovador.

reforma electoral en Hong Kong

Pulando o muro: esta matéria da Rest of World conta como tradutores-influenciadores tem usado o Weibo para trazer vídeos de plataformas de fora da Grande Firewall e trabalhado em cima desses conteúdos, seja com edição, dublagem ou legendas.

Diplomacia: com a volta do Ubirajara, é um bom momento para refletir sobre a repatriação de arte antiga chinesa espalhada por outros países. Dois itens de uma coleção privada, avaliados em 3,5 milhões de dólares, que estavam com o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, voltaram em maio para a China após uma investigação provar que as peças (partes de uma sepultura) haviam sido roubadas.

Fotos: procurando ideias criativas para suas fotos de formatura? Bom, os estudantes chineses podem te ajudar.

Momento histórico: são 100 anos de vida de Henry Kissinger. O ex-diplomata dos EUA David Cowhig, que atuou por anos na China, resgatou as anotações da reunião entre Mao e Kissinger em 1973 e aproveitou para discutir esse tipo de registro no país.

 

Os famosos neons de Hong Kong, parte da identidade visual da cidade, estão cada vez mais raros. Neste vídeo, o SCMP explica porque isso está acontecendo e os esforços de preservação dessas relíquias.

%d blogueiros gostam disto: