Fotografia em cores de trabalhadora em fábrica. Ao redor da mulher, é possível ver maquinário iluminado por uma luz branca-esverdeada. A mulher usa uma máscara facial.

Edição 264 – Os planos chineses para estimular a economia

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Estímulos econômicos. No último mês, foi anunciada uma série de medidas para estimular a economia chinesa. O cenário é: apesar de o PIB do país estar crescendo, diversos indicadores-chave apontam para uma desaceleração da atividade econômica e para uma baixa confiança do consumidor. Como mostra o Asia Times, o consumo doméstico está em queda, assim como as exportações e os investimentos externos diretos. Isso tudo com uma taxa de desemprego recorde entre jovens — que atingiu 21,3% em junho deste ano. Com isso, os investidores estão evitando arriscar e até o promissor setor de tecnologia foi afetado.

Entre as medidas de estímulo anunciadas em julho, está um comprometimento público de impulsionar o setor privado, tema analisado pela Caixin e pela Folha. No campo do estímulo ao consumo, o The New York Times assinalou que o governo central parece querer evitar fazer aportes vultosos, deixando que governos locais arquem com a conta. Nesse quesito, o South China Morning Post trouxe uma matéria expondo a ineficácia do programa de vouchers para estimular o consumo. A revista Time fez um apanhado de todas as políticas adotadas por Pequim e por autoridades locais para tentar reverter a maré negativa: de isenções fiscais e cortes na taxa de juros a relaxamento da regulação do mercado imobiliário.

De um modo trágico, a regulação do mercado de construção ressurgiu em outra pauta: o colapso do ginásio de uma escola em Qiqihar, durante uma aula de vôlei feminino, que matou 11 pessoas, principalmente alunas. O desmoronamento ocorreu no dia 23 de julho e a hipótese é de que isso tenha sido provocado por problemas no telhado do prédio. A possível causa seriam materiais de construção deixados de forma irregular combinados com danos provocados pela chuva. No Chinarrative, é possível ler em inglês a tradução de uma matéria do jornal chinês The Paper sobre o caso, com depoimentos de familiares e amigos, além da história do resgate das vítimas. A partir de investigação inicial da polícia, funcionários da construtora foram detidos. Autoridades locais pediram desculpas, em meio a críticas após diversos pais reclamarem pessoalmente e nas redes sociais sobre a falta de informações.

Vai ter eleição para os conselhos distritais de Hong Kong em dezembro, mas sem muito ânimo: segundo dados preliminares do governo, o pleito contará com 83 mil eleitores a menos do que o ciclo anterior. Há um mês, foi aprovada uma redução de 20% no número de vagas preenchidas pelo voto, medida que se soma à reformulação de 2021 que garantiu apenas “patriotas” no Conselho Legislativo. Participantes de eleições anteriores também foram notícia na semana por conta da detenção temporária de dois membros do extinto partido pró-democracia Demosisto, encerrado em 2020. Acusados de crimes contra a segurança nacional e de oferecer apoio financeiro a Nathan Law, eles se somaram a outros cinco ex-colegas detidos para questionamentos em julho. O que a população pensa sobre tudo isso? Ficou mais difícil saber: o PORI, instituto que pesquisa a opinião pública, declarou que não vai mais divulgar os resultados de questões com temas “sensíveis“, como direitos humanos, a identificação nacional de honconguenses e a popularidade de partidos e representantes políticos. Para quem for visitar Hong Kong, fica a dica: pense bem antes de comentar sobre esses assuntos com taxistas.

Climão entre BRICS. Segundo pesquisa divulgada pelo Pew Research Center na semana passada, a percepção da China pelo mundo não vai bem, mas entre brasileiros e indianos vai bem mal. A parcela de entrevistados no Brasil que afirma ter uma visão negativa da China saltou de 27%, em 2019, para 48% entre fevereiro e abril de 2023. Na Índia, a taxa de haters chegou a 67% — alta, mas ainda distante da Austrália, com 87% de energias negativas. Segundo analistas consultados pelo SCMP, a percepção dos brasileiros parece acompanhar a ideologia nacional: entre apoiadores de Lula, 45% têm visão favorável à China, contra 36% dos opositores do presidente. Mas, de um modo geral, o discurso bolsonarista durante a pandemia, preocupações com a censura e falta de contato com a cultura chinesa contribuem para a negatividade, apesar dos investimentos de Pequim por aqui.

A baixa receptividade da China junto ao Brasil e à Índia não fica por aí: Pequim demonstra querer uma expansão rápida para incluir nos BRICS, entre outros, a Indonésia e a Arábia Saudita — mas, faltando pouco menos de um mês para a reunião dos líderes do bloco em Joanesburgo, representantes brasileiros e indianos manifestaram sua oposição à ideia, segundo apurou a Bloomberg. Os motivos parecem ser distintos: Brasília parece não querer antagonizar demais os EUA e a União Europeia no atual contexto de acirramento nas relações com Pequim e Moscou, enquanto a Índia prefere criar novos tipos de associação aos BRICS sem necessariamente expandir o bloco. De todo modo, o assunto está na pauta da reunião e, conforme o governo sul-africano, já são mais de 40 países que demonstraram interesse na expansão, sendo 22 os pedidos formais. O que será que sai desse caldo?

Cada vez mais próxima da América Central, a China tem estreitado laços importantes com países como a Nicarágua. Na última terça-feira (25), ambos os governos fecharam um acordo de livre comércio (FTA) que pretende fortalecer e elevar suas relações comerciais e econômicas. O atual Ministro do Comércio, Wang Wentao, afirmou que desde a retomada das relações diplomáticas entre a China e a Nicarágua, em 2021, a cooperação tem evoluído significativamente em campos estratégicos. Do lado nicaraguense, o país tem marcado taxas de crescimento de importação com China na casa dos 128% ao ano desde a reaproximação. Existe uma ampla discussão sobre a presença chinesa no país e a disputa geoestratégica com os EUA na região — recomendamos este texto de Gustavo Kafruni, Mauricio Collaziol, Pedro Oliveira e Rafaela Teston, sobre o assunto.

Fora do ar. Foi dado um ponto final ao programa de rádio 自己人(“We Are Family”,em inglês), após 17 anos sendo o primeiro (e único) do tipo a focar em questões LGBTQIAPN+ em Hong Kong. Transmitido aos domingos e co-apresentado por Brian Leung,  ganhou o prêmio Human Rights Press de 2010 por um episódio focado no bullying sofrido por adolescentes LGBTQIAPN+ em escolas. O fim do 自己人 não é um fato isolado: como discutem Bibek Bhandari e Elgar Hu na Foreign Policy (FP), há uma crescente repressão em nível nacional contra ativistas, grupos universitários e contas de WeChat focadas nessas minorias, uma das mais recentes perdas sendo o fechamento do Beijing LGBT Center em maio de 2023. Nas palavras do professor Sam Chan da Universidade Chinesa de Hong Kong para a FP, “…os movimentos LGBT e #MeToo são um alvo de nacionalistas que buscam construir seu próprio entendimento de identidade chinesa”.

Esta Barbie se beneficia da política do filho único. Que a Barbie tem diversas profissões e hobbies, a esta altura todo mundo já sabe. Mas o lançamento do filme do ano jogou os holofotes (do Twitter) sobre uma versão sua menos conhecida: a Coming Home Barbie, boneca oferecida exclusivamente a hóspedes do White Swan desde 2001. O hotel de Guangzhou é famoso por concentrar famílias, em sua maioria estadunidenses, que vão para a China adotar crianças. A boneca especial, branca e loira, em suas diferentes versões, sempre carrega um bebê, digamos, menos caucasiano. O souvenir oferecido pela Mattel é um lembrete de como a política chinesa do filho único possibilitou que, de 1999 a 2018, famílias estadunidenses adotassem 81.600 bebês “indesejados” da China. O programa de incentivo, criado por Pequim em 1991, realojou mais de 110 mil crianças, mediante pagamentos ao governo e muitas vezes sem o consentimento dos pais biológicos. 

Quando trabalho existe em alimentar a inteligência artificial? Muito. Para criar padrões de análise e oferecer respostas, os programas como ChatGPT ou MidJourney (de imagens) precisam de dados detalhados, estruturados e catalogados. Esta tradução de Jeffrey Ding (do ChinaAI) de um artigo publicado na 南风窗 (South Reviews) conta a história de mulheres chinesas sem ensino superior, com filhos e morando no campo que estão fazendo esse trabalho – normalmente mal pago, mas que tem sido importante para complementar a renda da família.

reforma electoral en Hong Kong

Zara: mas é a Hadid. A famosa arquiteta (e sua equipe) têm um histórico na China. Em homenagem aos 15 anos construindo prédios memoráveis no país, inaugurou também uma exposição em Pequim.

Podcast: neste episódio do China Talk, o convidado é Joseph Torigian e o tema é a elite política do Partido Comunista da China, as dinâmicas comparadas com o Partido na URSS e até as dinâmicas atuais e o que pode vir depois de Xi Jinping.

Aplicativo: você sabe qual é o principal aplicativo chinês de tecnologia? A Rest of World conta que não é nem o Weibo nem o WeChat, mas sim o Jike, que se tornou um hub para o setor na China.

Leituras: talvez você possa estar procurando um novo livro para ler. Como mencionamos, chegou recentemente ao Brasil o livro Como a China escapou da Terapia de Choque, da economista alemã Isabella M. Weber. Dessa vez quem escreve sobre a obra é Elio Gaspari em sua coluna para a Folha. 

Fotografia: as imagens de JingChao Su são registros do dia a dia da vida moderna e na série Overcoding, feita em Xiamen, ele se inspira em estudos filosóficos para estruturar uma comparação entre sistemas tecnológicos complexos e a vida em sociedade. 

História da moda: já ouviu falar no Mao suit? Aquele “terninho” imortalizado por Mao Zedong. O The Conversation conta como um modelito inspirado em uniforme militar mudou a história da vestimenta chinesa. Vale lembrar de outro look clássico chinês sobre o qual falamos aqui.   

Cafezinho: depois que você ouvir o nosso podcast, confira as dicas deixadas pelo nosso entrevistado, Niklas Weins: o episódio Taoísmo da Ascensão, do podcast BiYiNiao do Livro, e o livro How China is Transforming Brazil, que conta com um capítulo escrito por Niklas, China’s Environmental Turn and the Impacts on Investment and Trade in Brazil-China Relations.

 

Dessa vez não foram temperaturas altíssimas, mas sim chuvas torrenciais que alertam a população da China (e do mundo) sobre os perigos das mudanças climáticas. Pequim viu algumas das piores cenas dos últimos anos após um tufão, com colapsos de pontes, enchentes e destruição. Até o momento, mais de 52 mil pessoas foram evacuadas e ao menos 20 morreram.

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