Fotografia em cores de placa verde e branca indicando saída em inglês e chinês.

Foto de Kin Shing Lai via Unsplash

Edição 276 – Sumido, ministro da defesa é demitido por Xi

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Não deu para o Li Shangfu. Sumido desde o final de agosto, Li Shangfu foi afastado da chefia do Ministério da Defesa nesta terça-feira (24), segundo a estatal CCTV. Não há explicações acerca da motivação para o afastamento nem sobre quem o substituirá — apenas um adendo de que Li também deixa o Conselho de Estado (o órgão administrativo mais elevado do sistema chinês). Seguem firmes as especulações de que ele estaria envolvido em um caso de corrupção. Mas os holofotes da desgraça não estão apenas sobre ele: foi anunciado, na mesma ocasião, que Qin Gang, ex-ministro das relações exteriores,​​ também perdeu sua posição no Conselho. A liderança do Exército de Libertação Popular tem passado por múltiplas mudanças desde julho, em grande parte por investigações de combate à corrupção.

Será que vai engarrafar também? Essa semana a startup chinesa de drones EHang, de Guangzhou, recebeu a certificação de aeronavegabilidade dada pela Administração de Aviação Civil da China (CAAC), tornando-se, segundo a empresa, a primeira aprovação desse tipo no mundo. A EHang planeja iniciar operações experimentais de táxi aéreo ainda este ano e segue tendo incentivo do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação para evoluir o setor aeroespacial sustentável. O EH216-S, nome dado ao veículo agora certificado, é um táxi aéreo autônomo para dois passageiros e com a certificação, a empresa está em uma posição vantajosa em relação aos concorrentes nos EUA , na Europa e no Brasil que buscam aprovações semelhantes.

Mais um passo à frente? Por aqui, a newsletter tem cobrido de perto a forma como a China tem trabalhado e avançado sobre o tema da regulamentação dos Serviços Gerativos de Inteligência Artificial (IA) e tudo indica que as autoridades chinesas vão seguir atentas ao tema. O começo de outubro foi bastante agitado, inclusive. No dia 18, Xi Jinping anunciou a Iniciativa Global da China para a Governança da Inteligência Artificial (IA) no 3° Fórum Cinturão e Rota, dando o tom de uma abordagem mais focada na segurança nos modelos de IA. Mas nada fora de um contexto, já que alguns dias antes (11), o Comitê Técnico Nacional de Padronização de Segurança da Informação, conhecido pela sigla TC260, divulgou um documento preliminar detalhando as regras sobre como determinar se um modelo de IA é problemático.

Este artigo de Zeyi Yang para o MIT Technology Review, traz uma análise sobre como essa normatização representa avanços na criação de alguns parâmetros, como por exemplo: a diversificação das fontes de dados e a definição de palavras-chave para identificar conteúdo inseguro. O fio do pesquisador Matt Sheehan complementa e faz um resumo de outros pontos interessantes sobre o documento — vale a pena dar uma olhada. Apesar de tudo, além dessas diretrizes não terem força de lei, elas também não preveem punições para as empresas que não as seguirem, deixando tudo muito no campo da sugestão.

A China criticou a decisão dos EUA de impor novas restrições ao comércio de chips na semana passada. Na terça-feira (17), o governo estadunidense anunciou novas medidas para limitar a exportação de semicondutores e equipamentos para produção de chips relacionados à IA para o mercado chinês. A ação visa acabar com as alternativas encontradas pela NVIDIA e outros fornecedores de chips às restrições impostas em 2022, conforme assinala matéria da Reuters. Nessa disputa, os EUA também cogitam limitar o desenvolvimento de chips baseados em código aberto, sobretudo o RISC-V, uma política que pode sair pela culatra e impactar negativamente o mundo todo, reduzindo o ritmo de inovações.

Nesse contexto, vale conferir texto da analista Ke Jing, pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da Academia de Ciências Sociais de Shanghai, sobre as políticas comerciais de EUA e UE com relação a Pequim, cujos principais pontos foram resumidos em inglês pela Sinification. Segundo Ke, a troca da terminologia, de decoupling (desacoplamento) para de-risking (redução de riscos), é uma mudança apenas retórica: o conteúdo das políticas se manteve inalterado — política industrial para fortalecer a base manufatureira interna com foco em tecnologia e, internacionalmente, uma tentativa de excluir a China de mecanismos de coordenação de cadeias de suprimento e política comercial. A autora também nota que, apesar de diferenças entre si, EUA e UE enfrentam o desafio de convencer o Sul Global a apoiar suas iniciativas, enquanto a China vê sua imagem global se deteriorando e maiores obstáculos para sua integração à economia global surgindo, entre outros desafios. Aliás, o resultado da política dos EUA parece estar sendo superestimado, conforme a Bloomberg. O que será que o futuro nos aguarda?

Propaganda ou não propaganda, eis a questão. No começo desse mês, a polícia de Nova Deli fez uma série de revistas e prisões contra jornalistas vinculados ao site de notícias NewsClick. O fundador do site, Prabir Purkayastha, foi preso, mais de 35 jornalistas foram interrogados e tiveram seus pertences apreendidos. Segundo as autoridades locais, essa ação fez parte de uma investigação sobre alegações de financiamento ilegal do site por parte da China e sob o respaldo legal da lei antiterrorismo indiana, a Lei de Prevenção de Atividades Ilícitas. O NewsClick negou as acusações. Outros jornalistas se posicionaram e afirmaram que ações como esta têm sido vistas como parte de um padrão crescente de repressão à mídia independente na Índia sob o governo do primeiro-ministro Narendra Modi e como um ataque à liberdade de imprensa no país, uma vez que o site é conhecido por criticar o governo liderado pelo Partido Bharatiya Janata (BJP).

Razões para acreditar. Na terça-feira 17, a Corte de Apelação de Hong Kong decidiu que é ilegal a interpretação de políticas públicas de moradia de modo a excluir casais homossexuais do acesso a apartamentos públicos ou subsidiados. Em 2001, 45% da população de Hong Kong vivia nesse tipo de moradia. Em julgamento separado, mas na mesma ocasião, também ficou definido que esses casais devem ter os mesmo direitos de herança que casais heterossexuais. Essas vitórias podem em boa parte ser atribuídas à admissão recente de que práticas excludentes contra a população LGBTQIAP+ são contrárias à constituição de Hong Kong. Tudo conquistado, é claro, com muita luta.

Machismo na TV. A terceira temporada do reality show chinês See You Again ganhou atenção ao retratar mulheres fortes como um “problema” para os casamentos. O programa coloca casais em situação de crise no relacionamento para realizarem uma viagem juntos em busca de soluções. Um tema frequente na sociedade chinesa — e não apenas — o papel da mulher no casamento e na sociedade tem sido um assunto quente aqui nas edições e tem dado o que falar, como mostram as discussões em torno da série.

Shows para que te quero… Com o fim de grande parte das restrições para controle do COVID-19 na China, a cena de concertos e shows parece ter dado uma reviravolta, não apenas no aumento do número de eventos, mas também na forma como os fãs estão interagindo com os artistas. Esta matéria do Beijing Times relata como a cara dos concertos musicais na China mudou bastante, seja no novo perfil mais ativo da interação entre artista e fãs, seja na forma como o público tem buscado acompanhar seus ídolos, onde alguns recorreram a varanda de suas casas para não perder a oportunidade de assistir seus artistas favoritos. O fato é que esses eventos musicais estão se tornando uma grande atração entre os jovens na China, com receitas superando os níveis pré-pandemia de 2019.

reforma electoral en Hong Kong

Artes plásticas no cinema: entre os filmes em cartaz na Mostra SP está o filme Da Cor e da Tinta, que conta a história de Chang Dai Chien, renomado pintor chinês que morou no Brasil. Dá para conferir o trailer aqui.

Premiado: entre os artistas premiados na 22ª Bienal Sesc_Videobrasil (sobre a qual falamos recentemente) está Bo Wang. Vale dar uma lida e conferir o trabalho dele. 

Pioneiro: esta matéria (com ótimas fotos) conta como as primeiras câmeras fotográficas chegaram na China e como a província de Guangdong (ou Cantão), com a sua importância comercial, se tornou o coração da fotografia no país.

Acadêmico: confira a análise do Prof. Wu Bingbing, diretor do Instituto de Cultura Árabe e Islâmica da Universidade de Pequim, sobre a política externa chinesa para o Oriente Médio e sua leitura da geopolítica regional.

Literatura: em 2020, a Lei de Segurança Nacional de Hong Kong censurou um concurso de escrita em cantonês. Os textos não puderam ser publicados – até que um deles foi traduzido para o inglês e saiu no Washington Post. Bora ler Our Time, de Siu Gaa.

 

Quando o assunto é reggae, o primeiro país em que você pensa não é a China né? Mas, quem sabe depois de assistir esse vídeo da Radii, você comece a associar o ritmo a Yunnan.

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