Foto de Caio Pezzo via Unsplash.
Edição 372 – Relações Brasil-China em alta com exportação de frango e turismo sem visto

Cafezinho, dona Helena? Se um dia a China foi a terra do chá, onde o café lutava para ser campeão — a competição já deixou de ser ridiculamente distante em cidades urbanas de nível 1 e 2 (que englobam cidades com melhores índices econômicos, educacionais, dentre outros) nos índices de consumo. Tomar café entre os jovens urbanos chineses hoje também é símbolo de status, assim como em outros lugares do mundo. A Starbucks anunciou que vai vender 60% da sua participação no mercado chinês, conta a BBC. A venda faz parte de um acordo de investimento de 4 bilhões de dólares, no qual a estadunidense mantém o direito de marca e fica com 40% das operações das lojas . A tendência de crescimento das franquias locais diminuiu o poder de marcas globais consolidadas, como a própria Starbucks (que, apesar de tudo, ainda está em segundo lugar na liderança do mercado na China).
Lá em 2019, a gente já contava como a marca estava enfrentando dificuldades no mercado chinês para a felicidade da Luckin Coffee. Muitas reviravoltas aconteceram com a Luckin Coffee que se consolida cada vez mais, enquanto a própria Starbucks globalmente não tem ido muito bem. O acordo de investimento é uma tentativa de dar a volta por cima, abrindo novas lojas e fazendo parcerias estratégicas no país.
Para inglês ver. A região de Xinjiang, no noroeste da China, é tema recorrente no noticiário por conta de acusações de violações de direitos humanos. Desta vez, a BBC traz uma reportagem que também aborda outro aspecto da região autônoma: o turismo. Fazendo fronteira com outros países, Xinjiang tem despontado como destino turístico para chineses e estrangeiros, graças a uma combinação de riquezas naturais e uma ajudinha de Pequim, que tem turbinado investimentos em infraestrutura para impulsionar o turismo e afastar a imagem negativa. Na reportagem, a BBC relata como a imagem da região mudou internamente na China. O texto é iniciado com a viagem de uma jovem identificada como Anna que viajou em 2015 e, este ano, ela conta o que mudou. Um ponto importante, porém, é como o tratamento a minorias éticas, sobretudo os uigures, fica de fora do pacote de turismo. Por falar em paisagem para inglês ver, em outro texto, a BBC também conta como o governo chinês tem intimidado uma universidade do Reino Unido por conta de pesquisas sobre direitos humanos envolvendo a população uigur. Vale ler com atenção.

As relações entre Brasil e China vão muito bem, obrigada. O governo chinês liberou nesta sexta-feira (7) a importação de carne de frango do Brasil, após seis meses de embargo devido a um surto de gripe aviária. E as portas não foram abertas só para os produtores agrícolas: nesta semana, Pequim decidiu estender a isenção de visto para brasileiros até 31 de dezembro de 2026. Como já comentamos, a medida válida desde junho deste ano aumentou o interesse nacional pela China. No começo deste mês, o portal UOL publicou uma coluna do correspondente Nelson Sá sobre a experiência de deslumbramento dos brasileiros que conhecem o país e também os desafios que podem surgir por conta de diferenças culturais. A facilidade de entrada também estimulou as outras nacionalidades contempladas: no terceiro trimestre de 2025, 72,2% dos visitantes estrangeiros na China eram usuários do novo esquema de visto, um aumento de 48,3% em relação ao ano anterior. A expansão do turismo internacional é parte de um pacote de medidas anunciado há dois meses para aquecer o consumo na China, e outros aspectos também serão melhorados, como o acesso a hospedagem, comunicação e formas de pagamento.
Tá ruim para a Shein. A gigante chinesa de fast fashion Shein voltou ao centro das atenções na França após uma investigação revelada pelo jornal Le Monde, segundo a qual a empresa teria comercializado bonecas sexuais de aparência infantil. A Shein afirmou que está cooperando plenamente com as autoridades francesas, removeu os produtos e anunciou um “banimento total” desse tipo de item em sua plataforma, atribuindo o episódio a uma falha interna. O caso surge às vésperas da abertura da primeira loja física da marca em Paris, o que amplia a pressão pública e política sobre a empresa, já alvo de críticas por práticas trabalhistas e ambientais. O episódio reacende o debate sobre a fiscalização de plataformas globais de e-commerce e sobre os limites da autorregulação em um mercado marcado por algoritmos, terceirização e produção em massa. Para o governo francês, o caso ilustra a necessidade de maior responsabilidade corporativa e de transparência nas cadeias digitais internacionais.

Do mundo de entregas a autor de sucesso. Ganhar dinheiro escrevendo é coisa para poucos. Ironicamente, foi contando sobre sua experiência de entregador que o chinês Hu Anyan ganhou notoriedade. Ele já tinha tentado no passado trabalhar como escritor, mas desistiu do ofício por conta da remuneração. Ele era pago cerca de R$ 290 por histórias de 20 páginas. Reportagem do The Guardian faz uma resenha de I Deliver Parcels (algo como “Eu entrego encomendas”, tradução livre para o português), blog de Hu que virou livro depois de viralizar. Além de um relato pessoal sobre sua trajetória profissional, que inclui trabalhos como segurança, frentista e auxiliar de vendas, Hu conta uma parte da realidade da China, onde o mundo de entregas pode parecer muito bom e eficiente para quem compra e tem pressa em ver o produto em casa, mas muito assustador para quem é submetido a uma dura e precária jornada de trabalho.
Felizes em Hong Kong. A remontagem, neste mês, da premiada peça We Are Gay foi censurada em Hong Kong. O teatro onde ocorreriam as apresentações justificou o cancelamento do contrato – uma decisão avalizada pelo departamento de Cultura, Esportes e Turismo – por ter recebido um número grande de reclamações de que a obra “promove o confronto e difama Hong Kong”; críticas nesse teor, apontou o South China Morning Post, foram publicadas no jornal Wen Wei Po, financiado por Pequim. Qual o teor da difamação? A peça trata de um triângulo amoroso entre três homens e toca na desigualdade enfrentada pela comunidade LGBTQIAPN+ em Hong Kong. Mas a autoria da obra também pesa: a dramaturga Candace Chong é conhecida por May 35th (2019), sobre os acontecimentos de Tiananmen em 1989; e The Wild Boar (2012), sobre liberdade de imprensa. Na ocasião da primeira montagem de We Are Gay, em 2022, Chong falou à revista Zolima que a cidade era mais liberal antes de 2019, e seu receio de que, em cinco anos, não seria mais possível apresentar uma peça com esse título. Recentemente, Chong vêm criticando publicamente a repressão sobre artistas vigente desde a implementação da Lei de Segurança Nacional.

Fotografia: esta matéria da Sixth Tone conta sobre o trabalho de Niu Tong, um dos quatro fotógrafos chineses já cotado para o Leica Oskar Barnack Award em 2025. O projeto de Niu sobre os serviços de entrega que cresceram nos últimos anos surgiu quando sua mãe Ye Ju começou a trabalhar com isso em 2020, Niu foi junto e passou a registrar os trabalhadores com a mãe agindo como “guia” daquele mundo. A mãe de Niu adoeceu e faleceu em 2025.
Paciência: para quem já se perguntou por que os tradicionais copos chineses de cerâmica para chá não têm uma alça, o Radii China traz uma reflexão sobre o que ele te ensina sobre espera.
Lux: para os aficionados no novo álbum da Rosalía, vale reparar que tem até um verso famoso em mandarim.
Vale a pena ver de novo: a DW fez, há um tempo, uma interessante reportagem em vídeo sobre a marca mais famosa de baijiu, também a preferida dos líderes do PCCh, a Maotai. Nunca ouviu falar? Aperte o play!
