Enquanto o restante do mundo se depara com grandes dificuldades para retomar antigos níveis de atividade econômica em meio à persistente pandemia da COVID-19, a China dá sinais de que por lá o caminho talvez não será tão difícil assim. Mas com quais vantagens o país, cuja economia cresceu 11% na comparação entre os dois primeiros trimestres deste ano, de fato conta? A discussão é longa, mas dois fatores se destacam. Primeiramente, a China foi notavelmente mais rápida em controlar a expansão do coronavírus por lá do que boa parte dos outros países. Em segundo lugar, O PIB potencial chinês é expressivamente alto — especialmente em comparação a economias avançadas.


De acordo com anúncio de autoridades, Ren Zhiqiang, magnata do mercado imobiliário e opositor vocal do regime chinês desaparecido desde março, foi expulso do Partido Comunista da China e deve agora enfrentar uma série de acusações criminais, incluindo violação de disciplina política e corrupção. Apesar de seu status de membro do partido, Ren há anos figurava como um crítico proeminente da liderança do PCCh na China. Em seu último artigo, expressivamente distribuído na internet, ele condenava com severidade a resposta de Pequim à pandemia da COVID-19.


Enquanto a participação (ou não) da Huawei na construção da infraestrutura 5G no mundo continua em disputa, a China corre para ser a mais vocal na elaboração de padrões e normas técnicas para a nova tecnologia. Apenas no ano passado, Pequim enviou 830 pareceres técnicos para a União Internacional de Telecomunicações (ITU, em inglês) — mais do que Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, juntos. Ao que tudo indica, trata-se de um dos movimentos da estratégia do China Standards 2035” que, associada ao “Made in China 2025”, almeja alavancar a independência chinesa em produção de tecnologia de ponta.


Empréstimo por aplicativo de entrega de comida ou de carro? Pois é. A tendência parece ser de aplicativos de gigantes de tecnologia como a DiDi (dona da 99), Xiaomi (de celulares) e Meituan (de entregas) oferecerem serviços financeiros, inclusive crédito, seguros e gestão de bens, para os usuários. A inspiração parece claramente vir do sucesso da Tencent (dona do WeChat) e da Ant Financial (com o Alibaba) nesse mesmo caminho. Com tantos milhões de usuários — a Meituan relata 448 milhões no último ano —, a imensa quantidade de dados permite analisar o perfil para gerar ofertas de microcrédito. A matéria da Caixin traz mais detalhes e conta também como o movimento é bem-vindo pelos reguladores financeiros no país, que têm lançado campanhas ativas para inclusão financeira, muitas vezes unindo bancos (que não têm tantos dados sobre os usuários) e esses aplicativos.

Um discurso de Mike Pompeo, Secretário de Estado dos EUA, chamado “A China Comunista e o Futuro do Mundo Livre”, e feito no dia 23 (quinta), declarou como um fracasso os 50 anos de engajamento com a China, depois de Nixon retomar os laços, e usou palavras fortes para falar do país. Pompeo chamou as “nações amantes da liberdade” a cobrarem mudanças na postura da China, pois as ações atuais “oferecem ameaças” ao povo e à prosperidade estadunidenses. Ele também citou que é preciso pensar em maneiras criativas e assertivas de responder a Pequim, como empoderar o povo chinês — distinto do Partido Comunista da China, que ele enxerga como o principal desafio de hoje ao mundo livre. Alguns bons pontos sobre o discurso foram levantados pelo pessoal do China Neican.

Na última semana, o governo dos Estados Unidos ordenou o fechamento do consulado chinês na cidade de Houston, no Texas. De acordo com o Secretário de Estado Mike Pompeo, a decisão foi tomada, pois a China estaria alegadamente se engajando, dentre outras infrações, com espionagem e roubo de propriedade intelectual, não somente estadunidense, mas também europeia. Poucos dias depois, a China reagiu ordenando, por sua vez, o fechamento do consulado dos Estados Unidos em Chengdu, capital da província de Sichuan. Culpando Washington pela de gradação das relações entre os dois países, o Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou, em comunicado oficial, que “a medida tomada pela China é uma resposta legítima e necessária à ação sem justificativas dos Estados Unidos”.

E teve mais. Também nessa semana, procuradores dos EUA acusaram o consulado da China em São Francisco de abrigar Juan Tang, uma pesquisadora chinesa procurada pelo FBI. Sob suspeita de fraudar o processo de obtenção de seu visto estadunidense ao esconder sua filiação às forças armadas chinesas, Juan teria procurado abrigo na instalação diplomática de seu país logo após ser interrogada por autoridades locais no mês passado. Dias após a acusação, a pesquisadora — que de fato teria se escondido no consulado — foi presa e deverá comparecer ao tribunal já na próxima segunda-feira, de acordo com a autoridade do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

As hostilidades entre a China e os Estados Unidos não pararam por aí: um dos tópicos recentes mais quentes sobre as disputas geopolíticas entre os dois países tem nome e endereço — disputas territoriais no Mar do Sul da China (MSC). No dia 13 de julho, o Departamento de Estado de Washington emitiu um parecer defendendo a “liberdade de navegação” e dizendo, com todas as palavras, que as reclamações territoriais chinesas são ilegais. Diversas análises pipocaram pelas redes — em uma delas, destaca-se a importância da declaração, embora o reconhecimento seja mais sobre como os EUA tornaram explícito um posicionamento que sempre esteve presente em administrações anteriores, mas que nunca havia sido tão diretamente vocalizado.

Além disso, aponta-se como a China estaria “se aproveitando” da pandemia da COVID-19 para expandir políticas revisionistas paralelas, que colocam em xeque as negociações internacionais sobre as “leis dos oceanos”. Extremamente dependente das rotas comerciais de navegação que passam pelo MSC, será difícil esperar que a China aguarde calada enquanto Washington aumenta a escalada das tensões.


Em reunião com países latino americanos e caribenhos, o Ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, anunciou que a China emprestará 1 bilhão de dólares para facilitar o acesso à vacina contra a COVID-19 desenvolvida no país. Estavam presentes na reunião representantes de México, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Barbados, Cuba, República Dominicana, Equador, Panamá, Peru, Trinidade e Tobago e Uruguai. O Brasil não participou da reunião. Reflexo de um crescente discurso que põe parcerias com a China com alto grau de suspeita e escrutínio, e se alimentando de uma política externa que gravita ao redor dos ditames dos Estados Unidos, o Brasil tem enfraquecido seu papel regional, além de não apresentar uma política pública nacional para o combate da pandemia do novo coronavírus.

A proximidade brasileira com Washington e o estranhamento ante Pequim também ficaram evidentes na Organização Mundial do Comércio (OMC). Brasil e EUA submeteram na última terça-feira (21) uma proposta estabelecendo o princípio da economia de mercado como obrigatório a todos os membros. A ação toca em um tema politicamente sensível para os chineses desde 2016, quando Pequim, após 15 anos na OMC, exigiu reconhecimento como economia de mercado, o que foi negado por EUA e União Europeia. A desavença esfriou a partir de 2019, quando a China suspendeu sua ação na OMC. A proposta bilateral foi prontamente criticada pela delegação chinesa.

Tantos atritos levam a refletir sobre a possibilidade da parceria estratégica entre Brasil e China estar em crise. Por um lado, as exportações brasileiras para os chineses passam por momento de alta histórica. Por outro, o fortalecimento de laços e a aproximação em fóruns internacionais entre os dois países podem estar sendo colocados em xeque, dados os posicionamentos recentes de Brasília — especialmente o alinhamento à política externa estadunidense. Estaria o governo de Jair Bolsonaro, afinal, testando os limites da saúde de nossa relação com Pequim?

Um relatório do Mercator Institute for China Studies (MERICS) fez uma análise do uso de dados na contenção da COVID-19 na China. Não é mistério que a resposta chinesa (e de outros países como Coreia do Sul e Cingapura) envolveu apps para rastreamento, e novas tecnologias de monitoramento e vigilância. O relatório apresenta que o uso de dados móveis gerados em celulares, especialmente em super apps como o WeChat, estiveram no centro da estratégia. Reconhecimento facial unido a controle de temperatura, também com apoio desses aplicativos, foram parte do plano de identificação de novos casos, e monitoramento e diagnóstico em hospitais — com resultados positivos e rápidos para a contenção, mas não sem pontos de atenção. Questões de privacidade de dados são preocupantes (na edição passada falamos sobre a nova legislação para a segurança de dados).


Em mais uma iniciativa para alcançar os avanços dos Estados Unidos nos assuntos espaciais, a China lançou uma ambiciosa missão a Marte, a fim de colocar um robô em solo marciano. Contando com a experiência e a tecnologia de seus foguetes de lançamento da série “Long March”, Pequim dá continuidade à sua estratégia de “conquistar o espaço” — o que teve início com as missões lunares e, agora, ganha novo contorno com o sonho de alcançar o Planeta Vermelho.

E para aproveitar o gancho, teremos uma excelente live do Radar China na sexta (31/07), sobre o programa espacial chinês. A jornalista Janaína Camara da Silveira entrevistará Rita Feodrippe, mestre em Estudos Marítimos pela Escola de Guerra Naval e uma das Editoras Juniores da Shūmiàn. Vamos falar um pouquinho sobre como o espaço sideral não está, afinal, tão distante assim. Não perca!


Como é a vida de trabalhadores domésticos (阿姨) na China? Em resumo: precária e com poucos direitos legais. Apesar de ser um grupo expressivo  — 35 milhões de pessoas, de acordo com o último censo, das quais 95% são mulheres  — elas ainda são vistas, perante a lei, como trabalhadoras informais, gozando de pouquíssimos respaldos legais em caso de conflitos com os patrões. Tais mulheres estão localizadas em grandes cidades do país, como Pequim, Xangai, Xian e Chengdu, sendo originárias de regiões rurais, além de possuírem baixa escolarização e, no geral, sofrerem grande estigma em suas comunidades nativas, uma vez que desempenham trabalho doméstico ao mesmo tempo em que estão longe de seus filhos.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Apoiando Trump: o ótimo Reading the China Dream traduziu quatro textos de intelectuais liberais chineses que expressam algum tipo de apoio por Trump.

Música: quem pensa em piano, provavelmente pensa em marcas como Yamaha e Weinstein, correto? Pois saiba que a maior fabricante desse instrumento clássico no planeta é chinesa, e se chama Pearl River.

O casal taiwanês de oitenta e poucos anos mais legal do Instagram: entediados com a quantidade de roupa lavada que era esquecida, os donos da lavanderia resolveram tirar fotos descontraídas usando as roupas que foram deixadas para trás. Ficou sensacional.

Sobre a pobreza: O fotógrafo Stefen Chow e a economista Huiyu Lin resolveram colocar em fotos o quanto dá para comprar com o valor da linha nacional de pobreza da China (R$ 2,44 por dia) em 35 países.

Leituras acadêmicas (momento de reflexão): uma nova publicação sobre como gênero e linguagem estão relacionados na China. Mais do que comunicar, a linguagem estabelece relações sociais. Confira o paper (“Language and Gender Identity in Modern China“) de Lei Cong.

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