Edição 225 – Campanha anticorrupção de Xi ganha gás perto do Congresso
Condenações por corrupção ganham fôlego. À medida que o Congresso do PCCh se aproxima, as lideranças chinesas vão passando suas mensagens. O Financial Times fala sobre um aumento nas condenações por corrupção, o que o jornal chama de “recado de Xi Jinping” de que ninguém é inalcançável. A reportagem faz um apanhado sobre pessoas que estão na mira da lei chinesa, entre elas, Fu Zhenghua, ex-ministro da Justiça de Xi, Sun Lijun, que foi vice-ministro de Segurança Pública, e Wang Like, que esteve no alto escalão da província de Jiangsu. Os três foram condenados à morte, segundo a reportagem, mas as penas podem ser suavizadas para prisão perpétua. A lealdade ao PCCh e a Xi vem sendo cobrada e, em setembro, novas regras de promoção levando em conta a fidelidade dos partidários foram publicadas. A Foreign Affairs traz um texto sobre reflexões do que seria o mundo segundo a visão e ideologia de Xi. Se você ainda está por fora do que deve rolar no Congresso, no próximo dia 16, confira este documento publicado por Harvard sobre o que esperar.
Quem está em solo chinês também já começou a sentir dificuldade em driblar o Great Firewall, mecanismo usado pelas autoridades para controlar o conteúdo a que a população tem acesso por meio da internet. Segundo o TechCrunch, serviços de VPN têm mostrado sinais de falha desde o início da semana passada, o que costuma acontecer próximo a eventos importantes na China.
A crise imobiliária está lentamente virando crise financeira? Esse é o argumento de uma série de três reportagens do Financial Times sobre o estado da economia chinesa. Segundo especialistas consultados pelo jornal, a crise imobiliária, refletida na queda na venda de imóveis e em calotes de incorporadoras, estaria gradualmente contagiando o restante da economia, sobretudo as contas públicas de municípios e autoridades locais, cujos orçamentos são bastante dependentes dos impostos sobre transações imobiliárias. Os mecanismos de financiamento das autoridades locais estão sob forte estresse e calotes públicos não podem ser descartados — a não ser que haja resgate por parte do governo central. Para o Financial Times, esses são sinais de que o modelo de desenvolvimento chinês baseado em investimentos em infraestrutura esgotou-se. Em um tom semelhante, o The Wire China publicou uma matéria sobre a política industrial chinesa, comentando sobre suas contradições e desafios, bem como sobre o que ela pode ensinar para outros países.
A respeito das medidas para contornar a crise econômica, esse foi o tema de uma reunião do Comitê Permanente do Politburo em setembro com a presença do premiê Li Keqiang. Nela foram discutidos relatórios sobre o desempenho econômico de 16 localidades chinesas e o que tem sido feito para estabilizar a economia. Não houve anúncios fora do esperado — o China Policy chamou atenção para a insuficiência das medidas mais recentes, que estimularam a demanda, mas não lidam com problemas mais estruturais. Apesar disso, esse deve ser um tema presente no próximo Relatório do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista.
O cenário econômico tem afetado o consumo de jovens. Conforme apurou a Reuters, com a taxa de desemprego da população entre 16 e 24 anos atingindo quase 19% na China, muitos jovens adultos têm repensado seus estilos de vida. Idas ao cinema e compras de roupas e artigos de decoração, por exemplo, estão sendo bastante limitadas nessa população. A preocupante situação econômica da juventude fez surgir, inclusive, uma onda de influenciadores digitais especializados em estilo de vida de baixo custo e em como poupar recebendo pouco dinheiro. Não tá fácil.
Lembra do relatório da Bachelet? Apesar do recente documento apresentado à ONU sobre a possibilidade de Pequim estar cometendo abusos contra uigures, o órgão não vai levar o debate adiante. Isso aconteceu após o tema ir a votação e ser derrotado, graças à abstenção de 11 países, entre eles, o Brasil. A decisão causou revolta entre ativistas. Enquanto isso, a região autônoma aplicou restrições à saída de residentes sob argumentação de que há 5 mil novos casos de Covid-19 na região.
Depois de toda a tensão, o que podemos concluir sobre a passagem de Nancy Pelosi por Taiwan? A newsletter Sinocism, de Bill Bishop, trouxe uma análise do discurso dos jornais estatais sobre a chamada “visita sorrateira” e como as declarações chinesas escalaram as tensões entre o anúncio da viagem e a partida da estadunidense. No The Diplomat, Brian Hioe concluiu que o episódio não deve influenciar as eleições que ocorrem em Taiwan no final de novembro, já que serão escolhidos apenas representantes locais, como prefeitos e conselheiros municipais. Nas comemorações do Dia Nacional de Taiwan, nesta segunda-feira (10), a líder Tsai Ing-wen declarou que a região não desistirá do modelo democrático.
Tecnologia na Iniciativa Cinturão e Rota. Uma das maiores empresas de telefonia celular tailandesas, a AIS, assinou um acordo de cooperação com a chinesa ZTE para criar um hub de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia 5G em Bangcoc, capital da Tailândia. As duas pretendem lançar tablets e smartphones conjuntamente, além de oferecer soluções para negócios e construir infraestrutura digital para a tecnologia 5G no país do sudeste asiático.
Pouco antes do anúncio do acordo, o The Japan Times publicou uma matéria sobre como as tecnologias disponibilizadas pela China na Rota da Seda Digital, sobretudo as de monitoramento com inteligência artificial, são temidas por ativistas e sindicalistas em países asiáticos: sob o argumento de aumentar a segurança pública, esse aparato seria usado para controle social, como é feito em locais politicamente sensíveis como Xinjiang e Tibete. O Camboja, por exemplo, instalou aproximadamente 1.000 câmeras de vigilância fornecidas pela China na capital Phnom Penh, constrangendo a realização de manifestações na cidade e levantando debates sobre privacidade e transparência sobre os dados coletados.
Guerra dos chips entre China e EUA se agrava. A Casa Branca anunciou, na última sexta-feira (7), restrições na exportação de tecnologias para a fabricação de semicondutores e o banimento na venda de chips para inteligência artificial e computação de alto desempenho para a China. Segundo especialistas consultados pelo New York Times, as medidas impostas pelo governo são o controle de exportações mais amplo da última década e visam limitar o desenvolvimento chinês dessas tecnologias. Como conta Tatiana Prazeres em sua coluna recente na Folha, a indústria de chips é a maior vulnerabilidade do gigante asiático.
O que seria uma arte distintamente chinesa em uma época de globalização e revolução digital? A Asia Society organizou, em Nova York, uma mostra para abordar a questão — Mirror Image: A Transformation of Chinese Identity. A exposição traz obras de sete artistas nascidos na China continental na década de 1980, pessoas que cresceram influenciados pela política do filho único e por investimentos internacionais. Sob uma perspectiva mais local, diretamente de Pequim, o artista Nut Brother se juntou a moradores de Huludao em agosto de 2022 para denunciar a poluição do ar na cidade industrial por meio de uma performance: os locais ligavam para um orelhão em Pequim todo sábado à tarde, relatando a quem atendesse o chamado o impacto da baixa qualidade do ar em suas vidas. Criada como forma de driblar a censura ao assunto na internet, a performance disparou uma investigação governamental do problema. As ligações foram finalizadas em setembro, depois que os chamados passaram a ser atendidos por pessoas que afirmavam serem locais de Pequim desinteressados nos problemas de Huludao.
Status: online e casado. A Rest of World fez uma matéria contando como casais homoafetivos estão aproveitando uma inovação jurídica de Utah para fazer a sua união formal — já que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é reconhecido pela legislação chinesa. O governo de Utah, um dos estados dos EUA, passou a permitir casamentos pelo Zoom sem exigência de cidadania americana e por cerca de 300 dólares, desde maio de 2020. Pela matéria, estima-se que mais de 200 casais de Hong Kong e da China continental já tenham celebrado a sua união desde então, inclusive com convidados e apoio de tradutores. Ainda que não tenha valor legal na China, os casais relatam se sentirem mais seguros e felizes após a cerimônia. Aliás, casar em Utah remotamente virou tendência internacional, como conta uma reportagem do New York Times do ano passado.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Dados: o episódio Math with CCP Characteristics, do podcast All Things Policy, convidou Manoj Kewalramani, da newsletter Tracking People’s Daily, para falar sobre como o discurso oficial chinês sempre usa muitos números nos seus slogans.
Mais um podcast: a série de oito episódios The Prince, do The Economist, investiga a biografia (meio misteriosa) de Xi Jinping e a sua ascensão ao poder na China.
Lórien: quem já leu Tolkien, sabe que o britânico era fã de mato em geral. Este texto de Zhou Yang explora com fotografias o Yuyuan, jardim em Shanghai, e como a sua beleza se relaciona com a visão de Tolkien sobre jardins como porta para outra dimensão.
Uma constelação de trabalhadores: em 2017, uma escritora migrante chamada Fan Yusu ganhou fama com um relato autobiográfico que virou livro com apoio de um grupo de escritores migrantes – o Grupo de Literatura de Picun. Eles agora lançaram uma coletânea de obras de nove autores e dá para conferir aqui o texto de Fan.
Li Wenliang: com base em registros médicos e no depoimento de uma testemunha, o New York Times revelou os últimos dias de vida do médico que soou o alarme da Covid-19 na China.