Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe credenciais do Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao. 03/02/2023, foto do Palácio do Planalto, Brasília.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe credenciais do Embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao. 03/02/2023, foto do Palácio do Planalto, Brasília.

Edição 248 – Lula desembarca na China, onde discutirá paz com Xi

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Sem anúncio prévio, o governo chinês publicou nesta terça-feira (11) o primeiro rascunho da lei de Inteligência Artificial generativa, que regula mecanismos como o ChatGPT. A preocupação sobre quais serão os limites da IA nas nossas vidas é tema de debate no mundo todo. Quanto é preciso regular? Pequim trouxe propostas iniciais para isso, como mostra o analista Vincent Brussee, do Merics, neste fio do Twitter. Ele diz que, em linhas gerais, é preciso que o conteúdo gerado esteja de acordo com o pensamento socialista e que não deve conter nada que subverta o poder do estado, nem obscenidade, informações falsas e conteúdos que possam corromper a ordem social e econômica. Pelo primeiro rascunho há ainda preocupação com questões ligadas a discriminação e à propriedade intelectual. É também mencionada a necessidade de que os provedores de IA deixem claro como o mecanismo é elaborado, a fim de evitar que os usuários confiem demais na tecnologia. O China Translate Law trouxe comentários detalhados de artigo por artigo. O Rest of World publicou um texto mostrando como a IA já está levando alguns empregos. Lembrando que a Administração do Ciberespaço da China, em parceria ministerial, já havia definido a regulação de serviços de “síntese profunda” — a IA usada na geração de conteúdos como realidade aumentada e em deepfakes.

Podres de ricos. A Forbes publicou sua listagem anual de bilionários por país. Atrás dos EUA e seus mais de 700 bilionários, a China permanece em segundo lugar com 495 bilionários, que juntos detêm 1,67 trilhão de dólares (cerca de 8,5 trilhões de reais, quase todo o PIB brasileiro) e isso considerando apenas os bilionários da China continental. O top 10 chinês é liderado por Zhong Shanshan (com 68 bilhões de dólares ou aproximadamente 350 bilhões de reais), magnata dos chás e da água mineral. Porém, a revista explica que, nos últimos anos, o desempenho da China nessa competição vem desacelerando devido à pandemia e às ações governamentais de maior regulamentação do mercado. Mesmo assim, Pequim tem uma bela dianteira sobre os demais países: na terceira posição, a Índia tem “apenas” 169 bilionários. Dentro do discurso de “prosperidade comum”, o próprio Xi já comentou a concentração de riqueza de certos grupos.

Haja bateria. A fabricante de carros elétricos de Elon Musk, a Tesla, anunciou no último domingo (9) que vai construir uma mega fábrica em Shanghai. O objetivo da nova planta industrial é a produção de baterias para os veículos. De acordo com a empresa, a fábrica terá capacidade de produzir 10 mil unidades de Megapack por ano. Esse é o nome dado para uma bateria de lítio bastante grande usada para armazenar e estabilizar redes de energia. Atualmente, a Tesla tem uma fábrica com capacidade semelhante de produção na Califórnia, EUA. 

A justiça de Hong Kong em números. Prestes a completar três anos desde sua implementação, a Lei de Segurança Nacional de Hong Kong teve seu impacto sobre a população relativizado pelo secretário de justiça Paul Lam Ting-kwok no último domingo (9). Segundo ele, apenas 250 pessoas foram detidas sob a lei e não mais que 30 foram condenadas. Outras consequências da legislação não foram comentadas pelo magistrado. Ele afirmou ainda que está no horizonte a implementação do artigo 23, que estabelece leis próprias da Região Administrativa Especial para a segurança nacional e, ao longo dos anos, foi recebido com manifestações populares de oposição. Como mostra uma reportagem do Hong Kong Free Press, o sistema judiciário da cidade ainda precisa lidar com 7.380 pessoas detidas por conta dos protestos de 2019 e ainda não processadas. Entre os 2.899 casos finalizados, 765 réus foram acusados por promover tumulto.

Depois de uma tentativa frustrada de visita à China, o presidente Lula desembarca nesta quarta-feira (12) em Shanghai, onde dará início à tão esperada viagem ao país asiático. Lula inaugura sua terceira visita oficial ao país e chega na cidade para comparecer à posse de Dilma no Banco dos Brics. O tom da imprensa local, como mostram textos do Global Times, é de entusiasmo. O tabloide nacionalista, escreveu um editorial falando que o mundo vai testemunhar a força da paz na relação Brasil-China, já que o líder brasileiro quer se envolver nas negociações do conflito entre Rússia e Ucrânia. O Sinification também traz uma lista sobre o que esperar da visita, sobretudo do encontro entre Xi Jinping e Lula, na sexta (14). O cancelamento no final de março não inibiu a assinatura de diversos acordos comerciais entre os países. A Aline Tedeschi, nossa editora de mídias e artigos e também parte do Observa China, falou à BandNews sobre a viagem.

Colocando pressão. Um dia após Tsai Ing-wen encerrar sua tour pelas Américas e ser chamada de “grande amiga dos EUA” pelo congressista Kevin McCarthy, Pequim enviou aeronaves e navios para realizarem três dias de exercícios militares na região entre a costa da China continental e a ilha de Taiwan. Inicialmente,  a cobertura da imprensa internacional  disse que os exercícios iniciais eram perto da ilha, mas parece que não foi bem assim, como comentou o analista Nathan Ruser. É claro que o encontro de Tsai e McCarthy desagrada Pequim, mas quem ganha e quem perde se houver uma ofensiva? Vale ler esta análise sobre isso. Este texto da Brookings faz uma leitura mais detalhada sobre os reveses em torno do debate de independência de Taiwan nos últimos anos. Por falar nisso, a Reuters conta como o Paraguai pode ser o próximo país da América Latina a trocar relações diplomáticas com Taipei por Pequim, como fez Honduras

A visita do presidente francês, Emmanuel Macron, à China ultrapassou as fronteiras do país asiático. Em uma reportagem que gerou controvérsias, o Politico escolheu como título uma fala de Macron para que a Europa resista à pressão de seguir os Estados Unidos. O contexto da fala é em relação principalmente às divergências entre China e Taiwan, e como o país norte-americano tem se posicionado em meio a isso. A fala de Macron se deu em conversa restrita dele durante voo para o sul da China, onde ele se reuniu com Xi na cidade de Guangzhou. Vale ler o texto do Sinification sobre os impactos do encontro entre os dois líderes para a geopolítica global.

Jornalismo duvidoso. O site de notícias independente australiano Crikey tirou do ar uma série de reportagens sobre uma suposta repressão do governo chinês à população LGBTQIA+. O site decidiu remover os textos e retratar-se depois de fontes reclamarem de terem sido citadas sem seu consentimento ou com falas tiradas de contexto. Além disso, vários de questionamentos surgiram sobre a integridade da reportagem original, que omitia muitas informações relevantes e apresentava erros factuais. O The China Project entrevistou dois jornalistas que cobrem questões LGBTQIA+ na China sobre a polêmica envolvendo a Crikey. Ambos afirmaram que o jornalismo precisa ir além de culpar o governo chinês por todos os males da sociedade do país e só fazer cobertura sobre o quão opressivo o governo é: nuances são necessárias bem como uma abordagem que relate e compare as experiências da população LGBTQIA+ chinesa com outras no mundo.

O desfecho do caso Xiao Huamei. Na última sexta-feira (7), uma corte em Xuzhou, na província de Jiangsu, decretou as sentenças dos envolvidos no caso da “mulher acorrentada” que chocou a sociedade chinesa em 2022. O marido da vítima, Dong Zhimin, foi condenado a nove anos de prisão por violência doméstica e cárcere privado. Como destacou a pesquisadora Chenchen Zhang, Dong não respondeu por receptação de tráfico de mulheres (crime previsto na lei chinesa) nem estupro marital (que no contexto legal só é criminalizado em processos de divórcio). Outras cinco pessoas envolvidas no caso receberam penas de oito a 13 anos de cadeia. Jeremy Daum, pesquisador do China Law Translate, publicou um fio destacando as relações entre tráfico humano, doenças mentais e violência doméstica na China, relembrando que, em 2013, estimava-se que 100 mil pessoas com problemas psiquiátricos viviam acorrentadas na província de Hebei.

Pé na estrada. Ao que tudo indica, o feriadão do dia do trabalho, de 29 de abril a 3 de maio, vai ser de muitas viagens para os chineses. Segundo levantamentos de sites de reservas de passagens, hospedagens e restaurantes, os pedidos já chegam a níveis pré-pandêmicos. Apesar de serem destinos populares entre esses viajantes, Hong Kong e Macau não estão prontos para a demanda por conta da falta de profissionais para atender esse público. De acordo com representantes do setor em Hong Kong, há um déficit de 100 mil trabalhadores nas áreas de alimentação e comércio por conta de um êxodo durante o qual 94 mil trabalhadores emigraram apenas no ano passado. Já Macau têm reduzido a capacidade de hotéis e cassinos por falta de mão de obra. Lá, mais de 40 mil profissionais perderam o emprego por conta dos fechamentos causados pela pandemia.

reforma electoral en Hong Kong

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Hora do cafezinho: você sabia que Shanghai é uma das cidades com mais cafés no mundo? Pois é, e são tantos que é difícil se destacar — tem lugares que apelam para sabores inesperados e outros que apostam em apresentações instagramáveis.

Na onda da IA: a newsletter ChinAI traduziu para o inglês o vídeo do blogueiro de tecnologia Chapingjun comparando o GPT-4 ao Ernie Bot, a resposta da Baidu ao Chat GPT. Em resumo, a IA chinesa perdeu em cinco dos seis quesitos analisados e empatou no restante.

Geopolítica: o pesquisador Ian Rowen explora neste artigo como, desde 1998, o governo da China continental forja o conceito de 港澳台 para criar uma entidade unificada para Hong Kong (香港), Macau (澳門) e Taiwan (台灣). Aqui tem o TL;DR.

Brutal: a The World of Chinese publicou um breve texto sobre a história de algumas inovações chinesas no campo da tortura e da punição corporal. Conteúdo bem leve, só que ao contrário.

Ô seu cobrador: o tempo de viagem em cidades chinesas é o tema deste artigo na Sixth Tone, abordando o conceito de “cidades dos 15 minutos”.

Podcast: o vídeo em que o Dalai Lama beija uma criança na boca trouxe uma série de discussões não apenas sobre abuso, mas também sobre a relação do Tibete com Pequim. O tema é a pauta deste episódio do podcast O Assunto, com participação do especialista Paulo Menechelli.

 

A vida de Zhang Sai, um entregador (com vocação para poeta) em Wuhan durante a pandemia é o tema deste filme da cineasta Jia Li chamado To Knock or Call

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