Fotografia em cores de uma escultura dourada de um dragão chinês, a escultura está saindo de um corpo d'água em movimento. O dragão tem uma bola na boca.

Foto de Ryan Moulton via Unsplash.

Edição 274 – Boas perspectivas econômicas no feriadão

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Feriadão de ouro. Acabou a famosa Golden Week, que acontece na primeira semana de outubro, uma celebração de sete dias pela proclamação da República Popular da China (1) — que, neste ano, ainda ganhou uma sexta-feira extra por coincidir com o Festival da Lua (29 de setembro). Antes da pandemia de Covid-19, este era um período de grande movimentação turística e de consumo — e parece que o novo normal, neste caso, é quase o velho normal: ainda que a bilheteria dos cinemas não tenha empolgado tanto (39% abaixo dos números de 2019), o turismo doméstico teve o melhor feriadão em cinco anos: foram 826 milhões de viagens (4,1% a mais do que em 2019), movimentando 753,43 bilhões de reminbi (1,5% de aumento em relação 2019). Shanghai, Pequim, Chengdu, Chongqing e Shenzhen foram as cidades onde os turistas mais gastaram. As imagens impressionam, com engarrafamento de camelos nas dunas de Dunhuang e grandes muralhas humanas. Quem optou por evitar essa fadiga criou a tendência do citywalk, uma imersão cultural local baseada no estilo de vida da sua própria cidade.

Destinos internacionais, de um modo geral, não empolgaram. Entre as viagens transfronteiriças, a Tailândia, que recentemente derrubou a necessidade de visto para chineses, foi a preferida, com recuperação parcial (de 85%) em relação a 2019. Macau teve número parecido, chegando a 84% do total de visitantes pré-pandemia. Já o milhão de visitantes chineses que foram a Hong Kong não chegou a compensar pelos 1,4 milhão de honconguenses que deixaram a região para o feriado. Para piorar, esses visitantes gastaram pouco, à atual moda local, já causando desânimo para o Ano Novo Lunar de 2024.

De ouro mesmo. Durante a pausa, a China continental recebeu mais boas notícias: grandes bancos internacionais anunciaram na quarta-feira (4) um aumento na expectativa para o crescimento do PIB chinês deste ano, atingindo 5%, sob a expectativa de que o pior já tenha passado e a economia volte a aquecer. Mas, na visão do FMI, mais pessimista, 2024 vai ser difícil para todo mundo, e a China deve crescer apenas 4,2%.

Uma regulação para estimular o mercado de IA? Já contamos aqui sobre o quanto a China deu um passo à frente em relação às principais potências globais e lançou seu próprio modelo de regulação de inteligência artificial. O que este texto recém-publicado no Project Syndicate traz é uma análise sobre como o modelo adotado pode estimular a indústria de IA. De acordo com a acadêmica Angela Huyue Zhang, diferentemente do que se pensa, a visão chinesa para regulamentação é menos restritiva para o desenvolvimento de inteligência artificial do que outras, como a europeia. Há quem diga que o gigante asiático pode estimular outros países.

Qual a posição de Pequim no conflito entre o Hamas e Israel? Nesta quarta-feira (11), o enviado especial para o Oriente Médio Zhai Jun declarou que a China estaria disposta a coordenar com o Egito um cessar-fogo para evitar a piora da crise humanitária desencadeada após os ataques iniciados no final de semana. Zhai reforçou os pontos levantados pelo país durante reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU no domingo (8), enfatizando a necessidade de retomar negociações de paz que garantam a existência tanto de Israel quanto da Palestina. O governo está estudando um plano de evacuação de chineses da região enquanto apura possíveis mortes.

A newsletter Sinification publicou uma breve entrevista com Niu Xinchun, diretor do Instituto de Estudos de Oriente Médio junto ao Instituto Chinês de Relações Internacionais Contemporâneas, sobre as causas e prováveis consequências da atual intensificação do conflito. No mesmo post, também há recomendações de análises de acadêmicos e comentaristas chineses a respeito da questão Palestina-Israel. Vale a leitura.

Cooperação transnacional. No ano passado, contamos sobre os casos de tráfico humano focados em cibercrime e telecomunicações no Sudeste Asiático, cujos alvos eram principalmente cidadãos chineses. Na época, já havia anúncio de esforços de cooperação das autoridades chinesas com os governos da região. Nos últimos meses, as lideranças enfatizaram a importância dessa atuação conjunta — tanto com Tailândia e Laos, como com o Camboja. A resposta aos casos de cibercrimes no Mianmar também se destaca, permitindo ao país melhorar sua relação com a China. Alguns resultados já começaram a aparecer: no final de setembro, mais de 150 cidadãos chineses foram deportados da Indonésia para a China continental sob suspeita de participação nas fraudes, e cerca de 1.200 chineses envolvidos em esquemas online foram presos no Mianmar. No início do mês, a província de Yunnan, que faz fronteira com o Mianmar, chegou a restringir a circulação de pessoas e estabeleceu controle rígido por ali até o final do ano.

Chega de Dólar. O começo de outubro marcou um avanço nas relações financeiras e comerciais entre Brasil e China: pela primeira vez, os países concluíram um processo de transação comercial utilizando as suas moedas nacionais. O Banco da China facilitou a conversão de uma carta de crédito em renminbi (RMB) para a empresa brasileira de celulose Eldorado Brasil, que, em agosto, havia concordado em fechar seu contrato comercial em RMB e em realizar suas liquidações comerciais utilizando a moeda chinesa, deixando de lado a tradicional carta de crédito em dólares. O incentivo para se estabelecerem mais negociações utilizando as moedas locais é fruto de um dos memorandos de entendimento assinados entre Brasil e China durante a visita de Lula à China. 

Xi encontra senadores dos EUA. Na última segunda-feira (9), Xi Jinping se reuniu com uma delegação de parlamentares estadunidenses em visita à China. Uma fala do presidente chinês durante a conversa, de que os dois países não precisam necessariamente caminhar para um confronto, tem sido interpretada como um sinal de que Xi comparecerá ao encontro da APEC na Costa Oeste dos EUA em novembro. O site Axios traz um bom resumo sobre os principais pontos da visita e por que ela importa.

Errata: na edição anterior, nos referimos ao acordo assinado entre o PT e o PCCh como “paradiplomacia”. Apesar do evento possuir características de uma aproximação descentralizada do governo, o conceito mais preciso para descrevê-lo é “diplomacia partidária”, que se refere propriamente à práticas de partidos políticos, diferente da “paradiplomacia”, referente à atuação de entidades subnacionais, como cidades ou províncias. Agradecemos ao nosso leitor Filipe pela observação.

Jogos asiáticos. Chegaram ao fim os Jogos Asiáticos de 2022, realizados em Hangzhou entre 23 de setembro e 8 de outubro — de 2023, adiados por causa da pandemia. Embora pouco comentada fora da Ásia, a competição deste ano se destacou pela presença de esports, torneios de videogames, incluindo jogos populares como League of Legends e Street Fighter — dá pra ver os resultados aqui. Observadores também indicaram pouca camaradagem entre atletas das Coreias do Norte e do Sul, ao contrário do espírito de união demonstrado nos últimos jogos, em 2018. Mas, no fim das contas, o grande assunto no ocidente foi um só: a censura, em mídias sociais chinesas, da foto de duas corredoras da China se abraçando. O motivo? Uma delas carregava o número seis; a outra, o número quatro. Até a mídia brasileira falou a respeito. A 20ª edição da competição, em 2026, será em Nagoya, no Japão. 

Gatos e tigres. Você conhece o termo “mães-gato”? A expressão é uma oposição à notória ideia de “mães-tigre” — que seriam mães exigentes em excesso com seus filhos, um conceito bastante associado às mães chinesas (e asiáticas de modo amplo). Neste texto traduzido pelo Reading the China Dream, a pesquisadora Lei Wanghong discute como a diferença entre as duas abordagens se tornou também urbana e rural — com as “mães-tigre” vivendo principalmente nas cidades, devido à concentração de renda e acesso à educação. Já no campo, as mães acabaram se tornando menos tigresas e mais gentis, também a partir de um sentimento de culpa por não oferecer os recursos necessários para seus filhos competirem de forma feroz. Vale ler a introdução ao texto também.

reforma electoral en Hong Kong

Evento: recentemente publicado, o livro A torre erigida abaixo, de Yang Lian, será tema de uma conversa no dia 21/10, às 16h, na livraria Aigo (em São Paulo). Os tradutores da obra, Verena Veludo e Rodrigo Bravo, vão discutir as descobertas do processo de tradução e falar sobre poesia chinesa. 

Ficção: o The New Yorker publicou uma tradução para o inglês de um conto do escritor chinês Shuang Xuetao. De uma nova geração de autores chineses, ele já teve um dos seus contos transformado em filme e faz parte da “Renascença de Dongbei”. 

Wifey: a pesquisadora de fandoms Emily Liu escreveu sobre a idol Liu Yuxin após ir a um show da turnê Xanadu em Shanghai. Liu Yuxin é um fenômeno musical e comercial, mas o texto chama atenção para sua sexualidade ambígua e aparência andrógina.

Fotografia: a China File publicou uma entrevista com o fotógrafo Billy H.C. Kwok, recheada de imagens da sua cidade natal, Hong Kong.

Receita: como não tem nada melhor do que um chazinho no conforto de casa, não deixe de conferir a receita de bubble tea postada pelo youtuber Andong, que também publicou um vídeo contando mais da história da iguaria.

 

Nossa recomendação para o dia das crianças: o curta Step into the River, de Weijia Ma. Disponível para aluguel com legendas em inglês, esta animação reflete sobre o impacto da política do filho único sobre as vidas de meninas.

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