Imagem de gráfico com números subindo e descendo em um computador

Edição 296 – Comissão investiga fraude de dados econômicos

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Economia melhorando de mentirinha. A Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCID), principal órgão do governo central de combate à corrupção, identificou diversos dados forjados por autoridades locais nos últimos anos, como relata o SCMP. A análise é que isso se deu em meio a uma pressão de demonstrar uma melhora da economia no pós-pandemia. Já falamos sobre isso no passado, em uma denúncia feita pelo Instituto Nacional de Estatísticas da China. A nova investigação aprofunda a questão das dificuldades locais de conquistar resultados concretos, e como províncias e distritos forjaram dados para indicar sucesso. Um dos exemplos é a quantidade de registros de empresas em cada região. Segundo o CCID, funcionários de governos locais pressionaram os cidadãos de suas comarcas a registrarem empresas inexistentes para inflar o índice. Outro caso foi das prefeituras cobrando que seus funcionários documentassem suas curtidas em postagens oficiais em redes sociais.

Des-diferenciada. Hong Kong costumava ter um diferencial claro: era uma porta de entrada para a China continental. Mas com a implementação da Lei de Segurança Nacional — criada por Pequim em 2020 — e a nova Lei de Segurança Nacional criada localmente (conhecida como Artigo 23), não é mais bem assim. Empresas internacionais acreditam que atuar em Hong Kong expõe seus funcionários a acusações de espionagem. Assim, muitos têm transferido suas operações de lá para Cingapura (movimento também seguindo por  empresas chinesas). Isso impacta a retomada econômica da cidade que costumava ser um hub financeiro e da aviação: o setor bancário, que em 2022 era responsável por 23% do PIB e 7,5% dos empregos locais, não garante mais segurança profissional, e viajantes que entrem na cidade portando “materiais sediciosos” serão reportados por agentes alfandegários à polícia – o que, dada a falta de clareza sobre o que seria sedicioso, não atrai visitantes. Nesta quarta-feira (10), uma representante da organização Repórteres Sem Fronteiras que pretendia investigar o declínio da liberdade de imprensa no território foi deportada depois de seis horas de interrogatório no aeroporto da cidade. 

Os impactos vão além da economia atual e dos percalços dos gringos. Um artigo de pesquisadores da Hong Kong Baptist University e National Taiwan University sugere que, nesse contexto, casais locais com maior preferência pela democracia têm menores chances de querer ter filhos. Não é pouca gente: uma pesquisa recente do Pew Research Center indicou que 82% dos honconguenses acreditam que uma democracia multipartidária seria uma boa forma de governo.

Não é comum a liderança de Taiwan visitar Pequim. Na verdade, nenhuma pessoa em exercício de cargo fez isso ainda. Mas Ma Ying-jeou, que esteve no poder entre 2008 e 2016, realizou esse mês a sua segunda visita em menos de um ano até a China continental, conta a Reuters. Ma, que é do partido Kuomintang, havia quebrado paradigmas ao realizar a primeira visita, mas parece que gostou pois irá passar 11 dias visitando universidades e fazendo turismo histórico. Em outra quebra de paradigma, ele conheceu Xi em 2015, durante uma viagem para Cingapura: o primeiro aperto de mão entre a alta liderança de Taipei e Pequim em 70 anos. Os dois se reencontraram hoje (10), marcando outro momento histórico – mas talvez mais nos termos de Pequim do que de Taipei, segundo analisa o The New York Times, e acabou ocorrendo no mesmo dia de uma reunião entre Japão, EUA e Filipinas lá em Washington.

Diplomacia em alta. A semana foi cheia de eventos nas relações entre a China e os Estados Unidos. Os presidentes Joe Biden e Xi Jinping falaram ao telefone na manhã de terça-feira (9). A conversa antecedeu a reunião entre o líder estadunidense e autoridades da região do Indo Pacífico e ocorreu no contexto de controle de exportações de tecnologia do lado dos EUA.  Por falar nisso, teve a visita da Secretária do Tesouro, Janet Yellen, à China, onde ela também falou sobre questões de competição econômica entre as duas potências. Como bem definiu o Politico, foi uma diplomacia palooza entre os dois países. 

Indonésia. Na semana passada, Xi Jinping recebeu Prabowo Subianto, recém-eleito presidente da Indonésia e atual ministro da Defesa, em Pequim. Além das congratulações de praxe, os dois líderes ressaltaram a necessidade de aprofundar os laços bilaterais, inclusive na área da cooperação marítima — isso apesar de Indonésia e China terem reivindicações territoriais conflitantes do Mar do Sul da China. Essa foi a primeira viagem de Subianto ao exterior desde a eleição, na qual se comprometeu a não tomar partido nas disputas territoriais marítimas no sudeste asiático.

O relacionamento de longa data entre Chile e China, construído ao longo de mais de 50 anos, testemunhou uma série de marcos importantes. Esta matéria da Diálogo Chino faz um relato histórico dessa estrada que começou centrada em laços culturais e diplomáticos e veio a se tornar uma parceria econômica sólida. O texto destaca como a relação entre os dois países constantemente se reformula e o destaque dessa vez gira ao redor do comércio intenso de cobre, assim como o foco nos interesses chinês e chileno de avançarem em parcerias de investimento no setor de energias renováveis. 

Lembrando que em 2024, o Brasil e a China fazem 50 anos de laços diplomáticos (tem evento do CEBRI no dia 17).

Discriminação de primeiro grau. Uma matéria da Sixth Tone aborda como a preferência por candidatos com diplomas de graduação de universidades de elite continua a prevalecer no mercado de trabalho na China, mesmo com propostas de reforma visando valorizar outras competências e experiências. A reclamação é que mesmo com especializações e até doutorados, o primeiro diploma – resultado direto do gaokao – é o único que chama atenção de recrutadores. O assunto mobilizou atenção tanto entre legisladores quanto nas redes sociais, com argumentos tanto defendendo a meritocracia baseada no bom desempenho no exame nacional de admissão, quanto aqueles que dizem que o aumento da concorrência no mercado de trabalho contribui para padrões mais elevados de seleção de funcionários. Um ponto de atenção apontado na matéria é justamente o fato de que apesar das tentativas do governo em esclarecer que não há políticas oficiais que valorizem uma formação em detrimento da outra, a adoção massiva de sistemas de recrutamento automatizados tem se mostrado um problema.   

Mais que amigos, gamers. Microsoft e NetEase anunciaram nesta quarta-feira (10) que fecharam uma parceria para disponibilizar novamente os jogos da Blizzard no mercado chinês. Caso você não se lembre, as Blizzard e NetEase encerraram uma parceria de 14 anos em 2023, em um episódio bastante cheio de emoções. No mesmo ano, em outubro, a Microsoft comprou a desenvolvedora de games chinesa por 69 bilhões de dólares. Segundo as empresas, os primeiros jogos devem estar disponíveis no verão chinês (entre junho e agosto).

Tendências para IA ? Recentemente, o think tank MarcoPolo lançou a atualização do rastreador Global AI Talent Tracker 2.0, uma iniciativa que analisa o cenário dos talentos em Inteligência Artificial (IA). O estudo fornece insights sobre a distribuição geográfica dos principais pesquisadores da área, suas origens e destinos, bem como a dinâmica de migração entre países, onde dados são coletados a partir das afiliações dos pesquisadores em instituições acadêmicas e da localização geográfica de onde trabalham atualmente. Após três anos de pandemia e mudanças geopolíticas, os EUA permanecem como principal destino para talentos em IA, com 60% das principais instituições e 75% dos talentos de elite com origens americanas ou chinesas. O relatório também indica que a China e Índia estão expandindo suas reservas de talentos domésticos, com 47% e 20% dos principais pesquisadores optando por trabalhar localmente, respectivamente. 

Esta matéria do The New York Times, revela como a China superou os Estados Unidos como o maior produtor de talentos em Inteligência Artificial, e que embora ainda atraia talentos de todo o mundo, incluindo da China, o país está perdendo sua liderança relativa na produção de talentos em IA.

reforma electoral en Hong Kong

Intercâmbio: em ensaio para a New Yorker, Peter Hessler discorre sobre diferenças e semelhanças do modelo educacional da China e dos EUA e reflete sobre como os chineses — fortemente presentes em instituições estadunidenses — experimentam o sistema educacional dos Estados Unidos.

Livro: Angela Huyue Zhang, professora da Universidade de Hong Kong, acaba de lançar um livro sobre como o governo chinês vem lidando com a regulação de Inteligência Artificial. Confira o texto do MIT Review. 

Cuidado a fruta caindo: este ensaio sobre a sinalização sobre segurança em Hong Kong vai além apenas das placas e fala da relação com a cidade e sobre mudanças climáticas.

Vocabulário: hora de atualizar seu mandarim com essas expressões selecionadas pelo pessoal da Radii China. 

巴西: o China Digital Times chama atenção para a cooperação entre a mídia estatal chinesa e a mídia brasileira – e comenta o livro do jornalista Igor Patrick e este artigo acadêmico escrito por Paulo Menechelli e Pablo Morales.  

Newsletter: Michelle Kuo e Albert Wu contam suas experiências com o terremoto em Taiwan e como governo e sociedade civil agem para reduzir os estragos de abalos sísmicos.

 

Estreou no Mubi o documentário The Last Year of Darkness sobre a cena baladeira de Chengdu – uma das capitais noturnas da China.

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