Fotografia em cores dos neons coloridos na fachada do Casino Lisboa, em Macau.

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Edição 238 – Reabertura em Macau dinamiza cassinos

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Apostando em Macau. A reabertura de fronteiras chinesas está sendo um sucesso para Macau: o primeiro dia do ano do coelho levou à Região Administrativa Especial mais de 50 mil visitantes da China continental e outros 20 mil de Hong Kong (que não está com o mesmo fluxo). A reabertura está sendo especialmente boa para os cassinos, que viram a média diária de apostas triplicar, chegando a movimentar 314 milhões de patacas macaenses (R$200 milhões) na semana de 15 de janeiro. Agora, a previsão é de que o mercado de apostas de Macau, o maior do mundo e responsável por 40% do PIB da RAE, atinja 85% da performance pré-pandemia até o ano que vem. Apesar do clima de recuperação, o setor, fundamental para a economia local, tem passado por um maior escrutínio do governo: na semana passada, o fundador do maior grupo de cassinos de Macau, Alvin Chau, foi condenado a 18 anos de prisão por permitir apostas ilegais.

Não tá fácil para ninguém quando o assunto é economia. Um detalhado levantamento do Macropolo mostra como anda o endividamento dos governos locais na China. Além dos gráficos que o site traz, vale ler com calma a análise, que mostra que esse cenário não vem de hoje, mas é uma “ressaca” fruto da crise global de dez anos atrás. Aliás, a Bloomberg recentemente publicou sobre ações que o governo central vem fazendo para tentar socorrer as localidades da situação de endividamento.

Três anos se passaram e tudo (ou nada) mudou. De acordo com autoridades chinesas, oito a cada dez pessoas no país contraíram Covid-19 desde o início de dezembro. O vírus tem se espalhado não só em cidades, mas também em zonas rurais, como lembra este vídeo da Sixth Tone.  O número de infectados pode ainda ser maior na semana que vem,  já que este foi o primeiro feriado de Ano Novo Lunar comemorado sem regras restritivas na China, quando há intensa circulação de pessoas. O presidente Xi Jinping, na véspera da data, divulgou seu tradicional vídeo com mensagem para a população. Xi disse que o país agiu corretamente ao adotar medidas restritivas por quase três anos e afirmou que o direcionamento correto segue em curso agora, com o fim da política de Covid-zero. Para saber como a disseminação da doença será impactada pela decisão, precisaremos de mais um tempo. Mas, enquanto isso, seguem as homenagens no país aos trabalhadores que têm se dedicado desde o início a cuidar dos pacientes da doença, como mostra o What’s on Weibo. Mas nem tudo é homenagem e a Far and Near traz relatos complementares de como é a vida de quem está na linha de frente do combate à doença.

Qual o papel da China na América Latina? A gente não tem uma resposta para isso, mas trazemos um debate que foi feito a  partir deste texto publicado pela Foreign Affairs e este pertinente fio cuidadosamente feito pelo porteño e pesquisador do tema Bruno Binetti. Ao apontar que o artigo traz conceitos errados sobre a relação do gigante asiático com os países da região, ele indica leituras, que replicamos aqui. O tema da relação do país asiático com as nações latino-americanas é tão quente que a The Economist também publicou uma reportagem sobre o tema.

Por falar nisso, a possibilidade de o Uruguai fechar acordo com a China fora do Mercosul foi apontada como um possível fator de destruição do bloco pelo novo chanceler do Brasil, Mauro Vieira, em entrevista à Folha.

A peça que faltava. A convite de Xi Jinping, o presidente do Turcomenistão, Serdar Berdimuhamedov, foi a Pequim no início de janeiro, ocasião em que foi celebrada a elevação das relações sino-turcomenas ao status de parceria estratégica. Na reunião bilateral, Xi e Berdimuhamedov assinaram um acordo que marca a entrada do país centro-asiático na Iniciativa Cinturão e Rota (ICR). Palco de intensa disputa geopolítica, o Turcomenistão era o único país da Ásia Central que não tinha aderido à ICR. Em coletiva de imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, além de notar que agora toda a região faz parte da ICR, destacou que em 2023 o projeto chinês completa 10 anos. Em análise no The China Global South Project, Cobus van Staden assinala que a China parece ter substituído a Rússia como principal parceira externa da Ásia Central. O China Briefing fez um levantamento das relações econômicas sino-turcomenas e elencou alguns projetos de infraestrutura que podem sair do papel após a adesão do Turcomenistão à ICR.

Nem tudo são flores. A ICR parece ter sofrido um grande revés no leste africano: Uganda cancelou o acordo com uma empresa chinesa para a construção de uma ferrovia entre a capital Kampala e a cidade de Malaba junto à fronteira com o Quênia. O projeto tem grande valor estratégico, pois conectaria uma grande rota ferroviária unindo Ruanda, Sudão do Sul e Uganda ao porto de Mombasa no Quênia. As autoridades ugandenses alegam demora para sair o financiamento prometido pela China — estariam há quase dois anos sem qualquer resposta do Eximbank chinês. Mas Uganda talvez não esteja sozinha: um estudo do Global Development Policy Center da Universidade de Boston mostra que os empréstimos chineses pelo mundo despencaram em 2021, atingindo o menor número (e quantia) dos últimos 13 anos, conforme noticiou a Reuters.

O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, vai à China nos dias 5 e 6 de fevereiro — algo que o Ministério das Relações Exteriores chinês já disse que é bem-vindo. Com a saída de Qin Gang para a chancelaria, o posto de embaixador dos EUA vai ficar com o diplomata Xie Feng. Xie foi escolhido no lugar de Hua Chunying, que era porta-voz do ministério e notoriamente da linha dura da “diplomacia do lobo guerreiro”. Mas o novo embaixador também não é paz e amor, conta o Politico.

Aproveitando o ibope, o novo ministro Qin Gang decidiu usar um jogo da NBA no sábado (21), para mandar um recado amigável para os EUA e desejar Feliz Ano Novo. A partida era entre o Orlando Magic e os Washington Wizards — que foi o primeiro time da liga a visitar a China durante a retomada das relações, em 1979. Eles na época se chamavam Washington Bullets e até jogaram (e venceram) contra os Bayi Rockets.

Marmita rende conteúdo. Pelo menos é o que está rolando de tendência no Xiaohongshu (a versão chinesa do Instagram). O The China project conta como o uso da rede social — onde normalmente estilos de vida luxuosos são vendidos por seus usuários — passou a aderir à tendência de postagens das 东北盒饭 dōngběi héfàn (caixas de comida ao estilo do nordeste da China). Seria a marmita o novo glamour ou o trend é uma necessidade de economia em tempos mais restritivos?

Ganhos e perdas. Após a retomada dos lançamentos de games na China, a notícia da semana é de perda de títulos. A desenvolvedora estadunidense Blizzard encerrou nesta semana sua colaboração com a chinesa NetEase, que há 14 anos licenciava seus jogos para o mercado chinês. O fim não foi exatamente amistoso: ainda durante a vigência do contrato, a estadunidense buscava outra licenciadora ao mesmo tempo em que pedia a extensão da parceria por mais seis meses — o que levou a acusações de infidelidade (com direito a misoginia) e ao livestream da demolição das estátuas do jogo World of Warcraft que ficavam no escritório da empresa chinesa em Hangzhou, capital da província de Zhejiang. O SMCP publicou um texto com os altos e baixos da relação entre as duas empresas e destacando que os jogadores chineses já estão prontos para encontrar novos títulos de outras desenvolvedoras.

Too cool for school. As subculturas chinesas são extremamente ricas. Há algum tempo já contamos sobre os shamate, um grupo que para além das roupas e cabelos característicos, também representava uma profunda divisão entre populações urbanas e migrantes rurais. Quem tem dominado as discussões agora são os yabi (ou 亚逼) — que são difíceis de definir, mas combinam elementos de estilos ocidentais e também chineses fora do mainstream. Este vídeo da Radii China conta mais o que é yabi, as características e repercussão online do fenômeno.

reforma electoral en Hong Kong

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Arquitetura: falamos de gênero em tudo, até mesmo no papel das mulheres chinesas na arquitetura. Divirta-se e aprecie o olhar e a técnica delas neste texto.

Caubói: nem hanfu, nem veste mandarim, a nova tendência entre os jovens chineses parece ser posar de fazendeiros estadunidenses.

Esforço familiar: o SCMP mostra como pai e filha lutam pela preservação da arte de fazer peças de mahjong à mão em Hong Kong.

Toc-toc: uma das tradições do Ano Novo Lunar é o uso de figuras nas portas para garantir proteção, representando os menshén ou deuses das portas. A matéria da Sixth Tone explica mais sobre essa história e traz belos exemplos.

Desenho: falando em folclore chinês, uma nova série animada baseada em lendas está sendo um sucesso no país. A Zhongguo Qitan ou Yao Chinese Folktales possui somente oito episódios, cada um contando uma história e em um estilo diferente. Os quatro primeiros podem ser encontrados de graça no Bilibili (os outros são pagos).

Feliz ano do coelho d’água: a festa de gala da CCTV celebrando o Ano Novo Lunar está disponível no YouTube. Essa edição contou com o medley musical “Cinturão de flores, rotas de canções” com artistas de diversos países.

Imagem de fundo vermelho com texto em branco. Caracteres chineses cujo pinyin é 破镜重圆 (pò jìng chóng yuán).
Este é para quem gosta de reciclar relacionamentos: 破镜重圆 (pò jìng chóng yuán), a reunião das peças de um espelho quebrado, uma metáfora para o reencontro de um casal depois de uma longa separação.
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