Edição 325 – Vitória de Trump traz novos desafios para a China
Bora reciclar direitinho. Além de liderar o setor de carros elétricos, a China agora sai à frente de outro item ligado a este mercado: a reciclagem de baterias usadas em carros elétricos. A importância da economia circular de baterias vai além da reciclagem de material, mas também é uma forma de contornar a escassez de materiais usados na manufatura delas: níquel, cobalto e lítio. O Asia Times mostra que empresas como CATL e GEM Co estão liderando este processo. Será que essa iniciativa vai reforçar a reciclagem no universo de carros elétricos?
Alimentando o monstro. O ChinaTalk publicou uma análise longa sobre os desafios energéticos do país, seja com baterias ou reatores nucleares, para construir e manter data centers mais sustentáveis. Lançado em 2020, mas ganhando gás apenas em 2022, já falamos aqui sobre o Eastern Data, Western Computing – um programa do governo chinês que pretende interiorizar a infraestrutura necessária na economia de dados, como a construção desses centros para armazenamento de dados. O objetivo é utilizar fontes de energia renováveis ou mais baratas para alimentar os data centers, visto o enorme consumo e impacto que eles causam no meio ambiente. Aliás, esse desafio é global e se relaciona com o avanço do uso de inteligência artificial, como bem explica este texto da Foreign Policy.
A vitória de Donald Trump nos EUA é tema do noticiário mundo afora e não poderia ser distinto na China. Como será a administração do Republicano em relação ao país asiático? A chegada de Trump ao poder em 2016 intensificou a competição comercial entre os dois países e deu início a um clima menos amistoso entre eles. Xi Jinping rapidamente respondeu ao resultado eleitoral enviando uma mensagem que expressa esperança de que os dois lados manterão o princípio de respeito e coexistência pacífica. O texto dizia ainda sobre uma cooperação positiva para os dois lados, com gestão das diferenças e expansão de cooperação com mútuo benefício. Vale conferir no Beijing Channel o que alguns especialistas chineses comentaram sobre o que significa um novo governo Trump.
TikTok enfrenta problemas no Canadá também. Nesta quarta-feira (6), o governo canadense anunciou que as operações da chinesa ByteDance no país deverão ser interrompidas. A avaliação das autoridades é de que a presença da dona do TikTok no país seria um risco à segurança nacional. Em substituição a essa operação, Ottawa recomendou a criação da TikTok Technology Canada Inc. Embora o episódio pareça somar a um sentimento de hostilidade norte americano contra o aplicativo, diferentemente do que está em jogo nos Estados Unidos, a decisão canadense não envolve o banimento do app no país: o discurso oficial é de que escolha por usar ou não o aplicativo é individual. A ByteDance, no entanto, promete recorrer da decisão.
A boa minoria. Jin Xing é uma mulher trans que conquistou seu espaço na mídia chinesa: apresentadora na televisão e dançarina, Jin tem 14 milhões de seguidores no Weibo e desde 2021 viaja pela China com uma peça de teatro dirigida e estrelada por si mesma. No final de outubro, no entanto, ela criticou nas mídias sociais a rejeição do seu pedido para apresentar sua peça em Guangzhou. O público logo diagnosticou o motivo da negativa do governo: Jin foi longe demais quando demonstrou ser a favor dos direitos LGBTQIA+, ao final de uma apresentação em janeiro. Por conta disso, segundo a opinião pública virtual, o veto à sua apresentação seria justificado e justo. Houve quem argumentasse um pouco além: em junho de 2023, Jin gravou uma mensagem em favor dos direitos LGBTQIA+ a pedido da embaixada dos Estados Unidos em Guangzhou – assim, além de defender direitos que iriam contra o posicionamento oficial do governo nacional, ela ainda seria uma promotora de valores ocidentais. Jin Xing, que passou por cirurgias de redesignação sexual em 1995, é considerada a primeira celebridade trans da China.
Machosfera. A vitória de Trump está intimamente ligada ao conservadorismo entre homens nos EUA – mas não só lá. Os little pinks, jovens chineses patriotas e extremamente online que frequentemente também organizam ataques direcionados a perfis dos quais discordam (como da comediante Yang Li), já tem um fascínio por Trump desde 2016. Dessa vez no Weibo, homens chineses nacionalistas e conservadores celebraram a derrota de Harris e comemoraram ver uma mulher perder a eleição e não incentivar as feministas chinesas, conta o China Digital Times. Outro aspecto importante para eles foi o potencial de Trump abrir espaço para Pequim tomar Taiwan, ao se distanciar da ilha.
Pastel de nata: a Radii compilou boas expressões contemporâneas da juventude chinesa. Tem frase motivacional, diagnóstico de personalidade e mais.
Cultura: este texto da Sixth Tone conta sobre um livro do início do século XX publicado pelo jesuíta francês Henri Doré sobre folclore e cultura tradicional chinesa. A obra – uma série de 18 volumes – continha uma extensa bibliografia, belas ilustrações de artistas chineses e percepções do francês. Diversas das tradições mencionadas sumiram com o tempo e alguns dos poucos registros estão no livro.
Música: está procurando descobrir novos sons no mundinho hip hop da China? Bom, aqui tem uma lista exatamente para você.
Espírito de bêbado: encontrar sentido no fundo de um copo ganhou outra conotação com os bares com temática do I Ching.
Considerando o resultado da eleição nos EUA, é uma boa hora para resgatar este vídeo sobre uma ópera em cantonês sobre Donald Trump.