Foto oficial do encontro do G20 no Rio, em cores. Todos os líderes posam de mãos dadas, erguidas para o alto.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Edição 326 – Xi vem ao Brasil e sai com 37 acordos

Política e economia

Chegou ao fim a saga dos “47 de Hong Kong”. Na última terça-feira (19), a alta corte da região administrativa especial anunciou as sentenças dos 45 ativistas e políticos condenados por conspiração para cometer subversão (outros dois foram absolvidos em maio). Detidos desde 2021 por organizar primárias para definir seus candidatos a vagas no Conselho Legislativo nas eleições de 2019, eles receberam sentenças de 10 anos a 4 anos e 2 meses, com as penas mais graves conferidas a quem “não tem bom caráter” (responde por outros crimes relacionados aos protestos daquele ano), aos considerados organizadores da primária e, majoritariamente, a quem não se declarou culpado. O desfecho do maior caso julgado sob a Lei de Segurança Nacional (LSN) foi recebido com protestos, mas também alívio: a pena máxima possível era de prisão perpétua. O secretário de segurança Chris Tang, no entanto, declarou que o governo ainda vai revisar as sentenças para garantir que elas correspondem à gravidade do crime cometido. 

E a Lei de Segurança Nacional não descansa. No dia seguinte à condenação dos 45 ativistas, Jimmy Lai deu seu primeiro testemunho contra as acusações de conspiração com forças estrangeiras (sob a LSN) e de publicar materiais sediciosos (sob uma lei do período colonial britânico). Segundo Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, o dono do extinto jornal Apple Daily seria “o maior conspirador e participante do caos anti-China em Hong Kong”. Como lembra o jornal Hong Kong Free Press, o julgamento atual deveria ter começado em dezembro de 2022, mas foi adiado até janeiro de 2024 enquanto se discutia a escolha de advogado de Lai, um britânico, justificado pelo fato de que o réu tem dupla cidadania; na ocasião, Pequim definiu que estrangeiros não poderiam se envolver em casos da LSN. Lai está preso há quatro anos em solitária por outros crimes relacionados aos protestos de 2019 e pode ser condenado à prisão perpétua.

Internacional

Tour Xi América do Sul 2024. Na última sexta-feira (15), o líder chinês chegou em terras latinoamericanas para o encontro da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC), no qual 21 nações se reuniram – logo após o resultado da eleição de Trump. Além de Xi Jinping e Dina Boluarte, presidente do país-sede, Peru, também estiveram presentes o estadunidense Joe Biden, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e o primeiro-ministro do Japão Shigeru Ishiba. No sábado (16), Xi e Biden tiveram uma conversa bilateral, sem grandes anúncios, apenas preparando o terreno para a transição de governo, como conta a Foreign Policy. O chinês ofuscou um dos últimos eventos de Biden com a inauguração do megaporto de Chancay, um enorme investimento que vai afetar o Brasil  – e que definitivamente afetou a população local.

Depois do encontro da cúpula da APEC, Biden, Xi e outros vieram ao Brasil para a reunião final do G20, no Rio de Janeiro. Em seguida, Biden não fez visita a Brasília (e Lula), preferindo ir à Amazônia antes de retornar para Washington; também ficou de fora da foto oficial do G20, que tinha os Brics ao centro, em um momento diplomático “chato”. Uma nova fotografia foi tirada mais tarde, incluindo também Trudeau e a italiana Giorgia Meloni, que ficaram de fora do registro original por atraso. Ainda no Rio, o líder chinês anunciou uma iniciativa de ciência aberta em parceria com o Brasil, União Africana e a África do Sul. 

Na quarta (20), a visita da grandiosa comitiva de Estado chinesa foi encerrada em Brasília, com um encontro com o presidente Lula no Palácio da Alvorada (visto ser feriado) e uma janta no Palácio Itamaraty. Apesar dos 37 acordos assinados cobrindo uma ampla gama de temas, o Brasil não entrou formalmente na Iniciativa Cinturão e Rota. No entanto, grupos de trabalho foram criados para analisar projetos potenciais, como conta o South China Morning Post. A nova fase da relação Brasil-China, de aprofundamento estratégico e ampliação de áreas de parceria, ganhou até um artigo assinado por Xi Jinping na Folha de S. Paulo, e almeja uma “comunidade com futuro compartilhado, mais justo e mais sustentável”. O texto também foi publicado na Xinhua.

Álcool e direção não combinam. A relação comercial entre a União Europeia e a China está em um momento de alta tensão. Recentemente, a UE aprovou tarifas de até 35% sobre veículos elétricos chineses, alegando concorrência desleal causada por subsídios governamentais. Pequim respondeu com tarifas sobre o conhaque francês, acusando a Europa de práticas de dumping. Essa retaliação é vista como um recado direto a Paris, que liderou o lobby europeu contra os VEs chineses. Enquanto isso, líderes europeus tentam equilibrar estratégia e diplomacia: Emmanuel Macron anunciou o envio de Michel Barnier à China para negociar uma redução nas tarifas sobre o conhaque, ressaltando a necessidade de “autonomia estratégica” da Europa — uma defesa contra práticas comerciais que enfraquecem indústrias locais. A Comissão Europeia reforça que as tarifas são parte de uma estratégia mais ampla para proteger o mercado europeu.

Menos estudantes da China nos EUA, mais estudantes do mundo na China. Pela primeira vez em 15 anos, a Índia ultrapassou a China como a maior fonte de estudantes internacionais nos Estados Unidos. Durante o ano letivo de 2023-2024, mais de 331 mil indianos estudaram nos EUA, enquanto o número de pupilos chineses baixou para pouco mais de 275 mil. A queda contínua desde 2019 é resultado de restrições mais rígidas para os chineses, impulsionadas pelas preocupações de segurança nacional por parte dos EUA.  Enquanto isso, a China tem reforçado a sua diplomacia educacional no Sul Global: o país tem oferecido mais bolsas e programas robustos para estudantes desses países, colocando-se como uma alternativa prática ao Ocidente. Somado a isso, estima-se que entre 2010 e 2021 quase 20 mil cientistas de ascendência chinesa deixaram os EUA, sendo que 67% deles optaram por seguir carreira na China.

Sociedade

Como os chineses passam o tempo livre? Uma vez a cada década, o Instituto Nacional de Estatísticas da China investiga como a população passa seu tempo livre. Os dados mais recentes coletados através do National Time-Use Survey revelam uma população que está dormindo 44 minutos mais por noite, trabalhando menos e gastando mais tempo conectada – o dobro comparado com 2018. Apesar do aumento no uso da internet, houve também um crescimento no tempo dedicado a exercícios físicos, sinalizando esforços para equilibrar a vida digital com saúde e bem-estar. Uma pesquisa sobre o assunto realizada pelo Instituto Ipsos no Brasil neste ano revelou que por aqui, apesar do desejo de priorizar atividades ao ar livre, esportes e viagens, a realidade é que as telas – celulares, televisão e jogos eletrônicos – ocupam 12% do tempo livre. O que ambos os povos têm em comum: o trabalho doméstico sobrecarrega as mulheres.

Zheng He

Reflexão: este ensaio de Jude Blanchette discute se Xi Jinping é um marxista. Daqueles textos meio longos, para ler com um café do lado.

Can Xue: a sempre forte candidata ao Nobel de Literatura conversou com a tradutora de suas obras para o inglês sobre os desafios desse ofício.

Leia Can Xue: caso ainda não tenha contato com a obra de Can Xue, leia o conto At the Edge of the Marsh publicado de graça na Words Without Borders (em inglês).

 

Depois de um sumiço de 3 anos, a diva ícone dos influenciadores rurais Li Ziqi retornou com um novo vídeo no Weibo – que imediatamente foi visto por 13 milhões de pessoas.

 

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