
Foto de Eric Prouzet via Unsplash.
Edição 343 – Disputa de tarifas reestrutura relações comerciais no mundo
Chegou quem tava faltando. Na quinta-feira (10), o Ministério dos Recursos Naturais da China listou um tipo de quartzo de alta pureza como um mineral apto para ser explorado comercialmente. Encontrado nas províncias de Henan e Xinjiang há cinco anos, o minério é insumo fundamental para a produção de silício, base para produtos de alta tecnologia, como semicondutores e painéis solares. Com isso, a China pode desafiar a dominância dos EUA no provimento de quartzo de alta pureza — os norte-americanos são responsáveis por 80% da oferta global do minério, segundo a Bloomberg. A descoberta e a liberação para exploração do minério no país asiático reforça a ideia de que a China estaria se tornando o novo Vale do Silício — hipótese também abordada por Atila Iamarino neste vídeo.
No final de março, três pessoas morreram em consequência de um acidente com um veículo elétrico autônomo da Xiaomi em Tongling, na província de Anhui. O sedan SU7 trafegava a 116 km/h quando atingiu uma coluna de concreto na estrada. Em um pronunciamento público, a Xiaomi se comprometeu a colaborar com as investigações, afirmando que o carro estava em modo de direção assistida e teria alertado o motorista, que acionou os freios segundos antes da colisão. Um policial que testemunhou o acidente teria afirmado ao pai de uma das vítimas que o veículo pegou fogo após a colisão e travou as portas. O jornal South China Morning Post entrevistou especialistas que ressaltaram a necessidade de educar o público sobre os limites das tecnologias de direção autônoma e destacou que as regulações chinesas não autorizam que o condutor tire as mãos do volante ao usar essa tecnologia.
Vai e vem e vai e vem. Depois do tarifaço de Trump da semana passada, a mídia chinesa segue indignada com a situação e o People’s Daily publicou um longo comentário na segunda-feira (07), conta (e traduz) Bill Bishop. Pequim se recusou a negociar com os EUA até o prazo de terça-feira (08) e a Casa Branca afirmou que as tarifas de 104% sobre bens importados da China começariam a ser cobradas na quarta-feira (09). A retaliação veio na própria quarta, com aumento das tarifas aos EUA totalizando 84%, com a adição de 12 empresas do país norte-americano à lista de controle de exportações e seis como não-confiáveis, conta a Caixin. E a contracontratarifa veio no mesmo dia: os EUA aumentaram para 125% com efeito imediato, enquanto deram uma pausa de 90 dias para países que não retaliaram e que foram tentar negociar. Analistas entrevistados pelo South China Morning Post estão pessimistas e acham que a guerra comercial deve durar ainda alguns bons meses – ainda que Xi Jinping esteja otimista.
Mais que amigas, friends? O premiê Li Qiang conversou com a presidente da Comissão Europeia Ursula Von Der Leyen na mesma terça-feira (08) e a guerra tarifária foi pauta garantida, com promessas de ambos de garantirem fluxos comerciais. Eles também marcaram a data para a Cúpula UE-China de alto nível, que acontecerá em julho, celebrando 50 anos da relação entre os dois. O tarifaço também colocou China, Japão e Coreia do Sul na mesma mesa para conversar sobre aumentar o uso do yuan em transações comerciais.
Ao mesmo tempo, a venda de dois portos no Panamá pela honconguense CK Hutchison, que aconteceria na semana retrasada, não aconteceu. A empresa estava negociando com um consórcio dos EUA, mas a agência reguladora chinesa de competitividade decidiu reavaliar o caso após Pequim acusar a CK Hutchison de ceder ao discurso de Trump.
A divulgação de que dois chineses estariam lutando com os russos contra a Ucrânia chacoalhou o tabuleiro internacional esta semana. Desde que o conflito começou há três anos, Pequim tem tentando afirmar neutralidade – embora nos bastidores e em ações diretas tenha se mantido aliada de Moscou. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, publicou nas redes sociais a descoberta de dois combatentes chineses na linha de frente e, sem divulgar mais detalhes, afirmou que haveria “muitos outros cidadãos” do país asiático combatendo com os russos. O Guardian publicou reportagem sobre anúncios dos russos recrutando mercenários chineses e mencionou a possibilidade de que mais de 150 pessoas tenham sido contratadas. Ainda não está claro que os chineses teriam sido contratados pelo Exército Russo ou integrariam forças mercenárias, mas de todo modo não parece que estariam atuando como representantes do governo chinês. A China imediatamente reagiu e, de forma indireta, chamou as declarações de Zelensky de “irresponsáveis”.
Meituan no Brasil? O NeoFeed, site brasileiro de notícias sobre tecnologia, revelou que executivos da gigante de entregas chinesa estão em negociação para começar atuar no Brasil até o início de 2026. A movimentação não é uma surpresa: a marca Meituan é registrada por aqui desde 2020 e os executivos do Ifood, atual líder desse tipo de serviço, estão mais do que atentos ao movimento da futura concorrente: estima-se que a controladora do iFood tenha 4% de participação na Meituan. Em comum, as duas também têm experiências com os breques dos apps – ao longo de 2023, a chinesa enfrentou greves de entregadores em diversas cidades.
A tradição de dinheiro de papel segundo a Gen Z. Quem já passou um dia dos mortos na China já se deparou com imagens de pessoas queimando papeis nas cores e formatos de itens preciosos. Os mais tradicionais são papeizinhos dourados dobrados em formato de barras de ouro. Segundo a tradição, quando alguém do mundo dos vivos queima esses papeis, um equivalente é mandado para o mundo dos mortos. Ou seja, seria uma forma de enviar riquezas e outras coisas para seus antepassados e entes queridos que já se foram eque eles não têm acesso do além. A Sixth Tone fez um texto interessante com Ah Yue, cujo trabalho é customizar esses itens que serão queimados no dia dos mortos na China. Yue conta que seu estúdio em Guangzhou tem atendido cada vez mais pessoas da geração Z e ele revela o que tem aparecido entre os pedidos: consoles de videogame, halteres, telefones celulares, e carros de luxo. Vale a pena ler e mergulhar no mundo que o pessoal da geração Z está achando prioritário mandar para quem já se foi.
Pandemia: em março, completamos 4 anos do anúncio da pandemia de Covid-19 – quando muita coisa mudou e muita gente morreu. Para refletir sobre o luto e raiva das mortes, frustração com a política de Covid Zero e a solidão de como lidar com o pós-pandemia, a jornalista Gan Ye escreveu esta reflexão.
O velho no novo: esse texto explora a Sichuan do presente para falar sobre a engenharia chinesa antiga.
Mudou a vibe: o hype em torno do DeepSeek não para, mas vale ler esta análise no ChinaTalk sobre como o modelo de IA chinês alavancou (mais ainda) o nacionalismo no país.
Moda: se sinta extremamente não estilosa (o) depois de ver as roupas criadas por Samuel Gui Yang.
Se você não conhece o siu mai, o bolinho de carne típico da cozinha do Cantão, vai conhecer agora: este vídeo do SCMP apresenta depoimentos de honconguenses que são literalmente fãs de carteirinha do prato.