Fotografia em cores de bebê chinesa sendo erguida pela mãe. Ao fundo, árvores, e ao redor delas há bolhas de sabão.

Foto de Rui Xu via Unsplash

Edição 239 – Com declínio da população, Sichuan facilita registros de crianças

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Chegadas e partidas em Hong Kong. Mas poucas chegadas, como mostra o South China Morning Post: os viajantes da China continental preferiram ir a Macau para o Ano Novo Lunar, frustrando o comércio e os restaurantes de Hong Kong. Isso é um problema: antes da pandemia, o turismo era responsável por 3,6% do PIB local. Outro setor importante para a região portuária teve um recorde negativo: as exportações no mês de dezembro atingiram os níveis mais baixos desde 1950, caindo 28,9% em comparação com 2021, uma performance pior do que a esperada (que já não era boa). Por outro lado, a saída de pessoas foi um sucesso (indesejado): locais aproveitaram o fim das restrições para viajar durante as comemorações do ano do coelho; e quem emigrou para os EUA ganhou extensão de mais dois anos no visto. Esse anúncio incomodou os líderes locais, que já haviam recebido um aviso (considerado neutro) durante a cerimônia anual de previsão da sorte da cidade: neste ano do coelho, eles devem ouvir o povo de forma mais inclusiva.

Estímulos regionais. Numa luta para reverter os impactos econômicos provocados pela Covid-19, os governos locais da China estão adotando mecanismos para impulsionar suas economias de forma rápida após a reabertura do país. O SCMP conta como  administrações regionais estão lidando com essas questões. No caso de Shanghai, o foco é buscar acadêmicos, pesquisadores e doutorandos. Além disso, a cidade anunciou 32 medidas de alívio para companhias em dificuldades.  Zhejiang, onde estão sediadas empresas de tecnologia como o grupo Alibaba, enviou comunicado para empresas dando boas-vindas ao capital estrangeiro. Em 18 de janeiro, Jiangsu anunciou um pacote de 42 medidas, incluindo redução de impostos. 

O fim do crackdown em tecnologia? Essa é uma das pautas da semana. Após mais de um ano de uma série de mudanças regulatórias para as gigantes (e nem tão gigantes) de tecnologia na China, o ritmo parecia ter desacelerado um pouco – mas não necessariamente. Dois novos textos discutem esse tema: para o Nikkei Asia, Angela Zhang escreveu sobre os sinais atuais, como a liberação do IPO da Didi e a aquisição de ações do Alibaba por parte do órgão regulatório. O segundo texto é uma discussão entre oito especialistas para o DigiChina (da Universidade de Stanford), no qual nem todo mundo concorda sobre o que vem por aí – exceto na garantia do peso de Pequim no setor. Aproveitando o embalo: para o ChinaAI, o Jeffrey Ding traduziu do mandarim da Caijing Elaw uma lista com os 10 principais eventos ou acontecimentos na área de governança da internet na China em 2022. Estão lá a divulgação de IPs, a multa da Didi e da CNKI, e mais. 

De fato, dois novos livros podem trazer algumas reflexões. A obra de Ning Ken, Zhong Guan Village: Tales from the Heart of China’s Silicon Valley, conta sobre como o bairro de Zhongguancun em Pequim se tornou a resposta chinesa para o desenvolvimento de startups e empresas de big tech. A Wired publicou uma matéria sobre o livro e a região de Zhongguancun. Já o livro The Labor of Reinvention de Lin Zhang foca em três tipos de empreendedores (do Vale do Silício chinês, rurais e de artigos de luxo), e seus papel especialmente na economia digital. Ela foi entrevistada para o MIT Technology Review.

O meio ambiente em foco. Se as retrospectivas de 2022 já estão minguando, agora é a hora de olhar para o futuro. O que esperar da China no meio ambiente em 2023? Essa é a pergunta que esta matéria do Diálogo Chino tenta responder. São consideradas questões como emissão de carbono, além das relações com os EUA, e com países da América Latina e da África. Dá para emendar essa leitura com o artigo acadêmico de Chuxuan Liu e Jeremy Lee Wallace sobre a falta de discussão pública no Weibo acerca de temas ambientais.  

A China se tornou a segunda maior exportadora de carros em 2022. Com um aumento de 54,4% em relação ao ano anterior, exportou 3,11 milhões de veículos, ultrapassando a Alemanha. Segundo dados da associação dos fabricantes, apurados pelo SCMP, essas exportações chegam a 11,5% da produção nacional, que é de 27 milhões de veículos. Nesse ritmo, a expectativa é que logo a China ultrapasse o líder Japão. Já a hegemonia no mercado de veículos elétricos (VE) deve se expandir: além da chinesa BYD ser a maior vendedora de carros elétricos do mundo, projeções indicam que até 2031 a China deve liderar na capacidade de produção de baterias para carros na Europa, o segundo maior mercado para VE. É uma vantagem estratégica: como conta o Financial Times, a bateria equivale a 40% do preço final dos carros. Se quiser se aprofundar nesse mercado — e em como ele se relaciona com as questões globais — passe um cafezinho para acompanhar o debate trazido por esta reportagem da Bloomberg. O tema também aparece nessa matéria (com excelentes fotografias) da Rest of World sobre o impacto da mineração de níquel na Indonésia, como parte da cadeia de produção de veículos elétricos chineses. O material é usado na produção de baterias.

Amigos das terras raras. Um aspecto importante da liderança chinesa no setor de baterias está no processamento de metais preciosos, como argumenta o The China Story Project nesta análise sobre o papel do país no setor. A China domina 85% desse processamento no mundo, com destaque para sua atuação no “triângulo do lítio” – Argentina, Bolívia e Chile –, como explica o El Economista. Os investimentos só crescem: no final de janeiro, a Yacimientos del Litio Bolivianos (YLB) assinou um acordo com o consórcio chinês CBC para a extração, industrialização e comercialização de lítio na Bolívia, com a meta de que no primeiro trimestre de 2025 o país latinoamericano exporte baterias feitas com a matéria prima nacional.

E a briga dos EUA com o TikTok continua. O CEO do aplicativo, Shou Zi Chew, fará um depoimento ao Congresso dos Estados Unidos, onde deverá ser questionado por parlamentares estadunidenses sobre questões envolvendo o uso do app e a privacidade de dados. Essa discussão não vem de hoje, mas sim dos tempos de Donald Trump à frente da Casa Branca, mas nem a eleição de Joe Biden mudou isso. Para entender melhor por que há essa desconfiança sobre o app chinês, vale ler este texto do Manual do Usuário.

Um é pouco, dois é bom e três não é demais. Em uma nova tentativa de estimular o aumento da população, a província de Sichuan — famosa por sua culinária apimentada — decidiu dar mais um passo: acabou com a exigência de que os pais precisem ser casados para registrar uma criança e permitiu que eles tenham quantos filhos quiserem, acima da regra nacional de 3 por família. Isso acontece logo depois de estatísticas governamentais confirmarem que a população chinesa decresceu após seis décadas de alta. De acordo com a SixthTone, as regras passam a valer a partir de 15 de fevereiro e ficarão em vigor por 5 anos. Será que a tendência vai se espalhar em outras províncias?

Passaporte livre para o amor. Em mais um avanço em relação aos direitos de casais homoafetivos, Taiwan agora reconhecerá casamento transnacional. Este é um passo importante já que, quando permitiu que pessoas do mesmo sexo se casassem, em 2019, a ilha não incluía o caso de a união envolver um estrangeiro proveniente de região em que não há reconhecimento legal. Vale ressaltar que o termo “transnacional” não incluiu união entre taiwaneses e chineses continentais, já que legalmente trata-se de um mesmo país. Porém, há espaço para união de nacionais com pessoas provenientes de Hong Kong e Macau, por exemplo. 

Como tudo caminha muito devagar, nem tudo são vitórias. E a divulgação de uma derrota na Justiça, divulgada em janeiro, mostra como a luta da comunidade LGBTQIA+ na China (e no mundo) ainda é grande. O The Diplomat mostra uma derrota de um comissário após decisão de um tribunal em Shenzhen em março de 2022. Ex-funcionário da maior companhia aérea do mundo, a estatal China Southern Airlines, Chai Cheng processou a empresa por ter sido exposto publicamente e perdido seu emprego. A cia aérea não renovou seu contrato após um vazamento de um vídeo em 2019, no qual Chai aparece beijando um piloto da mesma companhia.  O comissário foi alvo de preconceito e calúnia quando uma mulher apareceu se passando por esposa do piloto, ainda que imagens adicionais mostrassem que eles tiveram uma relação consensual. O caso expos a vida pessoal do comissário, e do suposto “trisal”, levando o assunto a ser um dos mais comentados nas redes.

reforma electoral en Hong Kong

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Sobe o som: o músico experimental Li Daiguo lançou um novo álbum, o Pilgrimage to the realm of deep baby sleep, que pode ser escutado nesta resenha da NeoCha.

Culinária: o Ano Novo Lunar já passou, mas vale conferir esta matéria da CNN sobre o longo macarrão da longevidade, um dos pratos mais consumidos na virada.

Cinema: em época de Oscar, vale conferir a lista de oito filmes chineses notáveis que foram lançados em 2022. Detalhe: notável não significa bom.

Livros pros cinéfilos: para a newsletter The Chinese Cinema, Sean Gilman fez uma lista de livros e sites para quem quer mergulhar nesse universo cultural de cinema da China continental, Hong Kong e Taiwan. O projeto tem um acervo grande de críticas e ensaios.

Imagem de fundo vermelho com texto em branco. Caracteres chineses cujo pinyin é 阳没兔气 (yáng méi tù qì).
阳没兔气 (yáng méi tù qì) — Sem covid e me sentindo muito bem no Ano do Coelho. Dica do The China Project.
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