Edição 241 – O terceiro mandato de Xi e a relação com Taiwan

Qual será a política de Xi para Taiwan em 2023? É o que este texto do The Diplomat debate. Um ponto explorado é a nova posição de Wang Huning, vista como possível sinal de mudança da política de Pequim em direção ao estreito. Wang é teórico político do PCCh há três gerações e foi nomeado para o número quatro do comitê permanente do Politburo. Isso significa que ele vai ser consultor da Xi nas Duas Sessões, em março, quando uma nova abordagem para Taiwan pode sair.

O South China Morning Post fala sobre o aceno de Pequim para a reabertura completa das conexões marítimas com Taiwan, fechadas desde 2020 no cenário pandêmico. Do ponto de vista do continente, a reunificação pacífica segue oficialmente uma meta. O China Talk faz um texto com formas a se evitar o conflito. Para se aprofundar no assunto sobre a política de “um país, dois sistemas”, o Carnegie Endowment traz uma análise sobre as diferentes abordagens a seu respeito.

Hong Kong de volta à normalidade? A segunda-feira 6 de fevereiro marcou a retomada de fronteiras totalmente reabertas entre Hong Kong e a China continental — sem limites de viajantes nem exigência de testes, 190 mil pessoas fizeram as travessias entre territórios. O último domingo trouxe ainda outro marco: 37 mil corredores se juntaram na largada da maratona da cidade, inaugurando o calendário de grandes eventos pós-redução das restrições impostas pela pandemia. Os participantes da prova receberam material promocional antiterrorismo na forma de uma bolsa com os dizeres “corra, esconda-se e denuncie” e a polícia pediu que uma bandeira de orgulho LGBTQIA+ fosse removida do percurso. Em 2021, última vez em que a prova havia sido realizada e a primeira desde a aprovação da Lei de Segurança Nacional, diversos corredores foram impedidos de participar por carregarem algum tipo de mensagem “política”. A definição desse tipo de mensagem não é clara. Nesta semana, um homem foi preso por grafitar o caractere chinês de “liberdade” em 130 locais diferentes da cidade, sob risco de prisão por até 10 anos.

O futuro é agora. Se a ideia de filmes futuristas sobre veículos guiados automaticamente te assusta, leia essa novidade: a cidade de Wuxi, na província de Jiangsu, será a primeira da China a ter uma regulamentação para a Internet de Veículos. A Sixth Tone mostra que a primeira lei que regulamenta o assunto terá validade a partir de 1º de março. Em janeiro de 2021, Wuxi havia inaugurado o projeto piloto de Internet of Vehicles (IoV) com apoio da Huawei.

E parece que o futuro veio a galope. Pequim, além de ser a capital administrativa, está sendo considerada a capital chinesa da inteligência artificial (IA), liderando com o maior número de empresas do ramo (29% do total), como conta o SCMP. Na segunda-feira (13), o Escritório Municipal de Economia e Tecnologia da Informação de Pequim publicou um white paper para incentivar o desenvolvimento de IA para carros autônomos, cidades inteligentes e de modelos parecidos com o ChatGPT. Zeyi Yang escreveu para o MIT Technology Review sobre a obsessão com essa tecnologia e a corrida para criar a sua própria versão, como o Baidu anunciou. Importante lembrar que o ChatGPT não tem atuação na China – e que a versão em mandarim do modelo deixa a desejar.

Exportação para China cresce, mas fica concentrada. Reportagem do Valor Econômico mostra como as exportações brasileiras cresceram nos últimos dez anos até 2021. Mas isso não é motivo para celebração se for observado que há uma concentração em produtos primários. Vale ler com calma o texto que traz dados apresentados em tabelas por produtos e estados brasileiros.

Por falar em relação Brasil-China, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva quer mudanças no Banco dos Brics, atualmente presidido pelo Brasil. Por meio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo decidiu trocar o comando do banco de fomento, atualmente ocupado por Marcos Troyjo. Para o posto, Lula indicou a ex-presidente Dilma Rousseff, que vai se mudar para Shanghai, sede do banco.

A China mandou apoio humanitário para a Turquia e a Síria após os devastadores terremotos que deixaram mais de 36 mil mortos. Foram enviados médicos e equipes de resgate da China continental e de Hong Kong, com mais de 50 toneladas de suprimentos, incluindo alimentos e barracas. O país asiático também prometeu cerca de 6 milhões de dólares em apoio emergencial para a Turquia e 4,4 milhões para a Síria, conta a Reuters. Além disso, o representante chinês na ONU, Zhang Jun, pediu que os países do Conselho de Segurança removam as sanções atualmente impostas ao governo sírio, pois estariam impedindo o resgate de crianças vítimas do terremoto. A China é um dos países mais vocais na crítica ao uso de sanções unilaterais.

Ebrahim Raisi, presidente do Irã, chegou a Pequim com uma grande delegação para uma visita de três dias na terça-feira (14). No primeiro dia, Raisi encontrou-se com Xi Jinping, ocasião em que o líder chinês aproveitou para declarar seu apoio às negociações para a retomada do acordo nuclear com o Irã. Sem citar os EUA, ambos criticaram “forças estrangeiras” que ameaçam a soberania dos dois países. O presidente iraniano também reforçou a participação do seu país na Iniciativa Cinturão e Rota. Além das declarações, foram assinados acordos em diversas áreas, do comércio à cooperação esportiva na terça-feira. Não houve novos anúncios até o fechamento desta edição, mas siga nosso perfil no Twitter para atualizações.

A crise do balão segue. A relação entre Estados Unidos e China está tão frágil que até mesmo a descoberta de OVNIs em espaço aéreo estadunidense é tema sensível. Após a identificação de um balão chinês sobrevoando Montana, o estado de alerta por parte de Washington segue. Este texto do The Wire fala sobre como o tema tornou-se uma nova obsessão. Outros três objetos foram identificados e abatidos, mas não há qualquer evidência até aqui de relação com a China. Já Pequim afirmou que os estadunidenses enviaram ao menos 10 balões ilegalmente para o espaço aéreo chinês, conta o SCMP. A crise bilateral do balão é tema deste artigo no Politico. Até aqui, a única coisa de concreto é que a crise cancelou a visita do Secretário de Estado, Antony Blinken, a Pequim. A Reuters conta agora que ele deve se reunir com seu contraparte chinês, Wang Yi, em Munique, na Alemanha.

Uma vitória para os direitos de pessoas trans: o supremo tribunal de Hong Kong decidiu, no começo do mês (6), que cirurgias de afirmação de gênero não são uma obrigatoriedade para a retificação de documentos. O julgamento é resultado de uma batalha iniciada há quatro anos por Henry Tse, homem trans que teve seu primeiro pedido de retificação negado em 2017. Após encontrar apoio entre outras pessoas trans, Tse fundou a ONG Transgender Equality Hong Kong e levou sua causa a todas as instâncias judiciais possíveis até alcançar o supremo. Na expectativa pelo resultado do julgamento, o SCMP fez uma entrevista com Tse e outros ativistas pela causa.

Jovens problemáticos. A Sixth Tone publicou uma longa narrativa sobre jovens “flutuantes” — filhos de trabalhadores imigrantes que se dividem entre uma vida na cidade grande e outra no interior do país. Acompanhando a história de alguns desses jovens, a reportagem explora como eles são prejudicados academicamente e acabam estigmatizados por professores, o que afeta seu desempenho na escola e na vida após a formatura. Segundo a organização civil China Development Brief, com base em dados do censo nacional de 2020, 130 milhões de crianças chinesas têm pais que migram para trabalhar. Embora desde 2016 haja diretrizes para apoiar aquelas que ficam em suas cidades natais, não há proteção suficiente para as que acompanham sua família.

Reformar a seguridade social para sair da crise? No Brasil a gente conhece bem essa história e agora parece ser a vez da China atravessar um debate semelhante. As autoridades de Wuhan decidiram implementar reformas no seguro-saúde público local para conter gastos e acabaram gerando protestos de pessoas aposentadas que tiveram benefícios cortados. Nas redes sociais, continua o debate, que comentamos na semana passada, sobre o aumento da idade mínima de aposentadoria. Aventa-se que a idade será aumentada para 65 anos para homens e mulheres e a Caixin publicou infográficos sobre os possíveis impactos dessa medida. Mas tem uma luz no horizonte: na discussão sobre a crise econômica chinesa, o Fundo Monetário Internacional (FMI) sugeriu, entre outras propostas, que Pequim fortaleça a proteção social e o sistema de saúde para fazer com que as pessoas precisem poupar menos. Ao que tudo indica, segundo matéria do Asia Times, o governo Xi já está preparando um pacote de reformas nesse sentido. Com essas medidas, espera-se que os chineses comecem a comprar mais e impulsionem a economia do país.

A cidade de Ningbo decidiu tentar impulsionar a economia com a sua própria proposta: colocou cinco linhas do metrô de graça após às 20h, para incentivar a circulação e a economia noturna.

Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.

Quadrinhos: a artista e escritora Angie Kang faz uma bela reflexão sobre os limites do uso da culinária como recurso narrativo para discutir a diáspora chinesa nos EUA.

Limites da arte: o The China Project trouxe o caso de filmes chineses que, apesar de prontos, provavelmente nunca serão vistos pelo grande público por causa da censura, tanto por causa do conteúdo quanto por questões relacionadas ao elenco e a circunstâncias de exibição.

Moda: a Vogue britânica publicou uma matéria trazendo sete estilistas chineses em ascensão para ficar de olho.

Arquitetura: uma biblioteca que lembra uma floresta de gingko, um museu no formato do símbolo do yin-yang e um centro de eventos ao ar livre que se camufla na paisagem local. Confira na Dezeen esses e outros projetos arquitetônicos ousados que devem ficar prontos ainda este ano na China.

Inusitado: e a embaixada dos EUA na China que lançou um pacote de stickers estrelado por uma aguiazinha pra usar no WeChat?

Telinha: quer fugir dos blocos? A dica é o drama chinês Meet Yourself, com a atriz Liu Yifei (de Mulan), que combina aquele clássico da pessoa em crise que sai da cidade grande e volta para a sua cidade natal e descobre coisas sobre si. O cenário é a bela, e certamente meio hipster, província de Yunnan.

Em 2018, a escola de samba carioca Império Serrano desfilava “O Império do Samba na Rota da Seda da China”.