Fotografia em cores de rua em Shanghai. Em foco, um policial de costas, HPFJ escrito em seu colete. Ao fundo, carros em movimento e luminosos de neon.

Foto de Taha via Unsplash

Edição 253 – Gerar notícias falsas com ChatGPT dá prisão

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

A passo lento. A recuperação da economia chinesa pós-Covid mostrou ter perdido força após a divulgação de dados sobre a atividade industrial e vendas no varejo. Como mostra a Reuters, essas atividades econômicas ficaram abaixo do previsto, indicando uma perda na força do ritmo de recuperação. Ainda que decepcionantes, os números não podem ser vistos como ruins como um todo. A atividade industrial cresceu 5,6% em abril em relação ao mesmo mês do ano anterior. O ritmo de alta, contudo, foi maior do que o visto em março, de 3,9%. As expectativas, porém, giravam em torno de um aumento de 10,9%, sobretudo levando em conta que abril de 2022 foi um período de atividade fraca, em meio aos severos lockdowns em cidades importantes do país como Shanghai. As vendas no varejo, indicador de consumo, tiveram alta de 18,4%, acima de 10,6% de março, mas aquém da expectativa de crescimento de 21%.

Deu ruim. Com frequência, notícias sobre carros elétricos e a Tesla aparecem na China. Desta vez, o órgão regulador do país anunciou um recall de mais de 1 milhão de automóveis da fabricante que pertence a Elon Musk. De acordo com o anúncio, a chamada para verificação dos carros se deve a possíveis riscos de segurança e terá início em 29 de maio. Serão recolhidos veículos produzidos entre 12 de janeiro de 2019 e 24 de abril de 2024. De acordo com a CNN, o volume de automóveis afetados com o procedimento é quase equivalente ao total de vendas do produto na China continental ao longo desses quatro anos: entre 2019 e março de 2023, a Tesla vendeu cerca de 1,1 milhão de carros no país.

Modernização militar. O Ministério da Defesa da China deve relaxar os requisitos físicos para o recrutamento de oficiais do exército. Conforme matéria do South China Morning Post, o afrouxamento das exigências deve facilitar a aquisição de profissionais do campo de alta tecnologia e deve ser aplicado tanto para soldados buscando promoção quanto para alunos recém-formados da universidade. Mas uma precondição é mantida: tem que aguentar ver sangue, independentemente se for uma função de combate ou não. Ainda no âmbito da modernização militar, a guerra da Ucrânia está fazendo com que as forças armadas chinesas recalculem sua estratégia para que haja maior inclusão de capacidades não convencionais, como a inteligência artificial.

Agora vai? Na esteira do telefonema entre Xi e Zelensky e do tour de Qin Gang pela Europa, a China enviou um representante de alto nível para a região a fim de discutir uma solução política para a guerra na Ucrânia. Com uma viagem que começou em Kiev e terminará em Moscou, Li Hui, atual encarregado especial para assuntos eurasianos e ex-embaixador na Rússia, também passará por Polônia, França e Alemanha para tentar negociar a paz. Li é fluente em russo e é o membro do governo chinês de mais alto nível a ir à Ucrânia desde sua invasão pela Rússia. Sua passagem por Kiev oficialmente terminou nesta quarta-feira (17), mas, até o fechamento desta edição, o governo chinês não deu maiores informações.

E dê-lhe diplomacia. Wang Yi, diretor da Comissão de Relações Exteriores do PCCh e ex-ministro da pasta, reuniu-se com Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional dos EUA, em Viena na semana passada. O encontro durou dois dias, e foram mais de 8 horas de conversa, com ambos representantes procurando dirimir tensões e manter abertos os canais de comunicação, inclusive com o reagendamento da visita de Blinken a Pequim, cancelada por causa do incidente dos balões em fevereiro. Aliás, essa foi a primeira reunião de alto nível entre China e EUA desde o encontro de Xi e Biden em Bali em novembro. No contexto da reunião entre Wang e Sullivan, o People’s Daily publicou uma pertinente crítica à expressão “ordem internacional baseada em regras”, que vem sendo bastante utilizada pelos EUA em seus documentos e pronunciamentos oficiais no lugar de “direito internacional”.

A partir da disputa comercial e do recrudescimento das relações entre China e EUA, Yan Xuetong, um dos mais renomados acadêmicos chineses de relações internacionais, fez uma análise sobre o que esperar para os próximos 10 a 20 anos. Falando para um público composto sobretudo de empresários, Yan destacou a crescente bipolarização entre China e EUA na política global e uma tendência geral de desglobalização. Segundo ele, as empresas chinesas devem repensar suas estratégias de longo prazo para não dependerem da cooperação internacional e da globalização para seu crescimento, porque as tendências negativas devem durar até duas décadas. A Sinification publicou um resumo de sua fala (em inglês).

E a diplomacia não acaba! Esta semana, na quinta-feira (18), Xi Jinping receberá os líderes de Cazaquistão, Tadjiquistão, Uzbequistão, Quirguistão e Turcomenistão na cidade de Xian para um evento de dois dias — coincidindo com a realização do G7 no Japão, que deve tratar das relações com Pequim. A reunião de cúpula China-Ásia Central tem o intuito de aprofundar a cooperação regional, sobretudo através da Iniciativa Cinturão e Rota, e discutir possíveis saídas para a guerra na Ucrânia, conforme o SCMP.

Tudo pelos cliques. Não bastasse ter sido um dos primeiros países a avançar na criação de legislação sobre o uso de inteligência artificial generativa, ao que tudo indica a China é pioneira em realizar uma prisão pelo uso impróprio do ChatGPT. O motivo: usar o programa para criar notícias falsas sobre um acidente de trem que teria resultado em nove mortos. O caso aconteceu em final de abril e se encaixou na legislação já vigente de perturbação da paz pública — que inclui o ciberespaço, explica o The China Project. O rascunho da legislação sobre IA e ferramentas como o ChatGPT ainda está em tramitação. Vale muito a pena ouvir o episódio mais recente do Sinica Podcast sobre toda essa regulação, com Kendra Schaefer e Jeremy Daum. O próprio Daum também fez um fio recente no Twitter sobre a publicação de conteúdo gerado por IA no Douyin (a versão chinesa do TikTok).

Pelo direito de ser mãe solo. A chinesa Teresa Xu se viu no centro do debate sobre direitos reprodutivos na China depois que teve um pedido para congelamento de óvulos negado por um hospital em Pequim por não ser casada. Inconformada com a decisão, ela decidiu recorrer à Justiça em 2019 e hoje seu caso é visto como um exemplo que poderá trazer mudanças ou definições para outras mulheres solteiras que queiram ter filhos. O caso de Xu foi contado em reportagem da Reuters. Mas ela não é um caso isolado. Atualmente, a China continental apenas permite reprodução assistida para mulheres casadas. Há ainda restrições de acesso para seguridade social, saúde e educação para mães solo e seus filhos. Tudo isso vem acontecendo em meio a uma forte crise demográfica no país, que ameaça a economia e pressiona o governo para a flexibilização das regras, não apenas para direitos reprodutivos, mas para condições para criação e educação das crianças, mostra o SCMP. Apesar de muitas restrições, a Sixth Tone conta como têm se espalhado pela China anúncios para barrigas de aluguel, algo que é banido por lá para fins comerciais. A reportagem conta como banheiros femininos — sobretudo em ambientes universitários — têm sido invadidos por propagandas pedindo para que garotas tornem-se barrigas de aluguel.

Cada vez mais difícil. Não é de hoje que contamos aqui as dificuldades que a comunidade LGBTQIA+ enfrenta na China, mas esta semana a luta por direitos sofreu mais um duro golpe com o anúncio do fechamento de um centro de defesa de direitos queer em Pequim. A instituição funcionava desde 2008 e anunciou o encerramento das suas atividades no dia 15 pelo WeChat sem dar muitos detalhes sobre as causas para a interrupção. O Beijing LGBT Center era um dos principais do país e publicou diversos relatórios, inclusive com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

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Fotografia: para o projeto Electronauts, Alex Huanfa Cheng cria fotografias geradas por inteligência artificial para mostrar uma nação sobrecarregada pelo lixo eletrônico (e-waste). A ideia surgiu a partir da observação da realização de descarte desses materiais.

Futuro com tradição: a The Wire fez um texto superinteressante misturando o que tem de mais tradicional na medicina chinesa, a acupuntura, com o expoente mais assustador dos nossos tempos e do “futuro”: a inteligência artificial. Vale conferir.

Connie: o The New York Times fez uma narrativa fascinante sobre a mistura de nomes chineses e estadunidenses a partir da história de Connie Chung, que pensava ter visto na escolha de seu nome um sinal de singularidade e encontrou um grande coletivo.

Acadêmico: artigo de Pedro Txai e Éberson Polita sobre a geopolítica das plataformas digitais e como a China se insere nessa disputa global pelo ciberespaço.

Dica: o cineasta tibetano Pema Tseden faleceu no dia 8 de maio, deixando um legado importante para a sétima arte. A Sixth Tone fez uma lista de cinco filmes do diretor para conferir.

Hora dos bichinhos: durante a realização de estudo sobre a fauna local, a Escola de Silvicultura de Jiangxi capturou em vídeo diversos animais selvagens raros e ameaçados de extinção, entre eles o deslumbrante faisão de pescoço branco.

 

Churrasquinho na rua é o que deixou a pequena cidade industrial de Zibo famosa. Postagens nas redes sociais chinesas elogiando a comida no espetinho levaram a uma onda de visitantes. Teve até festival durante o feriadão do Dia do Trabalhador.

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