Edição 260 – Nova lei vai guiar a política externa chinesa
Empregos verdes, profissionais maduros. A disparada dos empregos verdes ao redor do mundo vem sendo acompanhada de uma taxa significativa de demissões, especialmente em empresas de tecnologia e finanças. Este texto do China Dialogue discute como a decolagem desses empregos está alinhada ao aumento nos cortes de pessoal nas empresas e que, apesar da China ter assumido um papel de liderança na transição para a energia limpa e a sustentabilidade ambiental, a demanda crescente por profissionais qualificados nesse setor ainda é um dos grandes desafios enfrentados pelo país. De quebra, o problema ainda é agravado por um crescente aumento nas taxas de desemprego entre os jovens.
Não em tão ritmo de festa assim. A última semana foi marcada por datas especiais em Hong Kong. As comemorações do 26º aniversário da transferência de soberania de Hong Kong para a China começaram no último sábado (1), sem grandes destaques. John Lee, líder da cidade, completou no mesmo dia o seu primeiro ano de mandato, atingindo 51,5% de aprovação entre a população. Mas a véspera foi a data mais comentada: os 3 anos da Lei de Segurança Nacional foram tema de muitas análises focadas nas mudanças pelas quais passaram as liberdades civis dos honconguenses. Entre prisões e casos de censura, passando pela erradicação mesmo da “resistência branda” à salvaguarda da segurança nacional, a semana agitada culminou em um anúncio feito na segunda-feira (2) pela polícia local.
Com medo pelo resto da vida. Na última segunda-feira (2), a polícia de Hong Kong anunciou um prêmio de 1 milhão de HKD (R$620 mil) para quem contribuir para a captura de 8 foragidos acusados de atentar contra a segurança nacional. Para efeito de comparação, ajudar a localizar procurados por crimes como assassinato e estupro de menores não passa de 400 mil HKD. Os 8 ex-ativistas em questão estão exilados nos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido – países que já se manifestaram contra a perseguição. Segundo a polícia honconguense, todos os meios legais serão utilizados para obter as extradições, embora muito se especule sobre meios alternativos. John Lee declarou na terça-feira (3) que a ideia é que os exilados vivam com medo, pois serão perseguidos pelo resto da vida – e ressaltou que amigos e familiares também podem almejar o prêmio.
A política externa agora é outra? Na última quarta-feira (28), a Assembleia Popular Nacional adotou a nova Lei de Relações Exteriores. Em aspecto gerais, a legislação é responsável por definir a estrutura e as responsabilidades na condução das relações exteriores do país. Ela reforça estratégias e prioridades da área e dá subsídio legal a outras legislações, como a Lei Antissanções Estrangeiras. O pesquisador Moritz Rudolf resumiu os principais pontos da nova lei nesse fio no Twitter, vale dar uma conferida para ter um panorama geral do texto. A Tracking People’s Daily postou uma breve análise, chamando atenção para o reforço da centralidade do PCCh nas diretrizes de política externa e uma maior margem para discricionariedade em questões que envolvam “soberania e interesse nacional” – que se tornaram responsabilidade de instituições privadas e de cidadãos, além de órgãos estatais.
Cooperação científica com América Latina e Caribe. Na semana passada, foi oficialmente inaugurado o Centro de Transferência de Tecnologia China-América Latina e Caribe (China-ALC) na cidade de Dongguan. Esse é o primeiro órgão do tipo de âmbito nacional no país asiático e deve impulsionar inovações e cooperação Sul-Sul. Sua fundação é resultado de anos de deliberações do Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação entre China e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), cuja última edição aconteceu na esteira da inauguração do novo centro em Dongguan.
Mais um capítulo na disputa dos chips. A China vai restringir a exportação de matérias primas necessárias para a fabricação de chips, especialmente gálio e germânio. Segundo comunicado do Ministério do Comércio divulgado na segunda-feira (3), fornecedores desses materiais devem solicitar licenças de exportação às autoridades chinesas já a partir de agosto de 2023. A jornalista Rebecca Choong Wilkins resumiu os pontos de maior interesse neste fio. Como coloca o Asia Times, com a medida, Pequim espera ganhar tempo para aprimorar sua indústria, enquanto empresas estadunidenses, japonesas e europeias lidam com as consequências do fim do fornecimento dos materiais.
De boas. Lembra do balão chinês capturado no espaço aéreo estadunidense, acusado de espionagem e pivô de mais tensão entre os países? No fim das contas, segundo o Pentágono declarou na última quinta-feira (29), ele não coletou dados nos EUA.
Livro de caras. O assunto que dominou os fóruns de discussão da Universidade do Povo neste final de semana foi a descoberta do “RUC IR FACE” (RUC é Renmin University of China, o nome em inglês da instituição), uma plataforma para avaliar a aparência de estudantes da instituição. Soa familiar? Mais do que o site em si (que já estava no ar pelo menos desde 2020), chama atenção o fato dele ter sido criado a partir de dados estudantis roubados da universidade e também o perfil de seu criador: um ex-estudante formado no ano passado, atualmente trabalhando para a Tencent, com passagens pela ByteDance e Huawei. No início desta semana, a universidade anunciou que vai abrir uma investigação sobre o caso e que Ma Zhengyi, o programador, teria sido afastado de seu emprego. A China tem leis bastante rígidas com relação à proteção de dados pessoais e a criação de imagens usando tecnologias de síntese profunda – outro passatempo de Ma, que criava imagens pornográficas artificiais.
Keeping up with the Musks. Aparentemente, não há nada que a família Musk faça que possa alterar o amor que o público chinês tem por ela – ao contrário do que vem acontecendo em outras partes do mundo, contrariadas com a morte iminente do Twitter. Maye Musk, mãe do atual dono da plataforma de textos breves, acaba de firmar parceria com a chinesa Oppo para ser embaixadora do celular de última geração Find X6 Pro. Em peça publicitária ainda não lançada (mas já vazada), Maye faria referências aos filhos e às aventuras espaciais de Elon. A ex-modelo e especialista em dietas é celebridade no Xiaohongshu, onde é referência na área de beleza e lifestyle.
À medida que os resultados do último Gaokao começaram a ser divulgados no final de junho, vídeos com as reações de estudantes emocionados invadiram as redes sociais chinesas. Responsável pela definição da trajetória profissional de muitos jovens, o exame tem uma história fascinante, como conta Ginger Huang neste texto republicado recentemente pela Magloft – houve um tempo em que o estudante não podia escolher o que iria estudar na universidade. E para quem acompanha a saga de Liang Shi, o pai e empreendedor de 56 anos que fez a prova pela 27ª vez este ano, más notícias: ele não atingiu a nota mínima necessária para ingressar no ensino superior e está considerando não tentar novamente em 2024.
Sumiu: esta matéria longa do South China Morning Post conta sobre o Lianzhou Foto, um dos mais importantes eventos de fotografia da China – ou era, já que sofreu uma morte lenta que culmina com seu fim durante a pandemia. Confira alguns destaques da edição de 2019.
Cheirinho bão: este texto de Huang Wei na Sixth Tone conta a história de um dos cheiros mais famosos da China – a água de colônia Liushen e que acabou incorporada à medicina tradicional chinesa.
Literatura: a escritora e tradutora Tenzin Dickie disserta sobre o passado, o presente e o futuro de ensaios de autores tibetanos e as discussões de identidade que permeiam esses textos. Você pode ler o ensaio The Man Who Can Never Go Home, de Lhashamgyal e traduzido por Dickie.
Arquitetura: este fio de uma conta do twitter para divulgação da cultura islâmica compila lindas mesquitas com características chinesas. Mas como o Twitter exige problematização, é importante lembrar que nem toda mesquita na China é respeitada.
Feminismo: contornando a censura local, uma grande voz do feminismo na China hoje é a japonesa Chizuko Ueno, com 1 milhão de livros vendidos. A newsletter Reading the China Dream traduziu uma entrevista com Ueno, a co-autora de uma de suas obras Sayoko Shinoda e a sexóloga chinesa Li Yinhe. Vale aquele chazinho.
Cafezinho: depois que você ouvir o nosso podcast, confira as dicas deixadas pelo Lucas Leite. Anota aí – tem o livro recém lançado pelo Lucas, Império Hesitante (que inclui um capítulo sobre a China), as recomendações do Gay Nerd sobre cultura asiática, o canal sobre política externa Em Dupla com Consulta e o artigo da NPR sobre a visita de Blinken.
Achou que ia aprender sobre geopolítica com a Barbie? Achou certinho. Este vídeo da Reuters explica a razão do filme ter sido banido no Vietnã – medida que também está sendo considerada pelo governo das Filipinas. Como o filme ainda não foi lançado, é difícil saber com certeza como seria o mapa – mas o Twitter já tem sua aposta.