ALT TEXT: uma estátua de um leão na frente de um edifício de arquitetura chinesa e com caracteres chineses

Foto de Seele An via Unsplash

Edição 269 – Ausência de Xi em reunião do G20 gera rumores sobre sua liderança

Vacinas chinesas e gigantes de tecnologia na China

Xi está em baixa? A ausência de Xi Jinping na reunião da cúpula do G20, que deve ocorrer no fim de semana, levou analistas a especular sobre um possível enfraquecimento do líder chinês mais poderoso desde Mao Zedong. Estaria ele sendo questionado pela cúpula do Partido Comunista Chinês? De acordo com fontes anônimas mencionadas pelo Nikkei Asia, o clima do encontro anual da cúpula do PCCh em Beidaihe no começo de agosto não teria sido dos melhores, com antigas lideranças do partido criticando as atitudes recentes de Xi. O presidente chinês, por sua vez, teria se queixado a pessoas próximas sobre a situação enfrentada por ele. Desentendimentos entre Pequim e Nova Delhi (sede desta reunião do G20) também são apontados como possíveis causas para a substituição de Xi por Li Qiang no evento. O The New York Times destacou, na edição desta quarta (6), o quanto a necessidade de controle de Xi poderia estar afetando o crescimento econômico do país. Neste texto para a Foreign Policy, James Palmer traz mais contexto sobre o que pode estar rolando na segunda maior economia do globo e com seu principal líder. Ainda é muito cedo para qualquer tipo de conclusão. O pesquisador Neil Thomas fez um fio questionando a matéria da Nikkei, especialmente pelas incertezas sobre a política doméstica.

Avanço. A Corte de Apelação Final de Hong Kong concedeu nesta semana uma meia vitória para os ativistas pelos direitos LGBTQIAP+: foi julgado que a ausência de formas de reconhecimento de uniões entre pessoas do mesmo sexo, privando-as dos benefícios concedidos a pessoas casadas com o sexo oposto, é uma violação de direitos constitucionais. Por outro lado, a decisão reforçou que o casamento é uma instituição exclusiva para pessoas heterossexuais. O governo tem 2 anos para estabelecer alguma forma equivalente de reconhecimento dessas uniões, algo como a união civil estável do Brasil. Se isso acontecerá ou não, é outra luta: a retificação do nome de pessoas trans não operadas em documentos oficiais foi aprovada em fevereiro, mas ainda não é praticada. O caso desta semana foi levado à corte por  Jimmy Sham Tsz-kit, que desde 2018 busca o reconhecimento de seu casamento, realizado anos antes nos Estados Unidos. Jimmy está preso por outros ativismo políticos, parte do caso conhecido como “os 47 de Hong Kong”.

Sem alarde. O Partido Comunista da China criou um novo órgão para deliberar sobre ciência e tecnologia do país sem avisar ninguém. A existência da Comissão Central de Ciência e Tecnologia (CCCT) foi mencionada brevemente em um comunicado online do Ministério da Ciência e Tecnologia de julho, mas não se sabe quando o órgão foi criado, quem o compõe, nem quantas reuniões já ocorreram. O South China Morning Post conversou com analistas, que percebem na medida um sinal de maior preocupação com segurança e com a manutenção de segredos sobre o setor, especialmente num contexto de disputa com os EUA.

Noutro front, Pequim autorizou o lançamento para o público de dois grandes modelos de linguagem em inteligência artificial. A Baichuan Intelligent Technology e a Zhipu AI anunciaram na última quinta-feira (31) a anuência das autoridades governamentais para o uso de suas ferramentas pelo público.

China e Latam mais próximos? O noticiário sobre as relações entre o país asiático e a América Latina anda quente. A Reuters publicou uma reportagem sobre uma fala do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sobre investimentos de uma subsidiária chinesa na petroleira brasileira. O movimento está sendo visto como um novo momento na relação sino-brasileira após a gestão de Jair Bolsonaro. Nem só de Brasil é feita a América Latina, e a Americas Quarterly mostra as ações “silenciosas” de um membro do serviço exterior chinês para expandir a relação com o subcontinente. 

Novo mapa, velhos problemas. Para começar o mês com emoção, o Ministério dos Recursos Naturais da China divulgou um novo mapa nacional como parte da tentativa de lidar com oque eles chamaram de “mapas problemáticos”.  Acontece que nesse documento a China fez questão de atualizar e reivindicar a maior parte do Mar da China Meridional, onde a linha de nove traços (agora com dez) demarca o que considera a sua fronteira marítima. Como se não fosse suficiente, o novo território também se estende sobre a Ilha Bolshoy Ussuriysky, na fronteira com a Rússia, mesmo que os dois países tenham assinado um acordo em 2004 sobre sua divisão. A Índia também teve problemas com o novo mapa, onde ao longo da sua fronteira com a China inclui territórios em disputa, como Arunachal Pradesh, Planalto Doklam e Aksai Chin.  Outros países vizinhos, incluindo Malásia, Vietnã, Taiwan, Indonésia e Filipinas, também rejeitaram as reivindicações chinesas citando preocupações com a soberania e o direito do mar. 

Um Papa onipresente? No começo do mês de setembro, o Papa Francisco chegou na Mongólia para uma visita oficial de quatro dias, tornando-se o primeiro Papa a visitar o país. O pontífice fez questão de se encontrar com líderes do governo, da sociedade civil e com alguns dos católicos locais – que são poucos, em torno de 1500 pessoas. Ok, mas e a China nisso tudo? Sob a liderança do pontífice do Francisco, o Vaticano tem tentado dialogar mais com a China:  de fato, em sua missa em Ulan Bator, capital mongol, o Papa falou diretamente aos católicos chineses que viajaram à Mongólia para acompanhá-lo, contando com a presença do atual Bispo de Hong Kong Stephen Chow e do seu Bispo aposentado, Cardeal John Tong. 

De forma geral, a China reagiu bem à visita do líder religioso ao país vizinho. Além de ter autorizado o voo papal no espaço aéreo chinês, o Ministro das Relações Exteriores da China Wang Wenbin respondeu ao telegrama que o Papa enviou ao Xi Jinping durante sua passagem, mesmo que aérea, pelo país. No entanto, alguns fiéis chineses têm relatado receio em revelar o motivo de sua viagem ao voltarem à China temendo represálias das autoridades. Para entender a situação do catolicismo na China, vale ouvir o oitavo episódio do nosso podcast, em que Guilherme Campbell conversa com o pesquisador Felipe Alberto.

Um atalho para a prisão. Todo mundo busca um atalho para chegar mais rápido ao trabalho, mas a decisão de cortar o caminho custou muito caro para dois trabalhadores chineses na província de Shanxi, no Norte da China. Segundo autoridades locais, um homem de 55 anos e outro de 38 anos foram presos por terem destruído um trecho da Grande Muralha de forma “irreversível”. Eles teriam usado uma escavadeira para tornar o caminho mais rápido para a obra onde trabalhavam. O trecho afetado foi construído durante a Dinastia Ming (1368–1644), que constitui o clássico imaginário sobre a Grande Muralha, com tijolinhos acinzentados. Sobre as várias muralhas existentes na China, recomendamos o texto que nossa diretora Talita Fernandes publicou no TAB UOL. 

A objetificação de mulheres está longe de ser um problema encontrado apenas na China, mas o assunto tem dado o que falar na mídia social chinesa Bilibili com a trend “fácil de casar”, um estilo que valoriza roupas com ar de pureza, inocência e conservadorismo. Como mostra o South China Morning Post, a reação negativa a essa tendência é a moda “difícil de casar”  no caso, mulheres que não se atentam da mesma forma às expectativas masculinas e colocam seus desejos e objetivos em primeiro lugar. A mulher ideal também foi assunto durante o Miss Hong Kong 2023, em que inteligência artificial foi usada para ranquear a beleza das participantes e a apresentadora era artificial, reunindo características físicas das últimas vencedoras do prêmio. Os dois casos em que mulheres são reduzidas aos seus corpos podem ser entendidos como uma reação à crise demográfica chinesa. Dentre muitos fatores, como os altos custos financeiros de ter filhos, as mulheres chinesas estão se casando cada vez mais tarde e priorizando educação e carreira, como discute Luna Sun para o SCMP.

Quem são os “chefes” chineses na África? Nos últimos meses, a vida luxuosa de alguns expatriados chineses no continente africano ganhou destaque nas redes sociais da China. Conhecidas como “chefes, essas figuras rapidamente começaram a ter suas vidas amplamente comentadas, reforçando a discussão sobre os interesses chineses no continente. Nomeados principalmente em países como Nigéria e Gana, a existência dessas figuras é resultado de uma combinação de fatores, mas principalmente um reflexo do crescente envolvimento econômico chinês no continente ao longo da história. Este texto da Sixth Tone, no entanto, comenta que embora haja uma tendência a exagerar os poderes e influência desses chefes, a verdade é que eles têm funções bastante limitadas – e são poucos: apenas 24 chineses receberam o título entre 1986 e 2023.

reforma electoral en Hong Kong

O Cristo de Taiwan: para os fãs da iconoclastia católica chinesa, vale conhecer a Última Ceia de Taiwan.

Arte: a obra da artista chinesa Cao Fei chega ao Brasil na Pinacoteca Contemporânea em São Paulo. Ela mistura tecnologia, ficção científica e um certo onirismo em obras multimídia para falar sobre a China moderna, como a famosa Whose Utopia sobre trabalhadores de fábrica. 

O pai da bomba: não é só Oppenheimer, mas o engenheiro chinês Qian Xuesen, que é o tema de dois episódios do podcast Teacup China. Ele é considerado o pai do programa de foguetes e mísseis da China após ser deportado dos EUA. Já comentamos sobre ele no ano passado. 

Tristes despedidas: filhotes de pandas foram levados da Malásia para a China em cumprimento de acordo com o governo chinês (a tal diplomacia do panda) e não faltou gente lamentando as partidas dos ursinhos no país do sudeste asiático.

 

Irish coffee? Nada disso, a bebida pro feriadão dos observadores da China é o mou-tai latte, resultado da parceria entre a tradicional Kweichow Moutai e a Luckin Coffee. Ganbei!

%d blogueiros gostam disto: