Edição 219 – Pior seca em 60 anos gera insegurança, mas também memes
Crise energética segue em pauta. A China vive a pior seca em mais de seis décadas, como falamos na última edição. O Sixth Tone publicou uma série de imagens que mostram o estado de Sichuan de forma bastante clara e assustadora. Nas redes sociais, as elevadas temperaturas viraram meme, como este post que faz troça da situação de Chongqing, onde há a tríade testes de Covid, calor e falta de energia. Enquanto isso, mostra a Bloomberg, reabre-se a discussão sobre a busca por outras fontes de energia. Vale ainda ler este fio sobre o impacto desse cenário crítico na segurança alimentar, tema caro a Pequim. Como nada está desconectado, sobretudo quando falamos em China, a DW fala sobre as consequências que o cenário do país asiático pode ter em outros locais do mundo.
Adeus, gasolina. A ilha de Hainan, famosa pelas praias de águas de temperatura morna, voltou ao noticiário, mas desta vez não foi por um novo surto de Covid-19: o governo local proibiu a venda de automóveis a gasolina e a diesel. Com o anúncio, a província promete ser a primeira região do país a banir automóveis que tenham combustíveis fósseis como fonte de energia, no esforço chinês de reduzir as emissões de carbono.
Só se fala nisso? Na expectativa para o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, o site Macropolo publicou uma análise sobre o que se pode esperar do evento que deve apontar Xi Jinping para seu terceiro mandato como presidente. O China Media Project traz um interessante texto explicando o conceito de Two Establishes 两个确立, que apareceu pela primeira vez no 19º Congresso do PCCh, em 2018, mas cujo uso se intensificou desde o ano passado. Se você quiser rever, indicamos o material do South China Morning Post que recomendamos na semana passada.
Enquanto o importante evento não chega, muito vem se discutindo sobre a economia chinesa. Se for mesmo confirmado no cargo, o que Xi deve enfrentar daqui para frente? Tatiana Prazeres trouxe o debate sobre como o “colapsismo” contaminou as análises sobre a economia do gigante asiático. A propósito, para evitar os impactos da Covid-19 e outras dificuldades, o vice-presidente Li Keqiang anunciou novas medidas para ajudar a economia.
Não está sendo fácil para os trabalhadores de TI na China. A Xiaomi anunciou na sexta-feira (19) que, nos três meses anteriores, demitiu 900 pessoas, ou quase 3% de sua força de trabalho, como reportou o South China Morning Post. O período foi marcado por uma queda de 83,5% no lucro líquido da empresa, que ficou em 1,4 bilhão de renminbi (cerca de 1 bi de reais) — no mesmo período no ano anterior, o lucro tinha sido de 8,3 bilhões de renminbi (cerca de 6 bi de reais). Em declaração a analistas, o presidente da companhia explicou que os resultados negativos podem ser atribuídos aos impactos da Covid-19 no mercado chinês e à inflação global, além de um ambiente político “complexo” — a empresa vem tendo problemas na Índia, seu maior mercado fora da China.
Como comentamos na semana passada, no mesmo trimestre a Alibaba realizou 10 mil demissões. Reforçando o pessimismo, no começo da semana passada o fundador da Huawei circulou um memorando interno para funcionários pedindo foco na lucratividade da empresa para aguentar a recessão global dos próximos três anos.
E a relação com a China? A corrida eleitoral no Brasil está só começando, mas já podemos pensar como fica a relação Brasil-China a depender do resultado das urnas em outubro. Nossa editora sênior Talita Fernandes publicou um texto no Diálogo Chino ouvindo analistas sobre os possíveis cenários para a relação bilateral e os negócios caso Lula ou Bolsonaro saia vencedor no pleito. Uma vitória do candidato petista é vista como sinal de melhora nas conversas entre Brasília e Pequim. Já se Bolsonaro ganhar, as relações podem se manter mais frias. No que depender de Paulo Guedes, o clima não parece mesmo bom, o ministro fez uma declaração xenófoba contra os chineses na semana passada.
Estaria a China reabrindo? Na semana passada, embaixadas chinesas em alguns países anunciaram que estudantes com permissão de residência na China poderão voltar ao país após dois anos e meio de proibições. Antes da pandemia, em 2019, meio milhão de estrangeiros entraram no país com visto de estudante. Aguardamos o desdobrar da história.
A cooperação com países em desenvolvimento segue de vento em popa. Além do levantamento de tarifas de importação para bens produzidos em países menos desenvolvidos, a China anunciou em agosto o cancelamento da dívida de 17 países países africanos relativos a 23 empréstimos prestados por Pequim. Em análise publicada no Multipolarista, Benjamin Norton notou que esse perdão de dívidas enfraquece a acusação dos EUA de que a China estaria fazendo “armadilhas da dívida” (debt-trap) na África e dificulta a tentativa de Washington de afastar países africanos do gigante asiático. Falando de relações sino-africanas, Pequim também anunciou seu apoio à participação da União Africana nas reuniões do G20.
Após 80 dias de investigações, procuradores da província de Hebei anunciaram nesta segunda-feira (29) que 28 pessoas vão responder criminalmente por envolvimento em um ataque contra um grupo de mulheres na cidade de Tangshan. O caso mobilizou a opinião pública chinesa nas redes sociais em junho. O principal suspeito das agressões também deve responder a acusações de sequestro e formação de quadrilha, entre outros crimes. Além deles, oito oficiais de polícia foram acusados pelo corpo disciplinar do PCCh de terem abusado de seu poder, recebido propina e protegido os suspeitos do crime.
Vamos para o templo? Nos últimos anos, retiros espirituais tornaram-se populares entre millennials e a Geração Z. Por exemplo, o campo de meditação de Tayuan, que fica no topo de uma montanha em Guling, na província de Jiangxi, ficou tão popular que as inscrições, abertas ao público, foram fechadas em apenas 10 horas devido ao número de interessados (mais de 400 para apenas 50 vagas) em uma estadia de um fim de semana. O público principal: pessoas nascidas nos anos 1990 e 2000. Em vez de viajar em feriados ou nas férias, muitos jovens têm preferido ir relaxar em templos próximos de onde vivem. Os motivos do interesse são variados: curar dor de cotovelo, buscar tranquilidade antes ou depois da realização de provas ou tarefas profissionais, aprender a lidar com o sentimento de impotência diante da pandemia de Covid-19, entre outros. Em comum está a busca por mais cuidado com a saúde mental.
A loucura do bubble tea foi longe demais? Já falamos aqui sobre a popularidade dessa bebida que consiste de chá, leite e sagu na China, mas agora novos limites foram alcançados. A rede Chayan Yuese (ou Modern China Tea Shop), fundada em 2013 em Changsha, abriu sua primeira loja em Nanquim num evento que envolveu muitas filas, cambistas, polícia e denúncia de que ao menos parte da bagunça foi pura encenação. Na véspera da abertura, às 4h da manhã, uma fila de clientes começou a se formar em frente ao shopping. A loja abriu às 9h e em 30min esgotou seus suprimentos, sendo obrigada a fechar para novos pedidos. Mesmo assim, às 11h a polícia local, que já estava no local tentando controlar a multidão, postou um aviso pedindo para que pessoas evitassem a área. Enquanto isso ocorria, cambistas vendiam copos de bubble tea para interessados por 200 renminbi (cerca de 150 reais) cada. Foram vários os questionamentos online sobre a veracidade de tamanho frisson e, de fato, há fontes dizendo que a Chayan Yuese teria pago pessoas para ficarem na fila…
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Call me by my name: o SupChina conta como uma disputa política por um nome fez com que Taiwan desistisse de sediar um evento mundial sobre orgulho LGBTQIA+.
Acadêmico-militar: o colunista Chen Feng fez um balanço dos exercícios militares chineses no Estreito de Taiwan e os comparou com cenários levantados pelo CSIS sobre uma possível tentativa chinesa de reunificação à força. O Asia Times publicou uma tradução para o inglês.
Viagens no tempo com características chinesas: a Radii conta que obras chinesas que trazem viagens no tempo têm traços bastante peculiares que as distinguem das ocidentais, seja na literatura ou na tv. Em geral é a consciência e não o corpo que se move no tempo e a viagem geralmente é em uma direção só: o passado.
Karaokê e drama: esses são os interesses garantindo ao cantonês seu lugar no top 3 das línguas mais estudadas por chineses no Duolingo.
Gente: as fotografias do Museu das Pessoas Comuns em Wuhan, projeto de 杰西, vai mudar as imagens que vêm à cabeça de quem só ouviu falar na cidade em 2020.