Edição 187 – Economia chinesa expande em 2021, mas ritmo de crescimento cai
É ruim, mas é bom. A divulgação do resultado do PIB chinês para 2021 trouxe dados positivos e negativos. A boa notícia é que a segunda maior economia se expandiu a um ritmo acima do previsto: 8,1%, enquanto o governo havia estabelecido uma meta de 6%. Contudo, a análise mais cuidadosa dos números mostra que o ritmo do crescimento diminuiu no quarto trimestre de 2021, com alta de 4%, frente à expansão de 4,9% no mesmo período do ano anterior. Como mostra a CNN, a alta do PIB nos últimos três meses de 2021 se deveu à produção industrial, enquanto o consumo teve queda drástica, isso porque o país segue enfrentando dificuldades em meio à chegada de variantes do coronavírus em algumas de suas províncias. A expansão da economia chinesa em 2021 veio acompanhada de um superávit comercial recorde devido ao reaquecimento da economia mundial.
Ômicron chega a Pequim. A nova variante da Covid-19 segue gerando alerta no mundo todo e, uma semana depois de o primeiro caso ser confirmado em Tianjin, a ômicron foi registrada na capital Pequim. A forma como a notícia foi divulgada chamou atenção: segundo as autoridades locais, há suspeita de que o vírus tenha sido transmitido por meio de correspondência vinda do Canadá. Essa hipótese se deu diante do fato de que o paciente que teve resultado positivo não ter tido contato com outros casos e nem ter deixado Pequim nas últimas semanas. Na contramão, o governo canadense e especialistas afirmam que essa seria uma possibilidade bastante remota, como mostra o SCMP.
Seja lá como for, o cenário se soma à crise que o país já vinha enfrentando com a chegada da variante Delta a locais como Xi’an, em lockdown desde dezembro. Autoridades falam que a situação está sob controle na cidade, com o fim das transmissões locais, mas este texto do China Digital Times traz detalhes do que está acontecendo por lá, como o caso de uma mulher que se queixou de não ter acesso a absorventes menstruais.
O tal do metaverso entrou no planejamento das cidades. Uma série de cidades, como Wuhan, Hefei, Pequim, Hangzhou e Chengdu, e províncias, como Zhejiang, estudam como atrair talentos, desenvolver o setor de tech em torno disso e integrar tecnologias, como blockchain e NFTs, ao metaverso. Ao mesmo tempo, se mantêm atentas às regulações estatais. De fato, o próprio futuro das NFTs está bastante incerto, como explica essa análise da Caixin.
Dentre as cidades, Hebei e Wuhan se destacam pela base industrial — assim como Shanghai, cujo governo municipal inovou ao incluir o metaverso como uma das prioridades no seu plano quinquenal de desenvolvimento, divulgado em dezembro. O plano prevê o seu uso não apenas no âmbito de negócios e entretenimento, mas também de serviços públicos. A Quartz fez um levantamento sobre o envolvimento dos governos locais no tema.
Falando em planejamento no mundo digital, o Conselho de Estado chinês publicou na quinta passada (13) uma circular sobre o lançamento do plano de promoção de desenvolvimento da economia digital. O foco é em oito áreas (incluindo melhorar a digitalização de serviços públicos e o uso efetivo de dados) e mira em 2025, quando o setor deverá compor 10% do PIB. O plano está no escopo de atuação do 14º Plano Quinquenal (que saiu em março, como contamos aqui). Mas o governo municipal de Pequim parecia estar por dentro e queimou a largada, pois em agosto de 2021, durante uma conferência mundial sobre economia digital que ocorria na cidade, já divulgou uma série de planos para crescer no setor.
Enquanto estávamos em recesso, saiu o plano nacional de informatização. Também parte dos esforços do 14º Plano Quinquenal, ele deve guiar as políticas digitais do país nos próximos cinco anos. Por enquanto, o documento está disponível apenas em mandarim, mas dá para ver pelo release que é de valor estratégico, com frases afirmando que o avanço digital é essencial para um desenvolvimento de qualidade.
Ah, achou que a retrospectiva tinha acabado na semana passada? A gente também, mas o Lawfare lançou um apanhado grande focado nas regulações do setor de tecnologia (que começou o ano bem). E a pesquisadora Tatiana Prazeres escreveu sobre três tendências de tech na China para acompanhar em 2022.
Que comecem os jogos. Só se fala em Olimpíada (e Covid-19), a gente sabe. Mas faltando duas semanas para os Jogos de Inverno, trazemos algumas novidades. Esta reportagem da Quartz mostra que o yuan digital, sobre o qual falamos aqui com frequência, já estará disponível para a Olimpíada — mas apenas para residentes das cidades piloto, como Shenzhen, Shanghai, Pequim e arredores. Outra limitação também virou notícia: as autoridades pequinesas anunciaram a suspensão de vendas de ingressos para os jogos, que agora serão apenas para público convidado, para evitar novos focos de Covid. Outra novidade foi um anúncio de que o Grande Firewall será flexibilizado para atletas, conforme este texto do China Digital Times. Se você quiser uma leitura mais detalhada e sobre aspectos mais gerais da controvérsia do grande evento esportivo, recomendamos a análise de Nancy Qian para o Project Syndicate. Contudo, nem tudo são notícias sobre crises, críticas e problemas: o SCMP fez uma reportagem sobre a esquiadora Kai Owens, de origem chinesa, que foi adotada ainda bebê por uma família estadunidense, e sobre a volta dela ao país que deixou há quase duas décadas, agora por causa dos jogos.
Tudo indica que o presidente argentino Alberto Fernández viajará à China em fevereiro para assistir à abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. A viagem, entretanto, não é recreativa, mas está carregada de peso geopolítico. Para começar, os jogos estão sofrendo um boicote dos EUA e de alguns de seus aliados, e especula-se que a ida de Fernández poderia afetar negativamente as negociações da dívida com o FMI, no qual Washington tem considerável influência. Além disso, espera-se que nesta viagem ocorra a assinatura do acordo para incluir oficialmente a Argentina na Iniciativa Cinturão e Rota. Caso isso se confirme, o país será a maior economia latino-americana a fazer parte da iniciativa.
Nada novo no front. Na semana passada, China e Índia realizaram a 14ª rodada de conversas militares para resolver sua disputa fronteiriça. No comunicado conjunto dos comandantes militares que se reuniram, não houve grandes novidades, destacando-se apenas a intenção de continuar o diálogo para evitar escaladas nos conflitos. Em 2020 e 2021, além de trocas de socos que resultaram em mortes, foram grandes as mobilizações militares de ambos os países para a região de fronteira, como relatou o Asia Times. O The Diplomat publicou um texto da analista Rajeswari Rajagopalan que analisa os movimentos geopolíticos mais recentes de ambos os países em torno de suas reivindicações territoriais conflitantes. Não deixe de conferir também uma matéria do SCMP que relaciona as mudanças climáticas, especialmente o derretimento de geleiras do Himalaia, ao aumento de tensões entre Pequim e Nova Delhi.
O contra-007. A agência de inteligência britânica MI5 lançou um aviso de atenção sobre um agente chinês atuando no Parlamento britânico em nome do PCCh. O anúncio alerta membros do parlamento a tomarem cuidado com interferências na política britânica. A pessoa acusada é Christine Lee, diretora de uma firma de advocacia que há anos atua pela integração entre China e Reino Unido. A resposta de Pequim foi sarcástica, com direito a meme.
O ministro das relações exteriores chinês fez seus famosos discursos de fim de ano. Como mostra o Panda Paw Dragon Claw, ele refletiu sobre a atuação da China no exterior em 2021, com destaque para a relação com a Rússia e as tensões (e oposição) com os EUA. Wang também falou sobre a Iniciativa Global de Desenvolvimento (que já apareceu aqui).
Errata: Na edição passada, definimos “revolução colorida” como um “termo usado por países como a China e a Rússia para designar levantes estimulados pelos Estados Unidos e outros países ocidentais para provocar mudanças de regime político”. Uma definição mais precisa seria: termo usado para designar protestos em larga escala (normalmente em países que eram soviéticos) que levam a mudança de regime para governos alinhados com os EUA/Ocidente.
Lava Jato em horário nobre. Em mais um capítulo da campanha de combate à corrupção do governo Xi Jinping, a televisão estatal chinesa lançou no último sábado (15) uma série de cinco episódios, intitulada Tolerância Zero (零容忍), sobre a temática. Um dos personagens do primeiro episódio é Sun Lijun, que já foi o mais jovem vice-ministro da Segurança Pública, sentenciado ano passado por corrupção, como falamos aqui. O trailer lançado dias antes da estreia, segundo a Caixin, mostra uma imagem de Sun falando para a câmera que jamais esperava se tornar o “destruidor da construção do Estado de Direito e da Justiça”. Para acompanhar melhor a história da série, recomendamos a leitura desta edição da Pekingnology, que traz um detalhamento sobre os personagens retratados nos episódios. Essa não é a primeira iniciativa audiovisual na China que tem foco no combate à corrupção, lembramos aqui esta matéria de 2017 que fala da In The Name of the People.
Imprimir dinheiro para gerar bebês: esse é o resumo da solução oferecida em um artigo publicado na última segunda-feira (10) por Ren Zeping, um influente economista chinês. Conforme relatou o The Wall Street Journal, o texto (que já está fora do ar) propunha a impressão de 2 trilhões de yuans (R$ 1,74 trilhões) pelo banco central chinês para a criação de um fundo para programas de estímulo à natalidade. Pelos cálculos de Ren, isso contribuiria para o nascimento de 50 milhões de bebês adicionais na próxima década. Ele também sugeriu o fim do controle de natalidade e maior acesso de mulheres solteiras a serviços públicos para seus filhos — embora considere essas medidas de menor impacto. Segundo reportagem da SupChina, a proposta dividiu opiniões entre os netizens — mas a reação do governo chinês não foi ambígua: dois dias depois da publicação, a conta de Ren no Weibo foi banida por “violar leis e regulações vigentes”. Segundo um relatório do jornal 21st Century Business Herald citado pelo SCMP, o tom de urgência de Ren e o caráter público de sua manifestação pegaram muito mal.
Sabe a Elsevier, a plataforma de pesquisa acadêmica? Agora imagina sua semelhante na China: essa é a China National Knowledge Infrastructure, popularmente conhecida como CNKI, que perdeu recentemente um processo legal de US$ 110 mil (mais de R$ 608 mil) contra um professor aposentado por violações de direitos autorais. O protagonista da história foi Zhao Dexin, um historiador de uma universidade de Wuhan, que descobriu em 2019 que mais de 100 artigos acadêmicos escritos por ele estavam no diretório da CNKI sem seu consentimento. Quem está mais familiarizado com a academia chinesa sabe que a CNKI cobra por downloads de artigos (com uma boa margem de lucro) e é muito importante para mensurar impacto das publicações, tanto que não estar na CNKI pode afetar negativamente a carreira acadêmica de pesquisadores. Entenda mais sobre essa história com a reportagem de Chen Canjie para o Sixth Tone com um bom cafezinho do lado.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Vai um indie aí? Nada melhor do que começar o ano com novas recomendações musicais, não é mesmo? Curta o som da The Tic Tac, também disponível no Spotify.
É campeão! O Shandong Taishan conquistou a Superliga Chinesa e a Copa da China, com participação decisiva do brasileiro Jadson. Aproveitando o final da temporada, o SupChina publicou uma análise sobre o futuro do cambaleante futebol chinês.
Menstruação: o texto de Beatrice Tamagno para o Chinauts discute como é ser uma pessoa que menstrua na China, a vergonha e o tabu em torno do tema.
Video games: o SCMP fez uma lista de jogos que se passam em Hong Kong — bons pra matar aquela vontade de viajar ou de ser um gato passeando pela cidade murada de Kowloon do futuro.
Arte: imagine O Senhor dos Anéis, mas na China Antiga. A ilustradora Leia Ham fez isso e compartilhou seus desenhos no Twitter.
Desbancadas: o fim das bancas de jornais na China é o tema dessa matéria da Sixth Tone, que discute seu papel social e traz belas fotos dessa tradição que também padece no Brasil.
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